DETALHE TÁTICO
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Por Daniel Dórea
Ninguém deveria ser louco de contestar veementemente o trabalho de Vagner Mancini neste seu regresso ao Vitória. Com ele, que disputou pouco mais da metade do Brasileirão pelo clube – 22 (58%) de 38 jogos – o Leão conquistou 31 (72%) de seus 43 pontos. O aproveitamento da equipe sob o comando do treinador foi de 47%, bem superior ao geral no campeonato: 38%.
No entanto, há que se ter senso crítico. E a rigidez dos números, quando analisados com aprofundamento maior, pode ajudar a se chegar a um diagnóstico técnico mais preciso sobre o que foi o esquizofrênico Vitória de Mancini nesta Série A. Nos primeiros 10 jogos do técnico, o time conquistou incríveis seis triunfos, com dois empates e duas derrotas. Um aproveitamento impensável de 67% que bate até o do campeão Corinthians. Entretanto, nas 12 últimas partidas, a queda foi brusca. Duas vitórias, cinco igualdades e cinco reveses, o que constitui um rendimento de 31% (inferior ao do lanterna Atlético-GO).
São paradoxos em excesso para a mente humana, mas podemos tentar entendê-los. Quando chegou a um Leão afundado na zona de rebaixamento e mergulhado em crise técnica e política, Mancini constatou que teria de escolher a via mais simples para tentar salvar a equipe. Estabeleceu um sistema de jogo primário – de marcação com toda a equipe no campo de defesa e aposta total nos contra-ataques – e surpreendeu rivais desavisados.
A solução, obviamente, tinha prazo de validade. Ele já expirou há algum tempo e a ideia precisa ser abandonada no ano de 2017, passando para, em 2018, uma busca por alternativas mais ousadas e ‘independentes’ – ou seja, que não coloquem tanto nas mãos da incompetência alheia as possibilidades de sucesso rubro-negro.
Não tanto a incompetência, mas a morosidade e o aparente desinteresse do Flamengo fizeram com que a estratégia clássica do Vitória desse certo na maior parte do dramático jogo de domingo. Foram quase nulos os sustos passados pelo Leão até os gols que definiram o 2 a 1 para o Fla nos minutos derradeiros.
Em alguns momentos, é possível ver um curioso esquema 2-4-4-0 quando o time de Mancini se defende. Com todos os jogadores atrás do dono da posse da bola, por vezes os atletas mais ofensivos (Yago e Kieza, na escalação inicial), recuam para formar a linha mais ‘avançada’ com os dois armadores, enquanto uma segunda linha é composta pelos volantes e laterais, e a terceira – que funciona praticamente como uma sobra – fica para a dupla de zagueiros. Em outros momentos, os ‘atacantes’ tentam apertar um pouco mais a marcação, transformando o esquema num 4-4-2, com uma linha formada por zagueiros e laterais, e outra pelos meio-campistas.
Foi com esse posicionamento estabelecido do Vitória que o Flamengo chegou ao gol de empate que lhe devolveu à vida no jogo. No momento em que Rafael Vaz procurava o que fazer com a bola já na intermediária ofensiva, o Leão aguardava a definição da jogada do rival num, digamos, 4-6-0 (confira no infográfico). Bastou uma decisão mais ousada, com o zagueiro do Urubu encarando as linhas de marcação, partindo para a arrancada e servindo ao ponta Vinicius Júnior, que a zona de conforto do Vitória acabou desmontada. No desespero, oito jogadores do Rubro-Negro baiano adentraram a área defensiva, acuados. Não evitaram o tento do mesmo Rafael Vaz que iniciou a trama.
Mais propositivo
É certo que na cabeça de Mancini está a ideia de, no ano que vem, com um time reconstruído, procurar uma solução mais propositiva. E que o sofrimento seja menor, sem depender de resultados que extrapolem as quatro linhas nas quais os atletas do Leão estiverem defendendo a camisa rubro-negra. Porém, é possível, sim, transportar para 2018 aspectos positivos que se viram na equipe, mesmo neste final de temporada assustador.
Diante do Flamengo, era notável a preocupação de Vagner Mancini em fazer seu time ocupar o campo ofensivo no momento em que tinha a bola. Foi com este posicionamento incisivo, e não por meio de um contra-ataque, que o Vitória marcou seu gol no embate. É verdade que o deslocamento em bloco do Leão ao campo do adversário ocorre, invariavelmente, nas horas em que seu goleiro parte para o chutão. Após a sobra de uma dessas rifadas de bola, Carlos Eduardo recebeu na área para balançar a rede. O dever de trabalhar muito em 2018 se apresenta para que as tramas para chegar a situações como aquela sejam menos fortuitas, mais pensadas. E mais frequentes.
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