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ENTREVISTA

Tuzé de Abreu: " A vida é o melhor motor”

"Considero que houve um corte na minha vida a partir de 2018, quando tentei o suicídio", diz Tuzé

Por Chico Castro Jr.

20/04/2023 - 5:15 h
“Uma apresentação de Smetak na Reitoria, ele me colocou abrindo o espetáculo, tocando a biflauta e dançando no tapete vermelho ”
“Uma apresentação de Smetak na Reitoria, ele me colocou abrindo o espetáculo, tocando a biflauta e dançando no tapete vermelho ” -

Tuzé de Abreu é uma daquelas figuras que, muito provavelmente, somente a Bahia é capaz de parir. O multi-instrumentista, hoje aos 75 anos, tem feito uma série de ensaios às quintas-feiras de abril na Casa da Mãe, uma preparação para o show intitulado Pupurriaçu, que ele apresentará na sexta-feira da semana que vem, no Teatro Molière da Aliança Francesa.

Hoje e quinta-feira que vem ainda é possível apreciar os ensaios na Casa da Mãe, antes do show. O título Pupurriaçu é uma brincadeira com os termos pot-pourri (do francês, uma execução de várias músicas) com ‘açu’ (grande em tupi-guarani) .

Nas apresentações, Tuzé revisita a própria trajetória a partir de 31 canções da sua autoria, cantadas e tocadas ininterruptamente no esquema voz e violão. Nos ensaios e no show, é possível que músicos de apoio e/ou convidados se juntem a ele em algum momento, mas ele faz mistério.

Um verdadeiro gigante da música – e não “apenas” da MPB, pois ele também transita com absoluta fluência pelas searas experimental e erudita – Tuzé é daquelas figuras que antigamente a imprensa definia de “larger than life”: maior do que a vida.

Também, pudera: pense em qualquer movimento ou cena da música baiana dos últimos 60 anos: a marca de Tuzé estará ali impressa.

João Gilberto, Walter Smetak, Os Doces Bárbaros, Orquestra Sinfônica da Ufba (por 36 anos), direção musical de inúmeros trios elétricos, Balé Brasileiro da Bahia, grupos de choro, bossa-nova, música experimental, orquestras de baile, trilhas sonoras para cinema, teatro, balés: Tuzé compôs ou tocou ou dirigiu para todos eles em algum momento.

Foi gravado por João Donato, Walter Smetak, Moraes Moreira, Luis Melodia, Cauby Peixoto, Chico Buarque, Doces Bárbaros, Gal Costa, Caetano Veloso e seu quase xará Tom Zé, entre muitos outros.

Nesta entrevista, Tuzé fala um pouco do show, um pouco de tudo isto e um pouco – sempre de forma muito corajosa – da crise de depressão que o acometeu cinco anos atrás.

Tuzé é patrimônio humano e cultural da Bahia e do mundo. Vida longa ao mestre.

O que difere esses shows na Casa da Mãe ao que será apresentado na Aliança Francesa? O conceito do Pupurriaçu segue em processo antes e depois do show no teatro? Pupurriaçu será um álbum novo a sair em breve?

Bom, há a possibilidade de contarmos com um instrumentista fazendo comentários sonoros no teatro e, sim, é uma obra em progresso, não para. Sobre se tornar um álbum, ainda não pensei nisso, mas não é impossível.

Quem te acompanha ao vivo na Casa da Mãe e no teatro? Serão os mesmos músicos? Pode adiantar convidados?

Basicamente é um show voz e violão onde canto e toco 31 das minhas canções, sendo quatro delas com parceiros. E, sim, nos dois momentos serão as mesmas músicas, com as mudanças normais de uma obra em progresso. Na Casa da Mãe tivemos alguns convidados e na Aliança, será somente eu, embora não seja ainda definitivo.

O senhor tem história com o Walter Smetak. Como o senhor vê a influência dele em seu trabalho? O senhor diria que houve uma troca - o senhor o influenciou de alguma forma também?

Muita. Tem uma piada que já trago pronta sobre isso: Walter Smetak me fez ver que barbeador elétrico e peido de baleia podem ser música. Ele me colocou em uma dimensão sonora praticamente infinita. Sobre eu tê-lo influenciado, que eu saiba, não. Mas, eu participei de muitos trabalhos importantes dele, sendo o único músico a tocar nos dois discos, portanto devo tê-lo influenciado em alguma medida. Por exemplo, teve uma apresentação de um grupo de músicos de Smetak na Reitoria, e como ele tinha me visto tocar o instrumento biflauta dançando e brincando, ele me colocou abrindo o espetáculo entrando pelo porta do público, tocando a biflauta e dançando no tapete vermelho, até chegar onde estava o palco com os músicos e aí o espetáculo foi iniciado.

Desculpe tocar em assunto tão antigo, mas é impossível não perguntar isto para o senhor: quais são suas lembranças mais vivas do período em que acompanhou Os Doces Bárbaros (grupo que reuniu Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethania nos anos 1970)?

Infelizmente, é de uma lembrança triste, do episódio da maconha que envolveu dois membros do grupo em Florianópolis, onde Gilberto Gil e o baterista Chiquinho Azevedo foram presos, e os quartos de todos nós foram revistados. Um outra memória, foi nas gravações do documentário Os Doces Bárbaros (1977, de Jom Tob Azulay), eu vi Glauber Rocha tomar a câmera de um cinegrafista e filmar um pouco de Gal cantando O Teu Amor, no ritmo da música, no Canecão.

Na sua obra, o senhor parece transitar em um território bastante "diáfano" (na falta de termo mais adequado), em uma espécie de intervalo entre a música popular e a experimental. O senhor trabalhou com Smetak, mas também em trios elétricos, dialogou com Riachão e Artur Bispo do Rosário, foi gravado por medalhões da MPB e por aí vai. Qual o segredo de tanta pluralidade? Há algo na vida que não interesse ao senhor?

É uma pergunta excelente. Eu sempre fui assim desde que me entendo, sempre fui interessado por muita coisa, e isso inclusive também me causou muitos problemas desde criança. Tendo a considerar que houve um corte na minha vida a partir de 1º de maio de 2018, quando eu tentei o suicídio, e eu não sei se o que veio antes foi uma longa introdução ou se o que veio depois é um coda (trecho que encerra uma sinfonia). Este seria o “segredo” e, desde então, tenho me esforçado para diminuir a amplitude do meu interesse.

Apesar de tanta produção, o senhor só gravou dois álbuns solo. O senhor não curte estúdio? Prefere o ao vivo?

Na verdade, foram quatro. Dois em disco e dois somente nas plataformas digitais. E gosto muito de estúdio, fiz coisas interessantes não só minhas, mas participando de trabalhos de outros. Sobre o ao vivo, tem coisas que são insubstituíveis, assim como coisas de estúdio que são insubstituíveis também. Tem duas faixas, que produzi por exemplo, que tenho muito carinho, ‘Raso da Catarina’, com Gereba, e ‘Suíte Casa Azul’, com Gil Camará. De shows, tem um épico, que foi um encontro dos trios na praça Castro Alves em uma madrugada de Quarta-feira de Cinzas, onde Armandinho estava no trio de Dodô & Osmar, Pepeu no dos Novos Baianos e eu tocando sax alto no trio Brilhaê. Tocamos Brasileirinho e o Hino do Bahia.

Tuzé, o que é a vida? (Gracias, Abujamra).

Segundo Tuzé de Abreu, a vida é o melhor motor. Segundo um interno anônimo em um sanatório, conforme li em uma revista: “A vida nada mais é do que aquela na qual vivemos a mesma”. PS.: Eu também fui educado chamando os outros de senhor, mas quando a gente se torna realmente um senhor velho, isso se torna desagradável...

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