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CULTURA

Paulinho Lima: “A maioria dos artistas não tem o mínimo de senso do ridículo”

Por Ronaldo Jacobina

04/01/2017 - 8:40 h
Paulinho Lima lança o livro Anjo do Bem, Gênio do Mal
Paulinho Lima lança o livro Anjo do Bem, Gênio do Mal -

Ainda menino em Itabuna, Paulinho Lima sonhava com o mundo artístico. Na adolescência mudou para Salvador e foi aluno especial da recém-criada Escola de Teatro da Ufba e protegido de Martim Gonçalves, criador da escola. Conviveu com a vanguarda do teatro baiano e flertou com o Cinema Novo ao lado de Glauber Rocha.

Desencantado com o universo teatral baiano partiu para o Rio de Janeiro onde morou com artistas como Ítalo Rossi e Sérgio Brito, dois monstros sagrados do teatro e televisão. Cansado deste universo, migrou para a música onde compôs, ao lado de Nico Rezende, a canção Perigo, que estourou na voz de Zizi Possi.

Produziu discos clássicos como Gal Fatal e lançou nomes da cena musical dos anos 1980. Sem papas na língua, Paulinho que completou 73 anos, lança sexta-feira, 6, às 17h, na Casa Petúnia Pousada e Boutique, na Barra, o livro Anjo do Bem, Gênio do Mal, onde conta sua vivência no mundo artístico. E, claro, não poupa ninguém.

Como você conseguiu reunir na sua memória tantas histórias? Fazia anotações ao longo do tempo ou quando decidiu escrever o livro tudo que estava guardado na sua memória foi vindo?

Olha, são quase 60 anos nesse meio. Com 15 anos estava na Escola de Teatro. Quando comprei o primeiro computador, nos anos 80, comecei a fazer anotações e assim fui guardando nomes, fatos. Adoro ler memórias e isso contribuiu para escrever as minhas.

Você participou do começo da Escola de Teatro tendo desenvolvido uma relação próxima com Martim Gonçalves que ficou comprometida depois da chegada de João Augusto. João foi um vilão?

João Augusto é uma persona a ser estudada. Foi muito importante na minha formação e de muitos jovens artistas que estudaram ou compartilharam de sua vida. Com Martim Gonçalves foi cruel, pois foi o responsável por sua vinda à Bahia. O João foi um personagem digno de Shakespeare, uma espécie de Yago tropical. Em relação a Martim foi totalmente vilão.

Você participou da trajetória de Glauber Rocha, tendo inclusive participado de seus filmes. Pelo que você descreve, Glauber era homofóbico?

Totalmente. Glauber e a grande maioria do chamado Cinema Novo. Isso permanece ainda nos dias de hoje. Qual o galã da Globo, ou Record que declara claramente sua opção homossexual e continua trabalhando?

Falando nesse tempo, você abre o armário e tira de lá diversos nomes, alguns galãs e a maioria já falecidos. Não teve ou receia ter problemas com os familiares destes por ter trazido à luz segredos que talvez nunca quisessem ter visto revelados?

Não é meu papel tirar ninguém do armário. Os que você acha que revelei, os mortos, com certeza já tinham assumido a sua sexualidade publicamente. Os vivos, fiz questão de consultá-los a respeito e como são afinados com a modernidade foram favoráveis. Os que estão no armário, achando que estão escondidos, deixei-os todos lá e você e todo o Brasil bem os conhece. Os tempos mudaram e isso só é problema para religiosos e imbecis.

Com a relação a homossexualismo, você expõe amigos, mas se resguarda. Por que?

Não me resguardei nada. Minha vida amorosa foi muito modesta e dei mais importância a outras coisas. Tinha coisas mais interessantes a contar.

Sua relação com algumas estrelas, como Cacilda Becker e Walmor Chagas, era de amor e ódio. Por que?

Cacilda e Walmor eram pessoas que faziam qualquer coisa para chegar onde queriam. Comigo foram cruéis, fui usado por eles por ser ingênuo e provinciano. Terminaram muito mal, ele suicidando-se e ela ainda nova, em cena, de derrame cerebral. Há muita gente ruim no meio artístico. Gente realmente do mal.

Quando você decidiu trocar o teatro pela música, sua vida prosperou. Acredita que o teatro continua como antes?

Teatro é coisa para rico, ainda mais no Brasil. Poucas pessoas no Brasil podem dizer que vivem de teatro. A televisão melhorou a situação dos atores em geral mas para quem vive só de teatro é uma vida de sacrifícios. Quando se é jovem tudo bem, mas depois...

Como lidar com os egos?

Deixando-os pensar serem maiores do que são. A maioria dos artistas não tem o mínimo senso do ridículo, se tivessem não se expunham tanto. Basta prestar atenção nos jurados do The Voice. Tem gente mais pretensiosa e ridícula?

Por que trocou os palcos pelos bastidores?

Sempre deixei a vida me levar. Sou feliz quando tenho trabalho e não dependo de ninguém para me sustentar. Não tenho arrependimentos.

Você esteve com Caetano e Gil em Londres durante o exílio e diz que Caetano vivia deprimido. E Gil como era?

O Gil sempre foi mais descolado e realmente envolvido com seu lado músico, se ocupando muito disso. Tem tanto tempo que não convivo com essa turma que nem sei o que te responder. Não me lembro de ver Gil deprimido nunca.

Você morou e trabalhou com Gal Costa. São amigos hoje?

Não vejo Gal há mais de 10 anos. Poderíamos até ser amigos, mas para isso é preciso empenho das partes. Os poucos amigos que tenho me procuram, me festejam e querem a minha companhia. Se não existe isso não tem amizade.

Como vê a música hoje?

Um momento terrível, de pouca criatividade. A música anda muito pobre e servindo muito pouco como elemento cultural. A linguagem poética tem sido rasteira e vulgar. Os bárbaros tomaram as rédeas e são festejados pelos conservadores.

Qual a avaliação que você faz da sua história?

Nunca me preocupei com isso. Tudo que faço é espontâneo e vai continuar assim. No momento a minha sensação é de já ter feito coisas demais.

Continua na música?

Vivo no Rio de Janeiro e estou me dedicando a vender meu livro, que lancei por minha firma e investi R$ 55 mil para fazê-lo como queria. Tudo tem seu preço e por isso no momento estou tentando locais alternativos para vendê-lo pois acho absurdo as livrarias tradicionais ficar com 50% do preço de venda e ainda em consignação! Já consegui adesão de algumas livrarias em condições melhores e tenho vendido pelo correio através do site www.luzdacidade.com.br. O preço do frete para todo Brasil é de R$ 9 reais. Assim, quem quiser o livro faz um depósito bancário e recebe o livro em casa.

E sua relação com Itabuna ?

Minha decepção com o sul da Bahia, Itabuna, é imensa. Administrações populistas destruíram a região cacaueira. Não conheço mais ninguém e acho que não querem me conhecer. Tentei ter uma casa em Olivença, mas foi um transtorno. Em volta só encontrei violência e ignorância. Como diria Gregório de Matos, “Triste Bahia!”

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