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CULTURA

“Temos que assegurar a exibição para incentivar novos realizadores”

Confira a entrevista com Raquel Hallak

Por João Paulo Barreto | Especial A TARDE

28/01/2025 - 4:00 h
Raquel Hallak
Raquel Hallak -

A vigésima oitava edição da Mostra de Cinema de Tiradentes segue até o próximo domingo na cidade mineira, patrimônio cultural brasileiro. Apresentando um leque variado de filmes, o evento, também, foca nos aspectos políticos do audiovisual brasileiro, promovendo encontros de profissionais de diversas áreas do setor cultural para discutir trâmites dentro das demandas a serem apresentada ao Ministério da Cultura a partir dos grupos de trabalho que o terceiro Fórum Tiradentes promove este ano.

A diretora da Universo Produção e coordenadora da Mostra de Cinema de Tiradentes, Raquel Hallak, conversou com o Jornal A TARDE e trouxe um aprofundamento das atividades do festival esse ano.

Na entrevista, Hallak abordou, também, a ponte entre produtores e realizadores gerada pelo Conexão Brasil Cine-Mundi e as mudanças dentro da Mostra Aurora, que volta a focar em primeiros longas metragens.

Em 2025, a Mostra de Cinema de Tiradentes apresenta a terceira edição do Fórum de Tiradentes. Iniciado em 2023, com a apresentação da carta e demandas do setor do audiovisual ao MinC, como o evento chega à essa nova edição?

O Fórum foca na participação de profissionais do setor, e não de entidade de classe. Então, com isso, temos conseguido uma diversidade na participação, um trabalho voluntário com cada pessoa, integrando os grupos de trabalhos e participando de forma transversal, presencial. Temos, também, uma abertura on line. Acho que o fórum está dando uma grande contribuição nessa construção de políticas públicas, que é o objetivo principal pelo qual ele foi criado. De ser um espaço colaborativo para a construção. Isso porque vínhamos há seis anos sem diálogo, sem a possibilidade de avanço. E é pensando exatamente nesse retorno do governo Lula que o Fórum vem nesse momento. A ideia era ganhar tempo. Entregar um documento que trouxesse a expectativa e a demanda do setor. E, em 2024, fizemos um balanço do que representou o primeiro ano. Várias conquistas dentro do próprio contexto de reconstrução do Ministério da Cultura. A questão de reinstituir o Conselho Superior de Cinema, que é quem dá as diretrizes dessa política. A Ancine com o comitê técnico setorial. A cota de tela. E o diálogo é muito bom, é muito importante. Porque não adianta ficarmos falando sem ter uma conexão com o MinC. Sempre fazemos essa construção coletiva com a participação da Secretaria do Audiovisual, principalmente. E temos conseguido na Ancine a participação, principalmente do diretor Paulo Alcoforado, que tem trazido uma contribuição muito importante para essas reflexões que sempre nos propomos a fazer. Não só em Tiradentes, mas, também, nas mostras de Ouro Preto e no CineBH, em relação ao diálogo, a abertura e, principalmente, a participação. Em Ouro Preto, chegamos a fazer uma proposta de um programa nacional de cinema-escola, que ficou pronto pós evento e reunimos em uma publicação. E nessa edição do Fórum, a gente vem exatamente falando de três questões que são primordiais nesse ano de 2025. O setor audiovisual está considerando esse ano de 2025 muito crucial para decisões importantes. Primeiro com a questão das pautas regulatórias. Porque já estamos tratando da regulação da plataforma de streaming há mais de dez anos. Tem dois projetos tramitando. Um na Câmara e um no Senado. Todos dois não correspondem totalmente aos anseios do setor. O do (deputado federal) André Figueiredo é mais próximo, vamos dizer assim. Mas se essa pauta não entrar no primeiro semestre agora, só vai entrar em 2028, depois que mudar o governo e ainda esperar mais um ano. Então a situação é muito séria. Eu acho que a Mostra Tiradentes vai retomar essa discussão que, no final do ano, ficou adormecida. Queremos ver exatamente em que pé está. A ministra Margareth Menezes tem assumido essa postura. Então, qual que é a diretriz política para esse assunto? Essa é primeira coisa que precisa se definir. O governo vai comprar essa pauta? Essa é a questão que queremos saber.

Um dos pontos que vem se discutindo é a regulação das plataformas digitais.

Sim. Este é outro eixo temático, um desafio que estamos chamando de inadiável nessa pauta regulatória. E ela inclui não só as plataformas de conteúdo digital, mas os impactos que vão ocorrer com a TV 3.0, que é uma TV que já chega com conteúdo. Está se regulamentando a tecnologia no Ministério da Comunicação, mas a atividade ainda não está regulada. Olha o impacto que isso vai gerar para as TVs abertas, principalmente. São aparelhos de TV que já vêm com conteúdo. E isso tem um impacto, também, para o setor audiovisual. De quem são esses conteúdos? Então, se estamos discutindo as plataformas que acessamos, você imagina. A Samsung, a LG e outras vão passar a ser produtoras de conteúdos. E o Brasil está com um decreto que regulamenta essa tecnologia, em primeiro lugar. Mas não regulamenta a atividade. Então, essa é uma das pautas que, também, vai estar junto com o streaming. E a inteligência artificial, que a gente vai fazer uma breve introdução a esse assunto através de um workshop que vai ter, com a Janaína Augustin (consultora do SEBRAE), que é especializada nesse estudo da Inteligência Artificial, especialmente nos impactos no audiovisual. Ela vai fazer, também, parte de um debate que integra o fórum. Uma outra questão é que a SAV está no processo de construção do Plano Nacional de Diretrizes e Metas, considerado uma das principais entregas desse governo. Porque esse plano já está vencido. Ele tem uma validade de dez anos. Sem esse plano, você não tem diagnóstico, você não tem dados, você não tem orientação para a construção de políticas públicas. Então, está todo mundo falando da necessidade de uma política estruturante. A política já existe. Ela já está ali sedimentada. O fórum vai contribuir com recomendações e premissas para a revitalização dessas políticas, somando as questões e a construção do PDM (Plano de Diretrizes e Metas). Mas vamos focar na promoção da industrialização, mostrar a importância de tratar o audiovisual enquanto indústria, mas através da estruturação dos pólos regionais, entendendo que toda e qualquer cidade e estado que estiver produzindo, é um pólo regional. Vamos fazer um desdobramento pós Tiradentes, mostrando essa transversalidade e mostrando que essa pauta não é só do MinC, mas é uma pauta da Fazenda, porque tem um impacto econômico grande. É uma pauta Ministério da Indústria e Comércio, porque estamos reivindicando que o audiovisual faça parte do programa Nova Indústria do Brasil. O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, no seminário que a SAV fez em São Paulo, anunciou, mas ainda não foi assinado, a inserção do audiovisual no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial. Então, esse é um momento muito importante na Mostra de Tiradentes por poder o calendário audiovisual brasileiro de 2025 com aquilo que a gente quer que seja pautado e conquistado este ano. O Fórum Tiradentes tem um papel muito importante nessa terceira edição por trazer assuntos que não só representam um anseio, um desejo, mas assuntos colaborativos, mesmo, para que avanços sejam conquistados. Nessa edição, uma das novidades vai ser o GT Observatórios, que a gente criou. Estamos falando de um espaço de políticas, mas sem dados, não fazemos políticas públicas. Então, vamos promover um encontro dos observatórios em Tiradentes dentro do Fórum. Vai ter um debate falando desses processos. Nós precisamos dar valor a isso. O Brasil precisa investir nesses observatórios, precisa investir nesses dados, nessa política. Porque sem ter diagnóstico, sem ter dados, a gente não vai ter políticas eficazes.

O Brasil Cine-Mundi traz para Tiradentes o Conexão, um desdobramento do que foi iniciado em Belo Horizonte com os encontros de potenciais produtores e investidores com cineastas em busca de apoio para projetos. Como se dá essa nova etapa após a edição do ano passado do CineBH?

Em Tiradentes, o Conexão é um desdobramento, uma ação descentralizada do Brasil Cine-Mundi de Belo Horizonte. E tem um recorte de apresentar filmes que estão em finalização. Desde 2009, quando tivemos o ano da França no Brasil, fizemos uma parceria muito forte com a França. E aí veio gente de Nantes, de Cannes. Foi algo que começou com a França. Depois, começou a se espalhar, com a Mostra de Tiradentes e seu formato de apresentar um cinema brasileiro que não chega à Europa, gerando esse interesse nos franceses. E aí começou um burburinho, principalmente de programadores e curadores de festivais querendo vir para conhecer esse cinema que era exibido aqui. E quando eles chegavam, sempre ficavam com a expectativa de ter uma ação de mercado. Porque todos os eventos internacionais têm esse evento de mercado. No nosso caso, elegemos Belo Horizonte, que é o evento internacional nosso, para fazer o Brasil Cine-Mundi. A lógica de mercado do audiovisual é muito interessante. Porque, como são muitos festivais, todos eles querem ir para os eventos e aproveitar ao máximo. Fazer negócio, conhecer pessoas, fazer ação de relacionamento, descobrir talentos. Então, a gente começou um pouco a canalizar essa participação internacional. A ideia, agora, é levar esse desdobramento do Brasil Cine-Mundi para Tiradentes e vamos apresentar esses filmes que já estão finalizados como uma possibilidade deles conseguirem vagas, estrearem em festivais internacionais, conseguir recursos para distribuição, conseguir fazer o seu lançamento e ter uma carreira internacional. Paralelamente a isso, temos investido em laboratórios. Porque a ideia é que na Mostra de Tiradentes, projetos sejam concebidos já pensando na inscrição para o CineBH, fazendo essa ponte. Criar a possibilidade de, principalmente com os filmes que estão nas Mostras Temáticas, competitivas, serem vistos por esses profissionais. Porque eles não vão só pelo Brasil Cine-Mundi. Eles vão, principalmente, para conhecer o evento como um todo e ver essas possibilidades. Criamos esse ambiente que é uma continuidade do CineBH exatamente porque muitos projetos que já passaram pelo Brasil Cine-Mundi em Belo Horizonte estão estreando em Tiradentes. E projetos nos quais estamos apostando em finalização vão, às vezes, estrear no circuito internacional. Acaba fazendo essa corrente em que a gente tem um espaço durante o ano inteiro de formação, de exibição, de negócios, de network, de possibilidades de promoção do cinema brasileiro. Essa é a principal bandeira da Universo. Formação e Promoção e difusão dos melhores frutos.

Este ano, a Mostra Tiradentes traz mudanças importantes em relação aos filmes da Mostra Aurora, que, antes, podia selecionar filmes de cineastas até o terceiro trabalho. Como foi essa decisão?

É importante que a curadoria e o festival estejam atentos a essas mudanças no audiovisual. Foram muitas mudanças que, inclusive, inspiraram a temática "Que Cinema é Esse?" ,que é uma indagação para a gente entender essas mudanças que ocorram de perfil de consumo, de maneiras de fazer o cinema, quem está fazendo o cinema. Então, quando eles trazem essa proposta de focar a Mostra Aurora no primeiro cinema, eu achei muito pertinente porque há 18 anos, a ideia era essa. Vamos focar nas pessoas que estão em início de carreira. Só que a gente tinha primeiro, segundo e terceiro filme, porque não necessariamente teríamos uma safra só de primeiro longa para compor uma seleção de sete trabalhos. A intenção permanece, só que assegurando um primeiro cinema. A Aurora sempre teve essa questão de apostar no baixo orçamento, de não necessariamente olhar um filme como algo finalizado em si, mas como uma descoberta de novas narrativas, de nova maneiras de fazer cinema, de quem está fazendo cinema no país sem ter uma rigidez técnica, mas ter um olhar diferenciado para essas produções que jamais vão ter espaço em festivais engessados em sua estrutura, principalmente conceitual. Essa é a diferença da Mostra Tiradentes apostar nessa diversidade. Essa edição destaca essa questão da vanguarda de Tiradentes em todos os sentidos. Mais uma vez, não só a Aurora como a Mostra Olhos Livres, mas, também, introduzindo a competitiva na Mostra Formação, que é uma mostra que já fazia parte da programação e que vem ampliada, trazendo curtas metragens que nascem nas universidades. Porque, se a gente não contribuir com essa cultura cinematográfica, e com quem está ali fazendo cinema e assegurar uma espaço de exibição para incentivar a carreira desses novos realizadores que vão estar no mercado, a gente não vai ver o que está por vir. Porque eu sempre tive uma preocupação de pensar essa reciclagem. Porque se eu não investir nessa formação, a gente não vai fomentar a indústria do audiovisual. Então, eu acho que essa ideia dessas mudanças que, inicialmente, parecem sutis, elas são, na verdade preponderantes para a gente manter esse ciclo vital de continuar formando, de ver o tipo de formação.

*O jornalista viajou a convite da Universo Produção

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