MÚSICA
Show ‘Bahia Blues’ reúne punhado de feras na busca das interseções entre o blues e a capoeira
A linguagem da fusão
Por Israel Risan*

Uma fusão entre o rock, o blues e os toques tradicionais da capoeira regional. Essa é a proposta do projeto Capoeira Jazz, idealizado pelo músico e produtor Vandex (nome artístico de Evandro Botti, ex-membro da mítica banda Úteros em Fúria nos anos 1990).
A ideia é criar um encontro musical entre a tradição afro-brasileira e a linguagem contemporânea do rock no evento Bahia Blues 2025, que acontece nesta quinta-feira (20), no SESI Rio Vermelho. A apresentação também será transmitida ao vivo pelo site www.vandex.tv, exclusivo para assinantes.
No show, os músicos vão explorar as conexões históricas e musicais entre essas expressões. Para Vandex, a base africana presente no blues e na capoeira foi um ponto de partida natural. “Tanto o blues como a capoeira carregam uma herança africana. No blues, essa tradição se manifesta de maneira melódica, enquanto na capoeira predomina o ritmo”, explicou o produtor.
O evento é resultado de um processo de composição que ocorreu de maneira espontânea, durante ensaios e sessões de gravação. O espetáculo conta com a participação de músicos reconhecidos no cenário independente, como Nancyta, Morotó Slim, Paulinho Oliveira, Mauricio Chastinet, Edni Deway, Carlos Veiga Filho e Danilo Arcodaci, além da banda Beelzeblues, base do show.
O guitarrista Eric Assmar será o convidado especial da noite. Filho do pioneiro do blues na Bahia, Álvaro Assmar, Eric leva ao palco sua experiência consolidada no gênero e sua trajetória acadêmica, que inclui o título de Doutor em Música pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
A escolha dos artistas seguiu um critério alinhado à proposta de convergência entre estilos. “Todos os convidados trazem, em suas vivências, elementos tanto do rock quanto do jazz e do blues”, destacou Vandex.
O produtor também mencionou a influência de Raul Seixas como referência para o diálogo entre gêneros musicais distintos. “Raul já fez isso com Mosca na Sopa e Let Me Sing. Estamos seguindo essa receita antropofágica", pontuou.
A participação de Eric Assmar reforça a identidade híbrida do projeto. O guitarrista, vencedor do Prêmio Caymmi de Música como melhor instrumentista em 2015, ressaltou o caráter inovador do evento. "Essa junção rítmico-melódica é super inovadora. Vou tentar trazer esse balanço brasileiro nos meus improvisos", afirmou. Assmar também destacou a importância de técnicas como o bend de guitarra (técnica na qual levanta-se ou abaixa-se a corda do instrumento para chegar em outra nota), que permite inserir as chamadas blue notes, frequentes no blues e no jazz.
O repertório foi construído a partir de arranjos inspirados nos toques tradicionais da capoeira. As composições são instrumentais e utilizam guitarras, percussão e outros elementos característicos das rodas de capoeira, recontextualizados com a linguagem do blues e do rock. A proposta é manter o respeito à tradição ao mesmo tempo em que se experimenta novas possibilidades sonoras.
Desafio musical
A relação entre o rock baiano e a capoeira não é inédita, mas o Capoeira Jazz se propõe a dar continuidade a essa tradição sob uma nova perspectiva. Para Vandex, essa conexão tem potencial para renovar o cenário musical local. “A música baiana tem perdido espaço na indústria do entretenimento. Nosso projeto pretende trazer novidades efetivas”, afirma.
Eric Assmar vê o Bahia Blues 2025 como uma oportunidade para ampliar o diálogo entre estilos.
“Eu já lido com essa tradição do rock e do blues desde criança por causa do meu pai (Álvaro Assmar). Acho o projeto sensacional e quero poder trazer minha bagagem musical, sobretudo nos meus improvisos e solos de guitarra”, afirmou o músico.
“Me empolguei com esse desafio pelo seu caráter inovador. Acho que o público vai adorar o resultado, vou me esforçar muito em unir esses elementos, e assim acho que teremos uma grande festa musical única”, completa.
O evento também se insere no contexto mais amplo das manifestações afro-brasileiras na música popular. O uso de elementos da capoeira, como o berimbau e os toques característicos, reforça a ligação histórica entre essas expressões. A estrutura rítmica será a base para improvisos e interações entre os músicos durante o show.
A convergência entre rock, blues e capoeira no Bahia Blues 2025 propõe uma reflexão sobre as conexões culturais entre Brasil e Estados Unidos, marcadas pela diáspora africana.
A apresentação é voltada para um público interessado em novas experiências musicais. Os ingressos custam R$ 20, com gratuidade para assinantes do site oficial.
A expectativa é atrair espectadores curiosos sobre as possibilidades de interação entre tradição e modernidade.
Para o futuro, os planos de Vandex são de ampliar o alcance da proposta e permitir que o público conheça as intersecções entre a música afro-brasileira e a tradição do blues norte-americano em novas edições, além da produção de material documental.
“Queremos repetir o evento anualmente e produzir materiais audiovisuais para a internet”, conclui Vandex.
Bahia Blues 2025 / Com Eric Assmar, Vandex, Beelzeblues, Nancyta, Morotó slim, Paulinho Oliveira, Mauricio Chastinet, Edni Deway,Carlos Veiga Filho e Danilo Arcodaci / Quinta-feira (20), 22h / Varanda do SESI (Rio Vermelho) / R$ 20
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes