DETALHE TÁTICO
Juventude da alma
Por Jornalista l [email protected]
Um tem 69 anos de idade e 37 de carreira como treinador. O outro, aos 46, teve sua primeira experiência como técnico de uma equipe profissional 10 anos atrás. O primeiro, Paulo Cézar Carpegiani, lançou três jovens que tinham pouca ou nenhuma esperança de jogar no time principal e apostou na sequência deles para fazer um combalido Vitória reagir. O segundo, Enderson Moreira, num Bahia muito mais ajustado e propício para o ingresso de meninos talentosos, descobriu Ramires, de 18 anos. Após uma bela estreia como titular, o treinador, entretanto, não o tirou do banco na partida seguinte. Explicação: “Fizeram muito auê com a atuação dele. Isso é perigoso”.
Ora. Somos um país exportador de atletas. Ramires se mostrou suficientemente tranquilo em seu debute como profissional. Ajudou o time a vencer. Seria um risco tão gigante assim mantê-lo no time? É a prova de que a diferença de visão não vai da idade, da geração. Carpegiani é um visionário, um treinador especial, capaz de mudar rumos com simples escolhas. Enderson dificilmente passará de seu estágio mediano.
Com um time tecnicamente bastante inferior ao do Bahia, o Vitória aparece hoje à frente na classificação do Brasileiro, com confortáveis cinco pontos de distância para a zona de rebaixamento. Nos últimos quatro jogos, não sofreu gol. Venceu três partidas, todas por 1 a 0, e empatou uma. É óbvio, nítido, que o Leão segue sendo um time fraco. Porém, não é preciso muito para fazer uma campanha digna numa competição como a Série A. Um mínimo de organização defensiva, com soluções inteligentes no ataque, mesmo que raras, são o bastante.
É isso! Durante a maior parte do tempo nos jogos, o Vitória apresenta muitas dificuldades para exercer domínio sobre o adversário. Mas a tentativa está ali, clara. Transições eficientes da defesa para o ataque não acontecem tantas vezes, mas, no futebol, uma vez pode ser suficiente. Diante do Vasco, no último domingo, com o insistente incentivo de Carpegiani à beira do gramado por um jogo “mais rápido”, o Vitória soube sair bem com a bola em ocasiões não tão raras assim. Sempre com inversões de jogada e trabalhos de troca de posição entre os homens de frente.
Ter o móvel Léo Ceará como centroavante ajuda, mas, diante de um Vasco que muitas vezes se postava todo da intermediária defensiva para trás, era preciso buscar algo diferente. Foi o que Carpegiani fez aos 22 minutos do segundo tempo, ao trocar Neilton por André Lima. Assim, teria no ataque dois jogadores capazes de manter a posse de bola mesmo de costas para o gol, e também de colocar os meio-campistas para receber a bola de frente para a área ofensiva, com espaço para avançar.
Clarões
Quatro minutos depois da mudança, saiu o gol que resolveu o confronto. E o lance começou de maneira pouco promissora, com Marcelo Meli encurralado na linha lateral, na intermediária defensiva. O argentino recomeçou a jogada, que se desenhou a partir da área rubro-negra. Após sete trocas de passe em 23 segundos, Erick apareceu na cara do gol para balançar a rede (veja no infográfico).
Solução que geralmente desagrada a impaciente torcida, o ato de recuar a bola foi decisivo para abrir clarões na marcação vascaína. Como os atacantes avançaram para fazer a pressão e os demais setores não acompanharam, o time ficou ‘esticado’. Enquanto, normalmente, as equipes atuais jogam apenas em metade do campo, o Vasco, naquele momento, estava espalhado por quase todo o gramado.
Desta forma, usando os dois centroavantes capazes de fazer o pivô, o time colocou o volante Léo Gomes nas duas grandes brechas deixadas pelo Vasco, justamente nos espaços entre as linhas. Na parte final do lance, valeu a boa técnica do garoto para colocar a bola no pé de Erick, em condição perfeita para a finalização.
Não por coincidências as três jovens apostas de Carpegiani, estrategicamente pinçadas para cada setor do time, participaram da jogada. A serenidade de Lucas Ribeiro, 19, para sair com a bola, a dinâmica de Léo Gomes, 21, e a disposição de Léo Ceará, 23. Somando a idade dos três, não dá a de Carpegiani, que conta com a juventude da alma para ousar.
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