CULTURA
Violinista francês David Grimal faz dois concertos com a Neojiba
“Sempre busquei o que existe aqui. Ricardo Castro criou algo que é um diamante”, diz Grimal
Por Tiago Freire*
O renomado violinista francês David Grimal retorna a Salvador para dois concertos com o Neojiba: amanhã, na Igreja de São Francisco (Pelourinho), às 17h. E no domingo, a apresentação Música para a Alma, da série Todo Domingo no Parque, um projeto já conhecido do grupo, que será no Parque do Queimado, na Liberdade, às 11h.
Nomeado Cavalheiro das Artes pelo Ministério da Cultura da França, Grimal dirige artisticamente o concerto e também será o solista da noite. Na noite serão apresentadas as obras de Beethoven Concerto para Violino em Ré Maior e Sinfonia Número 6.
“Eu acho que a música tem uma função de cura muito grande e a gente precisa aproveitá-la, ainda mais nesse momento que o mundo passa”, afirma Ricardo Castro, diretor da orquestra.
“Acredito que a música tem esse poder e temos esse repertório de obras primas, temos a presença do David Grimal, alguém com uma grande dedicação e a gente quer oferecer ao público nesses dois dias essa chance através da cura”, acrescenta.
A entrada para ambas apresentações é gratuita.
A busca por excelência
Fundado em 2007, os Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia promovem o desenvolvimento e integração social prioritariamente de crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade, por meio do ensino e da prática musical coletivos. Sua orquestra, fundada no mesmo ano, é comandada pelo músico baiano Ricardo Castro, que assim como seu grupo, coleciona uma história de reconhecimento e prêmios internacionais.
Destaque no cenário nacional e internacional, a orquestra do Neojiba já realizou mais de 310 apresentações para um público de quase 500 mil pessoas. Em 2010, foi a primeira orquestra juvenil brasileira a se apresentar na Europa e desde então já realizou oito turnês internacionais na Europa e EUA. Artistas como Martha Argerich, Jean-Yves Thibaudet, Midori, Maxim Vengerov, Maria João Pires, Lang Lang, Shlomo Mintz, Katia Labèque, Marielle Labèque e David Grimal são alguns dos nomes que já se apresentaram com a orquestra como solistas.
“A Orquestra Neojiba, desde o começo, buscou esse contato com os melhores do mundo e temos conseguido. Fizemos turnês e promovemos esses encontros com os melhores, e isso foi um diferencial para o aprendizado desses jovens de Salvador, poder dar a chance de aprenderem e terem esse contato com os maiores”, detalha Ricardo Castro.
Mestre do violino
Nomeado Cavalheiro das Artes pelo Ministério da Cultura da França, o violinista francês David Grimal costuma se apresentar como solista com as mais prestigiadas orquestras do mundo, como a Orquestra de Paris, Filarmônica de Radio France, Orquestra Nacional Russa, dentre outras.
Estas apresentações representam a segunda vinda de Grimal para a capital baiana, tendo a primeira vez sido em 2021. O violinista descreve a orquestra como um “diamante” no meio da música.
“Muito frequentemente, quando você toca com orquestras profissionais, você não está fazendo música, está apenas tentando ser perfeito. É algo frio, vertical, chato. Eu sempre estive procurando pelo que existe aqui. Para mim, Ricardo Castro criou algo que é um diamante”, celebra Grimal.
“A primeira experiência com o Neojiba foi através da emoção e de ver que toda a música era construída através da emoção dela mesma”, conta. “Esse é o mais importante”, diz.
Grimal enfatiza que ter a chance de trabalhar com uma orquestra fora de seu eixo usual e com um público mais novo permite uma maior experimentação.
“A grande vantagem de trabalhar com jovens é que eles são muito abertos e receptivos para novidades”, ressalta. “A gente pode obter coisas que é muito difícil de obter com músicos profissionais”, acrescenta o violinista.
Em 2004, Grimal criou a audaciosa orquestra Les Dissonances, que realiza concertos sem a presença de maestro. O mesmo modelo será reproduzido nas apresentações deste fim de semana.
Para Grimal, essa forma de organizar a orquestra representa celebrar todos os integrantes do grupo igualmente, mais do que celebrando, dando uma lição sobre humildade e valorização.
“A maior vantagem de tocar sem um maestro é a escuta que há entre músicos, que permitem surpresas extraordinárias e o trabalho que é feito antes é tocar sem o maestro”, explica Grimal. “Então é um grupo muito concentrado e no final todos são maestros. Esse movimento de tocar sem maestro é um movimento de emancipação dos músicos”, conta.
Por fim, além de buscar essa cura pelo meio da música, Ricardo Castro vê na apresentação uma possibilidade pedagógica nos concertos. O músico defende, em especial, como Grimal apresenta para o público baiano uma outra visão possível sobre a música.
“A Bahia precisa conhecer esse potencial musical. A gente costuma comemorar e celebrar muito, eu inclusive, os nossos grandes maestros. Mas eu aprendi com Grimal que a gente tem que comemorar ao lado dos músicos”, ressalta Ricardo Castro.
“A mensagem é sobre essa capacidade de reunir o melhor do mundo com nossos jovens nesse sentido de igualdade, e, na hora da apresentação, Grimal se torna um deles”, finaliza o maestro.
*Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.
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