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EM NOME DO PAI

‘Texas Kid, My Bro’: quadrinho croata chega ao Brasil

HQ une violência estilizada e elementos do faroeste

Por João Paulo Barreto | Especial A TARDE

08/03/2025 - 4:00 h
Imagem ilustrativa da imagem ‘Texas Kid, My Bro’: quadrinho croata chega ao Brasil
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“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. A conhecida frase é, claro, do gênio Machado de Assis, no encerramento de Memórias Póstumas de Brás Cubas. A referência feita aqui serve como um contraste à bíblica afirmação que prega que os pecados dos pais não recaem sobre seus filhos, uma vez que cada um é responsável pelos seus próprios desvios. Do mesmo modo, a reflexão proposta aqui casa bem com a ideia do pai que se torna o filho e o filho que se torna o pai, uma análise do modo como o peso representado por essa mudança em uma vida se aplica tanto a quem a gerou, quanto ao rebento que poderá crescer suportando o peso de uma existência que não escolheu.

Texas Kid, My Bro, quadrinho croata que a estreante Editora Poptopia traz ao Brasil, tem em sua abordagem ao mesmo tempo crua, violenta e subliminar, esse aspecto analítico do peso que uma influência paterna, seja ela negativa ou positiva, pode projetar em uma pessoa.

Na história escrita e desenhada por Igor Kordey, baseada no conto de autoria de Darko Macan, o jovem quadrinista Radovan Brandt tem no seu sobrenome o peso do legado de Tomislav Brandt, veterano quadrinista criador de Texas Kid, o garoto do Texas do título aqui apresentado.

Na relação abusiva e perniciosa que o genial Tomislav tem com o filho promissor, as três referências no preâmbulo desse texto se encontram de maneira dolorosa.

Metalinguagem instigante

Apesar de herdar (e de modelar com esforço e estudo), o talento na criação de quadrinhos advindo de Tomislav, Radovan nunca encontra o reconhecimento, o respeito e o afeto necessários para caminhar seus próprios passos. Tomislav tem em sua aspereza para com o filho um aparente modo de lidar com seus próprios traumas. Trata-se de um ser cujos próprios tormentos da infância roubada pela necessidade de escapar da violência do quase inóspito ambiente ao seu redor, e o começo da vida na adolescência que também lhe foi surrupiada pelo serviço militar durante a Segunda Guerra Mundial, ajudaram a moldar o seu (mal) caráter insensível diante da necessidade de se fazer presente como pai.

O encontro direto e surreal com sua mais notória criação, o cowboy Texas Kid do título, que aparece encarnado e saído diretamente das páginas do aclamado quadrinho, o transforma. Sua vaidade evidente se torna preponderante e traz à tona toda a presença de um pai amoroso com a qual Radovan, apesar de não admitir, sempre sonhou. Tal afeição, porém, é direcionada ao seu filho oriundo dos quadrinhos e não àquele biológico que sempre buscou por ela.

Assim, dentro de um mistério gradualmente desenvolvido por Kordey e Macan a envolver aquela figura espalhafatosa e, aparentemente, mortal que surge para desestabilizar ainda mais a relação de Tomislav e Radovan, Texas Kid, My Bro encontra um modo brutal de focar na catarse destrutiva que a presença do cowboy causará na vida daquelas pessoas. Nesse processo, um exercício metalinguístico no qual as camadas narrativas se fazem presentes entre a realidade dos quadrinhos e a realidade dos seus dois protagonistas torna o mergulho do leitor do lado de cá das páginas um exercício deveras instigante.

Desafios de editora nova

Daniel Loganeto e Kevin Freitas, os dois empreendedores por trás da Poptopia, conversaram com o jornal A TARDE sobre a aposta no mercado de HQ, trazendo na estreia Texas Kid, My Bro. “Eu e Kevin fomos ao FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, em 2024, prospectar o mercado, conversar com potenciais parceiros e conhecer artistas. Voltamos analisando catálogos de editoras estrangeiras buscando obras que agregassem à cena nacional”, relembra Daniel, um voraz leitor e colecionador baiano radicado em Piracicaba.

“Tenho uma loja de quadrinhos há doze anos em Piracicaba e, desde que o Daniel começou a produzir conteúdo para o canal Poptopia no YouTube, estamos analisando o mercado. Fomos atrelando as ideias com objetivo de apresentar obras relevantes", confirma Kevin. "O catalogo da ECC Ediciones, editora espanhola com tradição de lançar grandes artistas, foi um achado. Lá, encontramos obras Texas Kid e Moon Eaters, que vamos lançar em nosso ano de estreia”, comemora Kevin.

Sobre o primeiro lançamento da Poptopia, Daniel pontua o que pesou na decisão de escolher a obra de Macan e Kordey, ambos com diversas experiências, inclusive em gigantes como a Marvel Comics, como ponto de partida. “Texas Kid, My Bro foi selecionada para ser a estreia da editora por se tratar de uma HQ com muitas camadas, ela dialoga com vários nichos de colecionadores”, aposta Daniel. "A história de Darko Macan constrói um universo denso onde um personagem de velho oeste ganha vida e chega para bagunçar uma dinâmica familiar confusa entre os protagonistas Tomislav e Radovan, pai e filho, ambos criadores de HQS. Essa história em determinados momentos vira um drama de guerra, em outros parece ser um grande western. No final, se desenrola um debate sobre quem é maior: criador ou criatura?", detalha o editor.

A obra está em processo de financiamento coletivo pelo Catarse. "Hoje, Texas Kid, My Bro tem a missão de ser nosso cartão de visita”, afirma Daniel. “Estamos caprichando na edição, porque a história já é genial. A dupla de autores já fez diversas HQs juntos e ganharam alguns prêmios. Serão 225 páginas em papel couchê para valorizar a arte de Igor Kordey, com capa dura e acabamento de luxo. Tem sido sensacional lidar com os artistas e ver como eles ficam felizes de trazermos sua obra para o Brasil”, crava Daniel.

Para o croata Igor Kordey, a oportunidade de ver sua obra chegar aos brasileiros traz orgulho. “Estou muito emocionado e empolgado com o lançamento do Texas Kid, My Bro, no Brasil! Desde a infância, fui contagiado pela enorme cultura energética e comovente deste país, especialmente pela música, ouvindo canções de (Tom) Jobim ou (Sérgio) Mendes no rádio. Na adolescência, descobri gigantes como (Gilberto) Gil, (Chico) Buarque e (Caetano) Veloso. Não tenho ideia de como é o mercado de quadrinhos no Brasil ou do quão grande ele é, mas tenho certeza de que meu livro, que considero a minha obra-prima, encontrará seu caminho exatamente no lugar ao qual ele pertence: no coração dos leitores brasileiros, que reconhecerão sua alma e energia”.

De fato, energia não falta ao quadrinho.

Texas Kid, My Bro / Igor Kordey e Darko Macan / Poptopia/ 225 páginas/ www.catarse.me/texaskid

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