DETALHE TÁTICO
Desorganização organizada
Por Daniel Dórea
Falamos muito em ‘organização’ ao analisar o desempenho de um time de futebol, mas é essencial não levar essa palavra tão ao pé da letra. Todos aqueles esquemas númericos (4-4-2, 4-2-3-1, 4-3-3, 4-1-4-1 e várias outras combinações) servem mais como referência, principalmente no momento em que o time não tem a bola, ou como um ponto de partida para a movimentação dos atletas na execução de um ataque.
Essa ‘organização’, porém, não deve colocar amarras nos jogadores, que precisam de boas doses de liberdade ‘organizada’ para o bem do funcionamento do time. Quem tem aplicado essa lição com primor é o técnico Vágner Mancini, num louvável esforço de superação diante das limitações que o elenco do Vitória lhe impõe.
Longe de mim encher de elogios a mediana equipe rubro-negra, que, pelo que vejo no panorama atual, deve fazer campanha semelhante à do sofrido ano de 2017. Entretanto, consigo enxergar suas virtudes. A principal se mostra na composição imprevisível de vários de seus ataques e contra-ataques.
Quem pode ser o jogador a infiltrar para ser o cara do toque decisivo nas investidas rubro-negras? Praticamente qualquer um, com excessão feita só ao goleiro e aos zagueiros – em lances de bola rolando. Não é raro ver Uillian Correia, teoricamente o meio-campista menos ofensivo do time, avançar para um passe final ou mesmo para concluir uma jogada. O mesmo se pode dizer dos demais atletas do setor, além dos laterais e, é claro, dos atacantes.
Ocupação
Neste domingo, no triunfo por 2 a 1 sobre o Atlântico, o Vitória jogou num 4-4-1-1. À esquerda no infográfico, vemos o posicionamento ‘organizado’ dos oito atletas que participam das tramas ofensivas do Leão. Repara-se facilmente a escassez de talento, sobretudo na linha de meio-campo. Na comparação com o rival Bahia, o que falta em qualidade técnica quando se pensa em nomes como Régis e Allione, sobra em foco e responsabilidade na recomposição defensiva e na movimentação de ataque de caras como Uillian Correia, Fillipe Soutto e Yago.
Apesar da postura que, aparentemente, dá ênfase à segurança defensiva, é na frente que o Vitória tem colhido os melhores resultados de sua forma de jogar. No infográfico à direita estão espalhados os mesmos oito jogadores do primeiro desenho. O canhoto Bryan preparava-se para a cobrança de um lateral próximo à linha de meio-campo, e o time partia para uma ameaçadora ocupação do campo de ataque.
Yago, que atua como meia pela direita, aparecia na ponta esquerda – setor de Juninho, que já se infiltrava nas proximidades da área ofensiva. Neilton, o elo de ligação entre o meio e o ataque, recuava, assim como o centroavante Denilson, para abrir espaço para os avanços dos volantes Uillian e Soutto. Ao mesmo tempo, Lucas saía da lateral direita para uma infiltração surpresa em diagonal.
Foi ele quem recebeu o passe cavado de Neilton, depois de a bola passar pelos pés de Denilson. Ação surpreendente o bastante para confundir a marcação adversária. Mesmo cercados por quatro rivais, Lucas e Yago, os jogadores do Vitória que se apresentavam mais ‘deslocados’ de acordo com o posicionamento inicial do time, completaram de forma inspirada o lance do gol da virada rubro-negra.
O ingresso no time titular de reforços como o polivalente Rhayner – certamente no setor ocupado por Juninho – e de um centroavante superior a Denilson pode dar uma força maior à equipe. Um adendo: a dinâmica tática do time se mostra razoável para a situação atual do clube; para uma subida de patamar, será preciso buscar também uma evolução na parte técnica – contratações para o miolo de zaga e de peças mais decisivas no ataque são as maiores necessidades.
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