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ENTREVISTA

“Sinto muita felicidade da minha arte ser fruto do meu querer dizer”

Denise Fraga, atriz

Por Eugênio Afonso

01/02/2025 - 7:20 h
Eu de Você
Eu de Você -

Apesar de fazer cinema e televisão, é no teatro que a atriz carioca Denise Fraga, 60, decidiu plantar suas raízes. Para quem não está associando o nome à pessoa – já que Denise não é conhecida como ‘aquela atriz de novela’ (ainda bem) –, ela é Dora, esposa do padeiro Eurico, em O Auto da Compadecida (2000), um dos filmes nacionais mais vistos desde a estreia.

Agora, mais precisamente no próximo final de semana – dias 7, 8 e 9 de fevereiro (com ingressos quase esgotados) –, no Teatro Faresi (Ondina), Denise traz a Salvador o espetáculo Eu de Você.

Na estrada há mais de cinco anos, a peça segue em turnê pelo Norte e Nordeste do país. E além disso, Denise também está em circulação com o espetáculo O Que só Sabemos Juntos, em que atua ao lado de Tony Ramos.

Idealizado e criado pela própria atriz, ao lado do produtor José Maria e do cineasta Luiz Villaça (marido de Denise), que também assina a direção, Eu de Você mostra histórias reais costuradas com pérolas da literatura, música, imagens e poesia.

Denise é dessas artistas que não criam pensando na rentabilidade financeira do trabalho, mas na qualidade do que tem a dizer ao público.

Ela acredita que a arte é revolucionária e que existe para abrir mentes, afofar a terra humana, causar reflexão. E que o teatro é, na verdade, sua grande morada.

E aposta alto na poesia. Costuma argumentar que quem lê Dostoiévski e Fernando Pessoa, no mínimo, vai sofrer mais bonito porque sofrerá com a cumplicidade dos poetas. Entenderá que pertencemos à roda da humanidade, seus dilemas eternos e sua fatídica imperfeição.

Avisa que Eu de Você é uma montanha-russa de emoções, levando do riso ao choro, com a potência de dar beleza à existência. Que a plateia vai se deparar com uma trança de vivências, tanto poéticas, como muito cotidianas.

Via WhatsApp, Denise conversou com o Caderno 2+ sobre o espetáculo, arte, poesia, cinema, ativismo político, a paixão pelo teatro e, como todos nós, revelou que está na torcida pelo filme Ainda Estou Aqui, no Oscar.

Confira a seguir.

São mais de cinco anos em cartaz (com interrupção na pandemia) com Eu de Você. Feito raro no teatro hoje em dia. A que se deve tamanho sucesso?

Esta peça é uma das experiências mais lindas da minha vida. A gente tinha a ideia de fazer uma peça que contasse histórias cotidianas trançadas com literatura, música, trechos de poesia. Então, a gente recebeu 300 cartas e trabalhou em cima de 25. Que história não é interessante? Não há quem não se identifique com a peça. Ela é uma montanha-russa de emoções. Te leva ao riso e ao choro. Faz você ter vontade de viver nesses tempos tão duros e isso é muito precioso. Tem a potência de dar beleza à existência. O que a gente faz é pegar uma história muito cotidiana, embrulhar ela pra presente e devolver à plateia. Eu de Você quer dizer ‘eu vestindo sua experiência’. É muito bonito o que acontece, realmente é muito bonito.

Fale um pouco do espetáculo. É sobre o quê? É uma comédia?

A peça tem as histórias reais, mas ela é essa trança. Aí tem histórias minhas, que acabei contando no processo de ensaio. Tem uma coisa da história que se trança com o Drummond, com Zezé de Camargo e Luciano, com Chico Buarque, Vislava Zimboska, que é uma poetisa que eu adoro e que eu estava lendo muito na época, Clarice Lispector, Leminski. A peça é uma trança de vivências, tanto poéticas, como muito cotidianas. Então é difícil definir, sabe?

Você diz que é melhor sofrer com poesia. Pode detalhar?

A arte salva muita gente. A pessoa que vive acompanhada da arte tem muito mais chance de viver melhor porque tem mais chance de compreender a imperfeição humana. Ela é feita dos nossos eternos dilemas. Quem lê Dostoiévski, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, no mínimo, vai sofrer mais bonito porque sofre com a cumplicidade dos poetas. A beleza não tira seu drama, mas ajuda muito te dando pertencimento. A vida é rica, mas não é bela. Acho que quando você tem a arte como tábua de salvação, ajuda muito a viver. A arte precisa existir pra libertar a gente da vida. Ela dá a sensação de que ainda há um fascínio na existência.

O que seria de nós se pudéssemos ser eu de você e você de mim, deixando-nos ambos atravessar por nossas experiências? Esta é a pergunta-chave da peça. Tem resposta?

Como a gente se faz a partir do outro. Quanto a gente evoluiria se conseguisse fazer o exercício da empatia, uma palavra que está tão gasta que tenho até medo de perder a empatia pela palavra empatia (risos). A peça convida você para se deixar atravessar pela experiência do outro.

O que você espera do público quando sobe ao palco com este espetáculo?

Essa é uma pergunta que ninguém nunca me fez. Essa peça me ensinou muito a respeito de como você se fortalece na vulnerabilidade, porque ela exige de mim. Me fez aprender também muito a ter um estado de recepção e uma disponibilidade para o outro, para a escuta. Eu não subo no palco imediatamente, eu começo a peça na plateia. E isso é muito bonito e precioso para mim, porque eu mesma fico encantada com esse poder que tem quando você realmente olha no olho, quando você fala de verdade, quando você está ali. Então, esse ritual que é o teatro, ele fica muito potente, muito potencializado quando você, o tempo inteiro, faz todo mundo perceber que nós estamos ali juntos, vivos, vivendo aquilo que só está acontecendo naquela noite.

Você ainda mantém a peça com Tony Ramos – O Que só Sabemos Juntos?

Na verdade, a gente está viajando com as duas peças e tem sido incrível isso. Elas lotam aonde vão. O Que só Sabemos Juntos foi criado na sala de ensaio, com coisas que queríamos dizer juntos. O Tony é uma criatura única, um amigo querido. Estou vivendo uma coisa muito bonita.

Como se tornar uma atriz de teatro conhecida no Brasil sem passar pelos folhetins televisivos? Porque, apesar de fazer TV, você não é identificada como atriz de novela.

Gosto de fazer novela, mas gosto muito de fazer teatro. Uma hora na vida, priorizei o teatro e acabei sendo conhecida pela dedicação e continuidade que tenho no teatro. É muito bonito ver isso acontecendo. Tenho muita felicidade da minha arte ser fruto do meu querer dizer. O alívio da coerência é algo pelo qual vale a pena você lutar. É preciso ficar de olho na fidelidade a você mesmo.

Qual sua relação com o cinema?

Bom, o que tem acontecido comigo é que tenho feito muito teatro, mas também muito cinema. Calhou de eu fazer dois filmes em Portugal. Um deles vai ser lançado esse ano, chama Sonhar com Leões. Tenho feito, nos últimos dois anos, menos televisão. O cinema, a gente vai encaixando, assim, em algumas brechas que o teatro dá. Tem também um filme lindo que fiz no ano passado, que é o Livros Restantes, da Márcia Paraíso. O Edificante também, que foi um filme do Marcelo Lordello e que fiz em Recife.

Por onde passeia melhor seu corpo – teatro, cinema, televisão?

Sinto que, talvez, o lugar do meu corpo, como você botou de forma muito bonita, é o teatro. É como se eu estivesse na minha casa cada vez mais. E acho muito louco porque sinto saudade da minha casa, que é o teatro. Porque quando estou muito tempo fora, quando a gente dá uma pausa, eu fico querendo, eu preciso daquele ritual. Eu chego três horas antes, me maquio, faço aquecimento de corpo e voz. Aí eu vou para a peça. É como se saíssem raízes do meu pé pra aquele lugar que é o palco. Eu sinto que minha vida no teatro virou a minha própria vida. Não que eu não vá fazer televisão, não vá parar um ano pra fazer uma novela, ou não vá parar um tempo e fazer outras coisas, mas tenho necessidade de voltar pro teatro.

Você acha importante militar politicamente ou acredita que a militância já está no seu próprio trabalho?

Nunca fui exatamente uma militante política, mas a gente viveu todos esses anos absurdos, então não tinha como não se colocar através da arte. A arte em si já é revolucionária. Ela existe para abrir as mentes, afofar a terra humana, causar reflexão.

Como foram para você os quatro anos de chumbo do governo anterior?

Acredito muito que pensar é um dos grandes prazeres da raça humana, para citar meu amigo Brecht. Nós perdemos a capacidade de ponderar, conversar, de argumento e réplica porque as conversas paravam no meio em nome de uma convicção. Isto foi um prejuízo enorme. A gente caminhou muito pra trás. Houve um empobrecimento intelectual, subjetivo. As discussões foram ficando cada vez mais rasteiras. Eu tento iluminar através da arte, falando de coisas que façam frutificar, que arejem as ideias. Acredito muito na evolução humana pela arte.

Por que há tanta confusão e rumor em torno da lei Rouanet? O que o público tem dificuldade de entender?

As pessoas não conhecem realmente a importância desta lei. Ela é rentável para o país. Nós também pagamos impostos, essa prestação de contas é completamente aberta e auditada, mas as pessoas não sabem disso. A cultura no Brasil é 4% do PIB.

Não é bacana, e até inédito, a nova paixão nacional ser uma atriz e um filme? Assistiu a Ainda Estou Aqui? Está na torcida pelo Oscar?

Estamos em festa. Que felicidade ter este momento, contando esta história que foi negada pra muitas pessoas. E eu acho que tem uma coisa muito bacana também, que é por ser a Nanda [Fernanda Torres], que é essa mulher tão interessante, que fala coisas interessantes, que tem falado coisas tão importantes. Isso se potencializa ainda mais, né? Essa coisa Oscar que parece inalcançável é um reconhecimento para o talento que temos. O cinema brasileiro é de um vigor, o potencial artístico do País é enorme, então é muito bonito o que está acontecendo, e o trabalho que Nanda faz é inacreditável, é incrível. Ela estar junto com a mãe também é uma confluência de valores muito rara e eu fico feliz de estar vendo isso.

Qual sua relação com a Bahia? Por que tanto tempo sem voltar (11 anos)?

Bom, eu também fico besta de tanto tempo sem voltar pra Salvador. Nem sei o porquê, não sei te dizer. Eu sei que a Bahia é o lugar da felicidade (risos). Tenho passado umas férias na Bahia e fico cada vez mais impressionada. Outro dia vi uma frase do Jorge Amado: ‘baiano é um estado de espírito’. E eu tenho uma admiração imensa pelos baianos, pela cultura toda desse lugar e por ser esse celeiro de tantos talentos e tantos orgulhos nacionais. Fico muito feliz de voltar com essa peça. Eu acredito sempre nas peças que a gente faz, mas essa realmente é muito especial. E eu tô muito ansiosa por chegar aí.

E, por fim, quais os próximos projetos? Já os tem?

Este ano, eu tenho o ano quase todo tomado porque tô viajando com as duas peças e tenho dois filmes pra fazer. Tô feliz porque tem os projetos de cinema, os de teatro e vou começar a preparar a próxima peça, então seguimos sempre com projetos, graças a Deus.

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Tags:

Denise Fraga espetáculo Eu de Você Salvador Teatro

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