DETALHE TÁTICO
A Copa do contra-ataque
Por Jornalista l [email protected]
Vamos nos ater a este século. Em 2002, foi o brilho individual dos brasileiros. Em 2006, a força defensiva italiana. E o futebol estava opaco, sem novidades. Até 2010, quando, empurrada pelas ideias do Barcelona, a Espanha quebrou paradigmas ao ser a campeã da posse de bola. Linha seguida pela Alemanha em 2014.
Quatro anos se passaram, com domínio total do Real Madrid no planeta bola. Um time que reúne capacidade de manter a bola, de se retrair, de marcar por pressão e de partir em contra-ataques fulminantes. Não é um futebol tão belo, mas preza pelo máximo da eficiência, tomando como base os ideais de Cristiano Ronaldo, que na próxima temporada – talvez cansado de tanta supremacia – vai defender a Juventus.
Na Copa do Mundo que terminou neste domingo, não vimos, e é compreensível, um time tão completo. Após dois torneios com campeões monopolizadores da bola – um estilo que me agrada pela imposição, apesar de muitas vezes deixar os jogos chatos, sem alternâncias, constantes – voltamos a ter um vencedor que aposta nos contra-ataques.
Para mim, um retrocesso, que pode trazer mudanças ruins para o futebol (ou não). Com esse estilo, a França derrubou potências até o título. A média de posse de bola foi de 47%, mesmo tendo enfrentado no caminho equipes bem mais fracas, como Austrália, Peru e Dinamarca. No mesmo lado, o mais forte, do chaveamento do mata-mata, a Bélgica mudou o rumo da competição ao eliminar o Brasil, em partida na qual teve 43% de posse de bola. Líderes no quesito, Alemanha (67% de média) e Espanha (68%) caíram cedo.
Na decisão deste domingo, a Croácia terminou com 61% de posse. E perdeu mais ou menos pelo menos motivo que fez a Seleção Brasileira cair diante dos belgas: muita sede ao pote, ousadia em excesso. As histórias, porém, foram diferentes. A Amarelinha viu seu mundo ruir já no primeiro tempo. Começou em cima, não trouxe seus zagueiros para formar um bloco inteiro que pressionasse o adversário e, assim, abriu-se um clarão entre as linhas de defesa e meio-campo. Hazard, De Bruyne e até mesmo o centroavante Lukaku se esbaldaram com tanto espaço livre. Depois de aberto o placar em 2 a 0, o Brasil não conseguiu buscar a igualdade, mesmo tendo feito jogo de um time só na segunda etapa.
2 a 1 por nada
Já os croatas ignoraram o fato de que o desgaste certamente pesaria na parte final do duelo com a França, depois de eles terem passado por três prorrogações consecutivas, algo inédito na história das Copas. Arriscaram um jogo de posse de bola quase total, com pressão ofensiva. Até não sofreu com contra-ataques no primeiro tempo, mas lamentou doses cruéis de azar com decisões desfavoráveis da arbitragem. Resumindo, a França não fez praticamente nada nos 45 minutos iniciais e foi para o intervalo vencendo por 2 a 1.
Saiu melhor do que a encomenda, pois a ideia francesa parecia concentrada em levar o jogo igual até o tempo complementar, e aí usar sua velocidade e supereficiência para definir a parada. Como já estava em vantagem, ficou ainda mais fácil. Afobada, a Croácia seguiu tomando o campo de defesa dos Bleus, onde estavam posicionados todos os seus 10 jogadores de linha no lance que originou o gol do 3 a 1 (veja no infográfico).
Hernández se preparava para uma cobrança de lateral e oito croatas se aglomeravam no setor para recuperar a bola por ali. Deu errado. A França usou de um mecanismo treinado para conseguir acionar Pogba e a flecha Mbappé já estava estrategicamente posicionada próxima ao círculo central. Pogba meteu uma pancada para a frente e Mbappé ficou no mano a mano com o lateral Strinic. No desespero, a Croácia ainda conseguiu finalizar o lance com sete atletas dentro da área de defesa, mas todos desnorteados e desorganizados.
Já os franceses, além de Mbappé, chegaram com Griezmann, Giroud, Matuidi e o mesmo Pogba, que acionou a corrida do jovem de 19 anos. Depois de a bola passar por Griezmann, voltou aos seus pés. Com duas tentativas, Pogba conseguiu balançar a rede. E ali o jogo foi decidido. Placar final: 4 a 2. Vitória tranquila de um time cauteloso, mas que, ao mesmo tempo, tem o mérito de aproveitar ao máximo as principais qualidades de seus jogadores. Vai influenciar muita gente até o Qatar-2022.
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