DETALHE TÁTICO
Defeitos e virtudes
Por Daniel Dórea
As histórias mais comoventes e convincentes sempre são aquelas que conseguem apresentar personagens com características boas e ruins, sem o status inalcançável de herói ou a condição imperativa de vilão. Entretanto, há quem tenha a ideia fixa de que alguém é 100% bom ou 100% mau. Virtudes e defeitos, nesse caso, estariam sempre separados, jamais misturados.
Durante alguns jogos, costumo opinar nas redes sociais. Geralmente faço um resumo do primeiro tempo e outro da partida completa após o apito final. Neste domingo, no intervalo do confronto entre Juazeirense e Bahia, escrevi no Twitter que era justa a entrada de Júnior Brumado, em processo de evolução, no lugar de Kayke, em péssima fase. Tricolores me criticaram por ver melhora que eles não conseguem enxergar no centroavante da base.
O Bahia perdia por 1 a 0 e virou a partida com gol de Brumado já nos acréscimos. Com o 2 a 1 consumado, pontuei que o feito do garoto de 18 anos era merecido, por superar sua limitação técnica com muita força de vontade. Aí, as críticas vieram por motivo contrário, devido a um reconhecimento de deficiência do jogador.
A verdade é que o grandalhão de 1,90 m é as duas coisas: um cara que aparenta não ter aptidão para jogar bola e um atleta promissor por usar de outros artifícios (força física, raça) para compensar a falta de apuro técnico. Exemplo de xodó recente da torcida, Fernandão pode ser descrito com as mesmas palavras.
Nesta terça, 6, diante do que Kayke vem mostrando, não é absurdo pensar em Brumado como titular. Mas é nítido: ele apresenta muito mais defeitos do que qualidades. Melhorou um pouco sua eficiência no pivô com o uso mais competente do corpanzil, porém precisa tratar melhor a bola para que as jogadas com sua participação se tornem mais promissoras. A deficiência de maior gravidade, entretanto, é num aspecto que poderia ser o seu ponto forte: o jogo aéreo. Falhas no tempo de bola e na técnica das cabeçadas o impedem de aproveitar a ótima estatura.
Outro lado de Gregore
Passo, agora, a comentar sobre um atleta que tem conseguido elogios da torcida, apesar do início de ano cambaleante do time. O volante Gregore, de fato, vem mostrando potencial admirável.
Mas o problema é que nossas análises – coloco as minhas nesse balaio – costumam considerar, praticamente, apenas o que os jogadores fazem quando têm a bola. E, diferentemente de Brumado, Gregore sabe tratá-la bem. Exibe técnica razoável de passe e uma excelente capacidade de conduzir a redonda em arrancada. Também é bom em desarmar adversários.
Em contrapartida, atuando como a peça de proteção entre as linhas de defesa e de meio-campo no 4-1-4-1 de Guto Ferreira, ele vem tomando decisões arriscadas – e erradas – no momento em que o Bahia não está com a bola. Sua prioridade deveria ser a recomposição para não deixar a equipe desguarnecida, mas ele tem optado quase sempre por tentar destruir abruptamente os lances dos oponentes.
No gol sofrido diante da Juazeirense, depois de uma das inúmeras bolas perdidas por Kayke, o Tricolor se viu ameaçado por um contra-ataque. Quando o meia Jussimar foi acionado, os dois atacantes do Cancão estavam no mano-a-mano com a dupla de zaga do Esquadrão. Além disso, havia o avanço do meia Bruno pela esquerda, aproveitando-se do fato de o lateral Nino ter se lançado ao ataque.
Confiram no infográfico que Gregore poderia ter recuado para esperar a recomposição dos demais atletas do Bahia e retardar a jogada do adversário. Ao invés disso, avança para tentar cortar o lançamento de Jussimar. Não deu certo. A bola chegou a Rayllan, que passou para a conclusão certeira de Bruno. Gregore poderia ter feito a cobertura para evitar que o autor do gol tivesse aparecido livre, mas desistiu do lance. Nino, que voltou no desespero, parece ter reclamado dele depois do tento confirmado.
A diferença entre Brumado e Gregore é que os defeitos do primeiro são mais evidentes que os do segundo. O contrário serve para as virtudes.
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