SISTEMA NOS TRINQUES
Russo Passapusso abre espaço na agenda e fala sobre ‘Furdunço’
Passapusso está concentração para navegar com o Navio Pirata pelo ‘Furdunço’
Por Grazy Kaimbé*

Imaginar uma das maiores festas de pré-carnaval, como o Furdunço em Salvador, sem o BaianaSystem é praticamente impossível. A banda já se firmou como uma das atrações mais marcantes da folia da capital baiana. Neste domingo (23), o grupo inicia um novo ciclo com o tema "Balacobaco - O Mundo Dá Voltas", que guiará a apresentação do icônico trio Navio Pirata no circuito Orlando Tapajós.
Para este momento, a regra é clara para os foliões: coloque um tênis confortável, hidrate-se e prepare-se, porque a energia será intensa. O vocalista da banda não estará sozinho – muito pelo contrário. Ele será acompanhado por um time de peso, com artistas como BNegão, Larissa Luz, Dino D’Santiago, Alice Carvalho, Vandal e a Banda Olodum.
Em entrevista ao jornal A TARDE, o cantor e compositor Russo Passapusso destacou a importância do Furdunço, tanto para o grupo quanto para a música brasileira. “O Furdunço é um grande laboratório musical e cultural. Observar como as pessoas interagem nesse evento nos ajuda a entender a temperatura cultural do momento. É como um mergulho inicial no carnaval, onde percebemos o que está ressoando no público", afirmou.
Com o álbum O Mundo dá Voltas recém-lançado, a banda dividirá, pela primeira vez, no Furdunço, o trio com o Olodum. “A grande novidade é que teremos o Olodum conosco no Furdunço! Vai ser um momento especial trazer o samba reggae original para o nosso trio. O Baiana é filho direto desse ritmo, misturando influências de rock, hip-hop e manguebeat, mas sempre com essa base. Trazê-los para o trio no Furdunço é uma forma de reverenciar essa história e fortalecer ainda mais essa identidade sonora”, destaca Russo.
Com essa participação mais do que especial, os foliões poderão vivenciar o projeto OlodumBaiana, parceria entre a banda e o Olodum que estreou em 2023. “Mesmo que o Navio Pirata não tenha a grandiosidade de uma grande fusão, sempre encontramos uma forma de reunir essa energia no trio. Um dos momentos mais especiais será trazer um pouco do que fizemos com OlodumBaiana, que representa uma fusão poderosa', destaca.
Mantendo a tradição dos últimos anos, a BaianaSystem batizou seu show no Furdunço de 2025 com o nome de seu álbum recém-lançado. No ano passado, o grupo trouxe o tema "Batukerê: Toda Fé, Toda Paz", inspirado na faixa Batukerê, que abre o álbum O Mundo Dá Voltas. Agora, a proposta evolui para "Balacobaco", figura que simboliza a energia de colocar o bloco na rua e a ancestralidade das manifestações populares.
“Este ano, estamos chegando com ‘Balacobaco e O Mundo Dá Voltas', que é o tema do nosso novo álbum, abrindo o Furdunço com essa energia. O álbum traz uma mensagem importante: a necessidade de respeitar o território, o momento e as pessoas ao nosso redor. Afinal, tudo retorna – se não para nós, para as próximas gerações. Por isso, precisamos construir um mundo melhor para o futuro" pondera Passapusso.
Novo álbum
Quinto álbum do Baiana, O Mundo Dá Voltas saiu em 16 de janeiro último, lançado pelo selo da banda, o Máquina de Louco. O trabalho traz uma nova abordagem sonora para o grupo, com músicas de andamento mais cadenciado, mas sem perder a intensidade que marca sua identidade.
Tendo Salvador como referência central, a BaianaSystem expande sua sonoridade e percorre territórios das Américas africana, lusa e caribenha. O Mundo Dá Voltas foi criado ao longo de três anos, com produção de Daniel Ganjaman e direção artística de Passapusso. O álbum se ancora em reflexões sociais, abordando a vivência de negros e indígenas no Brasil.
Esse olhar crítico se manifesta em músicas como Porta-retrato da família brasileira, cuja letra menciona o conceito de ‘Améfrica Ladina’, traçando um retrato das lutas diárias desses povos na busca pela sobrevivência.
“Nossa pesquisa é, antes de tudo, um respeito à continuidade histórica. O cotidiano é nossa matéria-prima: a comida, o acarajé, as ruas, o carnaval. Em Salvador, a Bahia e o Nordeste como um todo carregam memórias vivas da nossa música. Nossa missão é resgatar esse passado que o futuro ainda não alcançou, trazendo músicas e ideias que precisam ser redescobertas”, diz o compositor, sobre o processo de pesquisa e composição do álbum.
A música Balacobaco – composta por Russo Passapusso, SekoBass e Alice Carvalho – traz uma sonoridade intensa e vibrante, sendo a faixa que mais se aproxima dos outros álbuns. A música, que conta com a participação da cantora Anitta e da própria Alice, está entre as dez mais ouvidas de Salvador e concorre ao título de música do Carnaval.
As batidas desaceleram em faixas como Agulha, parceria entre Russo Passapusso e a cantora chilena Claudia Manzo. Ainda assim, lentidão não significa falta de vigor no universo sonoro da banda – o disco pulsa com força própria.
Dino D’Santiago figura na faixa que abre o álbum, Batukerê (Antonio Carlos & Jocafi, Dino D'Santiago, Filipe Cartaxo, Kalaf Epalanga, Russo Passapusso, Roberto Barreto, SekoBass e Ubiratan Marques), mix de samba e ijexá que revolve a raiz da ancestralidade afro-brasileira.
O disco ainda amplia sua cartografia sonora ao incorporar influências amazônicas em Palheiro, tema instrumental assinado pelo guitarrista paraense Manoel Cordeiro e por Roberto Barreto, da BaianaSystem. A faixa já havia sido apresentada no álbum Estado de Espírito (2024), de Cordeiro e Barreto, sob o título Pelo Caminho.
Em Pote D’Água, a conexão se fortalece com o balanço característico da capital baiana. A música, composta há cerca de 30 anos por Lourimbau – nome artístico de Lourival Santos Araújo, mestre na arte do berimbau e das rodas de capoeira – ganha nova vida ao ser interpretada ao lado do próprio autor e de Gilberto Gil.
Reunir artistas de diferentes gerações em um álbum é um desafio que poucos conseguem realizar. O cantor explicou como cada artista foi integrado às faixas: “Após 15 anos de BaianaSystem, vivenciamos experiências musicais intensas e colaborações transformadoras. Quando esses encontros finalmente aconteceram, foi como uma dádiva. As participações no disco não foram pensadas para criar hits, mas surgiram de forma espontânea, fruto do convívio e da afinidade musical. Era como um ímã: as músicas atraíam as pessoas certas no momento certo. Conversávamos com Gil sobre Pote D’Água, sobre Lourimbau, e, de repente, ele já estava no álbum”.
As colaborações se estendem a Bicho Solto, faixa originalmente gravada por Pitty no álbum Matriz (2019), que agora se entrelaça com Cobra Criada, música em que Vandal, uma das vozes mais potentes do rap soteropolitano, deixa sua marca ao lado de Russo Passapusso e SekoBass.
No desfecho de O Mundo Dá Voltas, a espiritualidade se manifesta em Ogun Nilê, uma composição coletiva que reúne nomes como Antônio Carlos & Jocafi, Dino D’Santiago, Kalaf Epalanga e Ubiratan Marques. Assim como a faixa de abertura, Batukerê, essa música reafirma a ancestralidade que guia a fé e a identidade cultural de Salvador.
“Acredito que o BaianaSystem está em constante transformação. A música baiana nos ensina a mutação, e é essa renovação que nos impulsiona a enxergar sempre algo novo e a ter o prazer de recomeçar. Para nós, a música é uma deusa, e a banda nada mais é do que um grupo de operários musicais a serviço dela. Essa é a nossa essência", finaliza Russo Passapusso.
BaianaSystem no Furdunço 2025 - Domingo (23), saída às 23h50 / Circuito Orlando Tapajós (Ondina-Barra) / Participações: BNegão, Larissa Luz, Dino D'Santiago, Alice Carvalho, Vandal e Olodum
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes