SAMBISTA BAIANO
Riachão ganha festa de aniversário e disco póstumo com músicas inéditas
Aniversário de Riachão ainda terá participações especiais
Por Eugênio Afonso
Riachão (1921-2020), com muita sabedoria, já avisava: ‘cada macaco no seu galho’. E o dele é no topo dos grandes da música popular brasileira, ao lado de Ederaldo Gentil, Batatinha, Moraes Moreira, Assis Valente, Dorival Caymmi e Raul Seixas, só para citar alguns baianos que devem estar, neste momento, em confraria com ele em algum palco animado e musical do universo.
E para celebrar o aniversário de 103 anos do mais longevo sambista baiano – nascido a 14 de novembro –, acontece, amanhã, às 19h, na Cantina da Lua (Pelourinho), uma roda de samba com músicos da Bahia e aberta ao público.
Quem estiver presente vai poder testemunhar, em primeira mão, uma audição do álbum Onde eu cheguei, está chegado – projeto da Natura Musical trazendo músicas inéditas de Riachão –, já que o disco só estará disponível para os ouvintes nas principais plataformas virtuais de música, no Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro.
Quatro anos após sua morte, a Natura Musical decidiu homenagear o sambista baiano e lançar um disco póstumo com dez faixas cantadas pelo próprio Riachão e por outros artistas brasileiros, como Roberto Mendes, Juliana Ribeiro, Enio Bernardes, Pedro Miranda, Nega Duda e outros nomes de peso da MPB que, por enquanto, ainda estão guardados a sete chaves por questões contratuais.
“Infelizmente, ainda não podemos divulgar os outros nomes”, lamenta Joana Giron, coordenadora de produção do projeto. “Acredito que o patrocínio da Natura ao projeto de Riachão é resultado dessa consonância da proposta de lançar um novo álbum do sambista, junto com um site sobre a vida e obra do artista, com as diretrizes da plataforma da Natura Musical”, acrescenta Giron.
Na verdade, antes de morrer, aos 98 anos de idade, no dia 30 de março de 2020, Riachão já estava em produção de um novo disco de inéditas, que se chamaria Se Deus Quiser Eu Vou Chegar aos 100, resultado de um edital da própria Natura. Como o cantor e compositor não conseguiu finalizar o álbum, a empresa de cosméticos levou o projeto adiante e, agora, está prestando este tributo mais do que justo.
Com produção musical de Paulo Timor e Caê Rolfsen, as músicas surgem com vozes gravadas por Riachão – nunca antes utilizadas –, inclusive com participações de outros artistas e também do seu neto Taian.
Salve o mestre
Roberto Mendes conta que quando foi convidado para participar do projeto nem sabia qual seria sua canção. “Eu toquei um xaréu. Riachão escreve de uma maneira que a música já está embutida na letra. É impressionante. Dei muita sorte de ser convidado e de ter participado”.
Para ele, Riachão é o samba antes do samba. “Ele é aquilo que antecede o samba brasileiro pela maneira de compor, o jeito jocoso, aquela coisa malandra no bom sentido. Ele é brilhante e eu o adoro”.
Ainda segundo Mendes, estes projetos culturais sempre chegam atrasados na vida do artista e na alma do povo brasileiro. Mas ele ressalta, “antes tarde do que nunca. É bom que chegou. Viva a Natura. Mesmo chegando atrasado, vale a pena”.
Já Juliana Ribeiro garante que este CD é a prova de que Riachão é um grande ícone nacional, um clássico imortal que continua vivo em sua obra. No disco, a sambista divide os vocais com Enio Bernardes na música Morro do Garcia.
“Esta é uma canção que tem o arranjo luxuoso do maestro Fred Dantas. E é mais uma das crônicas de Riachão sobre o cotidiano. A gente precisa realmente parabenizar a iniciativa de Paulinho Timor de manter viva a obra de Riachão. Salve o grande mestre”, enfatiza a cantora.
Memória resgatada
Em dezembro, junto com o disco, entra no ar um site com um amplo acervo de fotografias, reportagens, discos, fonogramas e documentos audiovisuais que apresentam vida e obra do sambista baiano por mais de seis décadas.
Para completar, serão disponibilizados três mini documentários sobre o processo de realização deste projeto.
Nascido em Salvador, Riachão foi o mais longevo sambista da Bahia e parceiro de irmãos da música, como Batatinha e Edil Pacheco. São mais de 500 composições de samba autêntico e de tradição oral, algumas delas interpretadas por artistas de renome, como Tom Zé, Jackson do Pandeiro, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Cássia Eller, Zélia Duncan e tantos outros.
Onde eu cheguei, está chegado tem patrocínio da Natura Musical e do Governo da Bahia, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.
Pré-lançamento disco de Riachão com roda de samba / Amanhã (14), 19h / Cantina da Lua (Pelourinho) / gratuito
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