DETALHE TÁTICO
Invasão à área
Por [email protected] | Dhavid Normando | Estadão Conteudo
Vale a pena rever um jogo para entendê-lo melhor. Durante a partida de domingo, no Maracanã, entre Fluminense e Bahia, observei Zé Rafael como o atleta mais produtivo do Esquadrão. Pontuei esse detalhe na minha análise publicada ontem no jornal.
Na reprise, porém, mudei de opinião. Não sobre a boa atuação de Zé, mas em relação à escolha do melhor em campo, que foi, sem nenhuma dúvida, o armador Vinicius.
Talvez beneficiado por um modo meio ‘old school’ de jogar do Flu, com uma marcação mais frouxa do que o normal, sem linhas definidas, o Tricolor baiano conseguiu exercer um domínio inesperado, principalmente na etapa inicial.
Mais do que isso, o Bahia criou um número considerável de chances de gol com jogadas trabalhadas desde o setor de meio-campo. Apareceu em boa condição de finalizar, dentro da área ou nas proximidades, em sete ocasiões – três delas após longas tramas com toque de bola consciente.
Um representante dessa trinca, o mais significativo, está ilustrado no infográfico. Mesmo melhor no jogo, o Esquadrão já se encontrava atrás no marcador. Quatro minutos depois do golaço do excelente Pedro, entretanto, mostrou que não havia motivo para desespero. Numa jogada que durou 33 segundos e teve 12 trocas de passe até a finalização, Vinicius quase conseguiu empatar em toque de cabeça.
Mas não se prenda à conclusão do lance. Rebobine a fita. Tudo começou numa sobra apanhada por Bruno no meio de campo. A partir daí, houve a participação de sete jogadores num lance trabalhado com paciência e proatividade, característica que em várias partidas falta a Vinicius. Não foi o caso. A bola passa por ele quatro vezes na jogada antes da testada fora do alvo. O meia recebe à esquerda, na intermediária ofensiva, e procura movimentar a redonda com passes curtos. Tabela com Elton, Zé Rafael, Gregore e Bruno até abrir para o centroavante Gilberto na direita.
Parêntese para a movimentação necessária do goleador – que esteve mal tecnicamente, mas seguiu fazendo um bom papel tático. Mesmo sem Gilberto na zona de finalização, quatro jogadores do Bahia apareceram na área para tentar concluir. Entre eles Vinicius, que também peca em muitas partidas por pouco buscar a infiltração. Com essa média de quatro, até cinco atletas na área, o Tricolor esteve em muitos momentos bem perto do gol. Foi assim nos outros lances de trama longa da equipe, terminados na cabeçada para fora de Elton e no ‘bug’ de Gilberto, que demorou a chutar dentro da pequena área.
Efetividade
Essa ‘invasão’ tricolor à área adversária explica um número interessante, além do de chances de finalizar em boa condição de gol: o da efetividade nos cruzamentos. Uma das doenças do futebol que se joga atualmente no Brasil é o vício em limitar as tentativas de ataque a cruzar bolas de qualquer maneira. Porém, com a boa representatividade de atletas que teve na área do Flu, o Bahia conseguiu uma alta média de acerto nos cruzamentos: nove (38%) das 24 bolas alçadas encontraram um companheiro. O Fluminense teve 16% de precisão (quatro de 25). Líder em cruzamentos certos no Brasileiro, o Cruzeiro consegue 24% (109 de 460).
Foi desta forma que saiu o gol de empate do Esquadrão. Após bola roubada na intermediária de ataque, Vinicius encontrou Élber na direita e avançou à área, onde estavam quatro tricolores no momento da conclusão da jogada. Entre eles, Edigar Junio, que aproveitou o cruzamento de Élber para cabecear para a rede. Imagino que seja por esse motivo, o de oferecer uma opção mais concreta na busca pelo gol, que Edigar venha sendo mantido como titular, apesar da fase técnica ruim. No domingo, a escolha deu resultado.
A coluna Detalhe Tático terá, agora, um intervalo de três semanas e retorna no dia 4 de setembro. Até lá!
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