DETALHE TÁTICO
Beleza geométrica
Por Jornalista l [email protected]
Rapaz, depois de um passeio sob o sol de meio-dia no subúrbio ferroviário (onde o dia é mais bonito e o calor é fervente), a cabeça começa a ter um funcionamento inusitado. Foi nessa situação que cheguei em casa, liguei a televisão e deitei no chão da sala.
Era sábado, e já rolava o segundo tempo do jogo entre Manchester City e Burnley, pela Copa da Inglaterra. Reparei que o placar apontava 1 a 0 para o pequeno, mas nem me surpreendi. Eu estava meio que no automático. Narrador e comentarista falavam sobre a inoperância do City no jogo – algo que só fui comprovar depois, quando assisti à reprise. O time nada havia criado no primeiro tempo, sempre insistindo em seu estilo de troca de passes com a bola no chão.
O empate saiu aos 11 minutos. Nada que me tirasse do ‘semitranse’, até porque nem o câmera estava ligado no lance. Só pegou a parte final. Em uma falta cobrada rapidamente, Gundogan acionou Agüero pelo meio da defesa e o argentino, esperto, marcou.
Logo depois, aos 13, despertei. Agüero pegou uma sobra na intermediária ofensiva e tinha no seu caminho uma armada de seis atletas do adversário. Para superá-los, ele só precisou da ajuda de um companheiro. Gundogan recebeu a bola já próximo à marca do pênalti e, cercado pelos mesmos seis rivais, devolveu o passe ao argentino usando o calcanhar. Agüero ainda deu um curto drible no goleiro antes de tocar para a rede.
O improviso da tabela
Naquele momento, não me impressionei com o lindo gesto técnico do alemão/turco. Tampouco com a frieza do argentino. Achei genial o triângulo formado pela jogada, uma das mais simples do futebol (sim, o velho ‘um, dois’ que você faz no baba). Está tão enraizada no brasileiro a cultura do drible que pouco paramos para admirar lances como esse. Embora pareça automatizado, ele geralmente exige tanta capacidade de improviso quando uma jogada de drible. Ou alguém acredita que Pep Guardiola já havia calculado previamente com Agüero aquela rota nas pequenas frestas deixadas pelos marcadores? Ou que Gundogan sabia que o passe só sairia de forma perfeito se executado daquela maneira?
A beleza geométrica do jogo do City é o que permite ao time bater adversários da forma mais difícil, aniquilando-o pelo meio de sua defesa. E a convicção sobre sua capacidade de ser eficaz jogando assim explica a insistência. É claro que a equipe também se utiliza de cruzamentos – já escrevi sobre isso – mas o faz como parte de um repertório, não como recurso único após o fracasso da estratégia inicial.
Ante o Burnley, dono da quarta defesa menos vazada do Campeonato Inglês, poderia estar claro para quase todo mundo que seguir tentando penetrar na área pelo meio não era a melhor solução para furar aquelas linhas tão rígidas. Pois foi pelo centro, com passes em jogadas geniais, que o City chegou aos três gols que revertaram a situação adversa (a partida terminou em 4 a 1).
O terceiro gol (destacado em vermelho no infográfico) exibiu forma geométrica semelhante à do segundo (colorido de azul), também com toques de improvisação. Ao receber de Danilo, Sané, ao invés de dominar a bola, recorreu a um passe de primeira para um colega ao lado. Uma decisão ao mesmo tempo simples e crucial, que permitiu a ele o avanço no contratempo do movimento dos defensores. Silva também não precisou dominar para devolver a redonda ao alemão, que chutou no canto.

Já virtual campeão inglês, o Manchester City é a sensação da Europa no momento. Depois de sair do Barcelona, Guardiola jamais fez o Bayern jogar da maneira que os Citizens têm conseguido. Paralelamente, Barça e Real Madrid caem de nível. E o PSG aparece sem tanta beleza e precisão, mas com muito talento e vontade de vencer. A partir de fevereiro, quando começa o mata-mata da Liga dos Campeões, espero resultados diferentes daqueles que temos nos acostumado. Veremos.
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