DETALHE TÁTICO
A diferença
Por Jornalista l [email protected]
Depois dizem que a gente sempre fala as mesmas coisas quando o assunto é futebol. Que culpa temos se, por mais que tentemos entender o funcionamento do jogo além do óbvio, é este quem teima em explicar melhor um lance, um resultado, um campeonato?
No último domingo, na Fonte Nova, você que assistiu à partida entre Bahia e Atlético-MG contou quantas oportunidades de gol teve nos pés o tricolor Mendoza? Certamente mais de duas. E quantas teve o atleticano Robinho? Certamente não mais que duas.
Todos sabemos que Mendoza não balançou a rede no empate por 2 a 2, ao passo que Robinho marcou duas vezes no par de ataques incisivos construídos pelo Galo em toda a partida. Diante disso, como não relativizar a qualidade técnica de um único jogador, mesmo num esporte em que os aspectos coletivos são preponderantes? Um cara com um toque refinado, diferente, faz a balança pender a favor de um time. Sempre fará. E ponto final.
No caso de Robinho, valeu não apenas sua aptidão com a bola no pé, mas uma inteligência tática também acima da média. Os dois gols surgiram de movimentação parecida, aproveitando uma espécie de ‘ponto cego’ que os sistemas de marcação modernos, em linha, apresentam.
Não sou favorável ao retorno de atrocidades como a marcação individual, mas defendo a não-robotização das escolhas. Como ignorar o brilho especial de um atleta ao estabelecer um esquema defensivo imutável mesmo diante da presença de um desses jogadores? No primeiro gol do Atlético, em cobrança de lateral do lado esquerdo, o Bahia se moveu em bloco para aquele setor do campo. Quando Rafael Moura recebeu a bola para fazer o pivô, viu-se cercado por três tricolores responsáveis pela marcação do lado direito – o lateral Eduardo, o zagueiro Tiago e o volante Renê Júnior. Thiago Martins, beque que compõe o lado esquerdo da defesa fazia a cobertura pelo meio.
Como Moura se saiu bem na execução do pivô e a redonda chegou a Valdívia na intermediária, Martins se viu de frente para o meio-campista do Galo e impossibilitado de acompanhar o avanço de Robinho, que flutuou durante toda a jogada no lugar do campo em que se sente mais confortável: nas proximidades da área, indo da esquerda para o centro.
Livre entre as linhas
No segundo tento, ilustrado no infográfico, o lance se desenrolou por 12 segundos sem a participação ativa de Robinho. Seu deslocamento neste período, sempre livre entre as linhas de defesa e meio-campo do Bahia, pode ser conferido no desenho à esquerda.
Ele poderia ter recebido a bola por ali e causado trabalho à retaguarda tricolor, mas esperou o momento certo para, em sincronia com o lançamento de Luan, atravessar a última linha de marcação entre os impassíveis Eduardo e Tiago.
Algo que me deixa inquieto: nos times modernos, só o fato de os jogadores estarem bem alinhados parece oferecer uma falsa sensação de segurança defensiva. Neste gol, nada de anormal ocorreu. As linhas estavam simétricas, o time estava compactado, os atletas se mostravam atentos. Mas há um detalhe: ainda é necessário acompanhar o movimento vertical de um adversário. Quem tem esse dever quando o rival passa pelo meio da linha? Pergunta para o técnico Paulo César Carpegiani responder. As reações de Tiago e Eduardo após o gol, apáticas, indicam que nem mesmo eles sabiam quem deveria ter seguido Robinho.
Certo é que falhas acontecem, ainda mais em equipes medíocres como as que disputam o Brasileiro. Mas o questionamento que não entra nessa discussão é: quantos dos jogadores que estavam em campo fariam o que Robinho fez, ao matar no peito e finalizar com suavidade, sem deixar a bola cair? Esta ‘diferença’ não pode ser desprezada.
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