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02/11/2024 às 2:00 | Autor: Israel Risan*

ECOS DE GERAÇÕES

Questões geracionais são abordadas em peça na capital baiana

‘Minha mãe e eu, e a mãe da minha mãe’ ainda trata do envelhecimento

‘Minha mãe e eu, e a mãe da minha mãe’
‘Minha mãe e eu, e a mãe da minha mãe’ -

O ator e diretor baiano Fábio Vidal estreia hoje (2) o espetáculo Minha mãe e eu, e a mãe da minha mãe, com narrativa que aborda o envelhecimento e as relações familiares sob uma perspectiva que valoriza os idosos e seus papéis sociais. A peça traz ao palco sua mãe, Rosvanda Melo, que faz sua primeira aparição como atriz e, ao lado de Fábio, percorre histórias de três gerações de mulheres de sua família, incluindo memórias da avó e da bisavó do ator. A apresentação começa às 19h, na Casa Rosa, no Rio Vermelho.

O enredo da peça se desenvolve a partir das histórias de Agostinha, avó de Fábio Vidal, falecida aos 80 anos, vítima de Alzheimer, e de Pureza, bisavó do ator. Entrelaçando vivências e memórias, a montagem destaca as experiências e lutas de mulheres nordestinas em um recorte que ultrapassa cem anos. Ao transitar entre o passado e o presente dessas gerações, a montagem levanta questões sobre o envelhecimento e sobre a necessidade de um olhar mais cuidadoso para a terceira idade.

“Vivemos em um tempo em que a juventude é hipervalorizada e o envelhecimento é evitado. Quando se avança na idade, existe uma tendência social que repercute na própria pessoa, de se colocar no canto, de tornar-se obsoleta. Em Minha mãe e eu, e a mãe da minha mãe, realizamos um movimento oposto: geramos protagonismo, centralidade e foco a uma octogenária, que transita na cena por muitas linguagens artísticas, que abarcam a música, a dança e o artesanato”, introduz Fábio, que assina a direção e autoria da peça.

O espetáculo é inspirado por experiências pessoais do ator, que utiliza memórias familiares e as transforma em uma narrativa autobiográfica.

Ele comenta que, ao trazer sua mãe para o espetáculo, encontra um novo meio de reconexão familiar.

Para ele, o espetáculo é uma forma de homenagear essas mulheres e suas histórias, destacando o valor da memória e da escuta.

Essa é a primeira vez que Rosvanda sobe ao palco, um desejo já antigo de seu filho. “Ela é uma mulher muito expressiva, uma contadora de histórias por natureza. Há dois anos atrás, com o falecimento de meu pai, voltei a morar e conviver com ela. Quis tornar esse convívio mais especial, gerando uma escuta mais intensa de suas histórias, aí propus à ela um envolvimento maior com a arte, dela ser protagonista de suas histórias”, conta Fábio.

E para sua mãe, essa é uma experiência antes inimaginável. “Estou aproveitando muito essa oportunidade. É única, e sou extremamente grata por ter recebido esse presente – e ainda mais especial por ter vindo do meu filho. Nunca pensei que, a essa altura da minha vida, viveria algo assim. É uma lembrança que vou carregar comigo. Fiz diversas atividades no teatro durante esse período, o que tem sido uma experiência muito enriquecedora”, considera Rosvanda.

O processo criativo da montagem teve início em maio deste ano e contou com a participação da comunidade baiana por meio de oficinas formativas. A realização dessas atividades trouxe novas camadas ao espetáculo, conectando o público à obra desde o início. As oficinas abordaram temas como autobiografia cênica e canto coral, incluindo a participação de Rosvanda Melo. A partir dessas vivências, o espetáculo incorpora expressões artísticas como contação de histórias, bordado e culinária, compondo uma narrativa que envolve o público de forma sensorial e visual.

Minha mãe e eu, e a mãe da minha mãe propõe uma reflexão sobre as formas de tratamento com a terceira idade, um tema que, segundo Fábio Vidal, precisa ser reavaliado em uma sociedade que valoriza a juventude. O ator defende que o envelhecimento deveria ser mais respeitado e acolhido, e que o espetáculo é uma tentativa de levantar essa discussão, a partir de uma experiência pessoal. A narrativa aborda o etarismo, promovendo uma crítica sutil sobre as pressões enfrentadas pelos idosos no Brasil e sobre a importância do cuidado como expressão de amor.

A estreia do espetáculo marca o início de uma temporada que vai até o final de novembro, com ingressos disponíveis para compra online. As apresentações ocorrerão, além da Casa Rosa, no Centro Cultural SESI Casa Branca e no Espaço Cultural Alagados.

A expectativa é que a montagem se destaque por seu caráter íntimo e por abordar temas universais como a memória, o cuidado e o respeito aos mais velhos. Com apresentações que trazem ao palco as vozes de mulheres que atravessaram décadas e testemunharam profundas transformações no Brasil, Minha mãe e eu, e a mãe da minha mãe representa um convite ao público para refletir sobre a importância do legado e da valorização dos idosos.

“Para os mais jovens, eu gostaria de pedir que tenham paciência com os idosos, pois eles são raros e preciosos. Quem ainda tem um idoso por perto é muito sortudo. E para os idosos, digo que aproveitem suas vidas e a alegria de viver, que é o que realmente nos move”, aconselha Rosvanda.

Ampliando o público

As apresentações do espetáculo contarão com recursos de acessibilidade, como audiodescrição e interpretação em Libras, para ampliar o alcance da obra e garantir que o conteúdo seja acessível para pessoas com deficiência visual e auditiva. Além disso, sessões de mediação cultural serão oferecidas gratuitamente para grupos de idosos, instituições socioculturais e estudantes da rede pública de ensino.

A iniciativa busca democratizar o acesso ao teatro e engajar o público com as questões abordadas na peça.

A montagem conta com uma equipe de artistas e profissionais da cena cultural baiana. A dramaturgia é orientada por Meran Vargens, enquanto Kaíka Alves e Caw Bomfim colaboram como assistentes de direção.

O figurino, assinado por Rino Carvalho e Lucimaureen Agra, foi pensado para reforçar a identidade das personagens e evocar o universo nordestino, ao passo que a trilha sonora e preparação vocal, a cargo de Sandra Simões, e a cenografia de Luis Parras, complementam a narrativa e criam o ambiente cênico do espetáculo.

A montagem também incorpora vídeos produzidos pela Voo Audiovisual, utilizados para enriquecer a cenografia e trazer ao palco uma camada visual que dialoga com as histórias contadas.

A direção de produção é da Multi Planejamento Cultural, que coordena a circulação do espetáculo por outros espaços culturais em Salvador durante o mês de novembro.

“Minha mãe e eu, e a mãe da minha mãe” / Hoje e amanhã e dias 09 e 10, 19h / Casa Rosa (Praça Colombo, 106, Rio Vermelho) / Dias 13 e 14, 19h / Centro Cultural SESI Casa Branca (Av. Caminho de Areia, 1454 - Caminho de Areia) / Dias 23 e 24, 17h / Espaço Cultural Alagados (Rua Direta do Uruguai s/n - Fim de Linha Uruguai) / R$ 20 e R$ 10, R$ 10 e R$ 5 (Alagados) / Vendas: Sympla

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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Tags:

envelhecimento peça Questões geracionais rio vermelho Salvador

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