DETALHE TÁTICO
Rivais Revisados
Por Jornalista l [email protected]
Convencionou-se nos últimos anos dizer que o Corinthians joga um ‘futebol chato’ e que o Palmeiras tem o ‘melhor time do Brasil’. Eu reviso ambas as frases. O Corinthians aplica estratégia correta e eficiente para os jogadores que dispõe; e o Palmeiras possui um elenco muito caro, que ainda não encontrou uma maneira de se impor para justificar o investimento desproporcional ao dos rivais.
O clássico do último sábado foi mais uma amostra do quanto o Timão se encontra num estágio superior em relação à maturidade tática. Quando quero comparar o funcionamento de duas equipes, analiso como elas fazem a saída de bola. Nesse ponto, a engrenagem palmeirense se mostra bastante falha. E não é um defeito que apareceu agora, mas uma herança da época do técnico Cuca.
Quando não há o chutão do goleiro, a bola chega aos zagueiros, que logo são auxiliados pelo recuo dos volantes – no caso de sábado, Felipe Melo e Tchê Tchê. Somando os laterais Marcos Rocha e Michel Bastos, está feita a divisão no time. A troca de passes se limita a essa linha de seis atletas, normalmente ainda no campo defensivo, e a ligação com os quatro jogadores mais ofensivos (Lucas Lima, Willian, Dudu e Borja) só se faz por meio de lançamentos longos ou quando Felipe Melo, dotado de técnica impressionante de passe, arrisca um exemplar ‘suicida’ para romper a marcação adversária.
Considero extremamente arriscadas as tentativas de passe vertical pelo chão de Felipe Melo porque a engrenagem da equipe não está preparada para isso. A distância entre os setores é muito grande. A cada vez que um dos seis atletas da linha mais recuada pega na bola, ergue a cabeça para ver se há possibilidade de sucesso em conexão longa. Se não há, a redonda vai girando de pé em pé, horizontalmente. E tem boa chance de terminar com chutão, como no caso do lance ilustrado à esquerda no infográfico. A jogada se desgastou até Marcos Rocha ficar imprensado na lateral e ser obrigado a se livrar da bola.
Paciência e objetividade
No Corinthians, há um misto de paciência e objetividade. Todas as movimentações são pensadas para que, mesmo com passes curtos, não se demore muito para a bola tomar rumos verticais. É como se a equipe fosse ganhando metros gradativamente, enquanto o rival anda ‘sem sair do lugar’ até resolver alcançar de uma vez toda a distância que poderia, antes, ter percorrido aos poucos. No lance à direita no infográfico, a troca de passes ocorreu desde o tiro de meta do goleiro, passando por zagueiros, volantes e laterais até, sem demora, chegar ao pé de um meia, em boa condição já no campo ofensivo.
É essa consciência de saber o momento certo de acelerar e o de conservar a posse da bola que faz o time de Fábio Carille – que já foi o de Mano Menezes e o de Tite, num trabalho de fixação tática que vem de cerca de oito anos – ser tão constante, apesar da nítida limitação técnica do elenco em geral e específica de alguns titulares. Incrível pensar no Corinthians como o time mais preparado do país mesmo com jogadores como Clayson e Romero entre os 11 principais.
Outra limitação é no comando do ataque, problema que Carille solucionou no sábado ao eliminar a figura do centroavante e propor o revezamento dos meias Jadson e Rodriguinho no setor. Apresentar tamanha variação de posições é certeza de dificuldade para o rival. No primeiro gol, o Corinthians troca 28 passes até o drible final e a conclusão certeira de Rodriguinho. A jogada dura 1 minuto e 24 segundos. Começa num contra-ataque, que precisa ser interrompido por falha na trama. A partir do 11º toque, todos os palmeirenses já estão postados atrás da linha da bola, mas o Timão faz com perfeição os trabalhos de ultrapassagem e vence a dificuldade com maestria.
Anotei alguns números que comprovam a superioridade no jogo corintiano até o momento em que o Palmeiras ficou com um a menos, no início do segundo tempo, facilitando ainda mais as coisas. O Verdão teve de apelar a chutões na saída de bola nove vezes, contra cinco do Timão. Recorreu a lançamentos longos em 11 ocasiões, enquanto o Corinthians usou o recurso seis vezes. Por fim, o Alvinegro adentrou a área adversária em lances construídos em 10 oportunidades, criando cinco chances claras. O Palmeiras, por sua vez, teve seis aproximações perigosas, com quatro ocasiões de gol.
Apesar de enxergar no Corinthians um time mais bem preparado, vejo no Verdão um candidato mais forte ao título da Libertadores, pelo ímpeto que apresenta em partidas decisivas. É uma equipe vibrante. Pela constância, vejo o Timão com mais chance no Campeonato Brasileiro.
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