CULTURA
Pedra Furada é deleite para todos os sentidos
Por Chico Castro Jr., do A Tarde
Salvador reserva mais surpresas escondidas do que supõem as agências de turismo. Uma de suas mais preciosas jóias é a Pedra Furada, antigo nome da Rua Rio Negro, uma ladeira íngreme da Cidade Baixa onde convivem diversas residências e um punhado de bares e restaurantes.
Redutos de alguns poucos e bem-informados boêmios, além dos amistosos locais, é nesses bares e restaurantes de lá, e somente de lá, que é servido o mais saboroso dos crustáceos encontrado na Baía de Todos os Santos: o siri-bóia.
Tira-gosto obrigatório tanto para quem conhece, quanto para neófitos, o bichinho é típico da região e cai bem pacas com a boa e velha cervejinha gelada. E como baiano não é bobo nem nada, basta a tarde cair na sexta-feira para os bares da rua começarem a receber os freqüentadores, ansiosos para relaxar da semana de trabalho, apreciando a vista deslumbrante da Baía de Todos os Santos.
Logo no início da ladeira, fica o Bar Panorâmico, cujo nome já entrega sua posição privilegiada. Desce um pouquinho e logo se encontra o Recanto da Lua Cheia, maior e mais bem estruturado restaurante da área. Mais adiante, fica o Pietro‘s, onde se come uma ótima pititinga.
No pé da ladeira, já à beira-mar, ficam os tradicionais Bar & Restaurante da Marrom, o Big Muqueca e mais um ou dois botecos sem nome, mas igualmente simpáticos.
TRANQUILIDADE – O cardápio, com pequenas variações, é basicamente o mesmo em todos os lugares. O negócio é ir e descobrir por si mesmo com qual o freguês se identifica mais.
“Vem gente da cidade toda para cá”, garante Virgília Resch, proprietária do Recanto da Lua Cheia. “Na noite de sexta, começa a encher a partir das 9h30, 10 horas. O pessoal vem ouvir a música ao vivo, comer um siri ou mesmo jantar e tomar uma cervejinha“, conta.
Paradoxalmente, o momento mais badalado por lá não é nas noites de sexta ou sábado. É no almoço de domingo. Júlio César Caetano Gomes, dentista e morador de Mont Serrat, gosta do ambiente tranqüilo e diz que voltou a freqüentar a área com a lei seca. “É, de noite aqui o ambiente é mais familiar, tranqüilo, mesmo. Mas no domingo rola uma paquera“, comenta.
“Vem gente da cidade toda para cá no domingo, a gente tem que distribuir senha pro pessoal esperar um pouco. Tinha um cliente de Lauro de Freitas que chegava às 10 da manhã, quando abrimos, e só ia embora lá pras 7 da noite. Depois da lei seca isso caiu um pouco, claro“, observa Virgília.
Em outra mesa, o administrador de empresas Danilo Pepe aproveitava uma casquinha de siri com familiares. “Tô aqui todo fim de semana, seja com os amigos ou a família”, garante. “A vista, o sossego, a boa comida, a música, é tudo muito bom“, completa Daniela Bittencourt, sua esposa.
Quem também não perde uma sexta-feira no Recanto é a cantora Carol Renout, que costuma dar uma animada canja com os músicos da casa. Tão animada, que às vezes Virgília tem até que regular a moça. “É, eu boto o pessoal pra dançar um pouquinho. Sempre que eu canto uma Ivetezinha, o pessoal se anima“, revela, sorrindo.
À DORÉ – Mas o xodó da proprietária, no momento, é mesmo o siri- mole à doré (R$ 22), prato que ela inscreveu no Festival Comida Di Buteco, que elege todos os anos os melhores tira-gostos em várias cidades do País.
“É um prato difícil de fazer, por que tem que esperar o período em que o siri está trocando de casca – quando ele está mole, mesmo. E tem que esperar a maré também. Mas isso é coisa de pescador, eu não sei explicar direito“, ri, simpática.
Tanta dificuldade, porém, compensa. Aliado ao sabor suave do siri, a casquinha empanada quase derrete na boca. E se pingar um limãozinho por cima, o sabor fica ainda mais realçado. Um deleite.
Já para matar a fome de leão, uma rápida pesquisa entre os clientes do lugar elegeu uma vencedora unânime: a moqueca de camarão. É o prato mais pedido do disputado almoço de domingo.
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