DETALHE TÁTICO
Será que Talisca vai?
Por Jornalista l [email protected]
O que poderia estar agora passando na cabeça de um menino que cresceu num bairro pobre e perigoso, viu florescer há nove anos a ilusão de virar jogador de futebol profissional, tornou-se de fato um quatro anos depois, ganhou o mundo e, hoje, a três meses da Copa, ganha chance real de jogar o maior torneio do planeta com a camisa da mais vencedora seleção de todos os tempos?
Definitivamente, não me arrisco a adivinhar os sentimentos do menino Doda, que brincou, jogou bola e capoeira na Fundação de Apoio ao Menor de Feira de Santana, virou Talisca ao ver escorregarem os meiões por suas canelas finas de adolescente, já nas divisões de base do Bahia, e foi vendido por 4 milhões de euros para repetir as estripulias dos babas em algumas das principais competições da Europa.
O que posso fazer aqui é tentar entender o que Tite pretende com a convocação de Anderson Talisca. O garoto de 24 anos, que parecia fora dos planos, entrou na lista dos importantes amistosos contra Rússia e Alemanha, às vésperas do Mundial. É provável que Talisca esteja entre os 23 da relação final? Neste momento, eu responderia não. Desconfio, infelizmente, que sua presença esteja condicionada a uma tragédia: Neymar não se recuperar a tempo.
Leque de opções
Não que os talentos possam se equiparar ou que a função exercidas pelos dois em campo sejam semelhantes. Muito longe disso. É que, sem Neymar, Tite precisaria de um leque maior de opções solucionadoras de problemas. E se o time estiver preso entre compactadas linhas defensivas europeias? E se faltar profundidade às jogadas? E se nada der certo e for preciso ter alguém que jogue tudo para o alto e tente um gol impossível? Talisca poderia ser a resposta a essas perguntas.
Para ser um atleta ‘top’, o feirense ainda tem de largar de vez a marra e admitir que necessita mudar de comportamento – fora e dentro de campo. Ele ganha inimizade de colegas, arruma rixas, não cumpre à risca funções táticas solicitadas, não mantém a regularidade que se espera. É o que faz um cara com tantos atributos estar jogando emprestado ao Besiktas pelo Benfica. Técnica de chute e passe espetacular, adaptação fácil a várias posições no setor ofensivo, criatividade e auto-confiança elevada. Todas essas notáveis compensações poderão estar à disposição da Amarelinha.
Jogo mais fluido
Além disso, Talisca apresenta-se como uma opção útil de jogo mais fluido entre linhas de defesa e meio-campo dos adversários. Além de Neymar, que constrói com arrancadas e passes agudos a partir dessa brecha, a Seleção conta com Philippe Coutinho, especialista em finalizações de média distância e também em passes infiltrantes ao receber bolas na intermediária ofensiva. Sem Neymar, Talisca torna-se outra alternativa. Com a desvantagem de não ser tão veloz e habilidoso, mas com a virtude de contar com o chute de longa distância e de se transformar, esporadicamente, num armador.
Foi o que vi no segundo tempo do jogo da última quarta-feira, no qual o Besiktas perdeu por 3 a 1 para o Bayern. Talisca começou no banco e entrou no início do segundo tempo. Variou bastante seu posicionamento no gramado. Ora buscou o jogo atrás das duas linhas de marcação bávaras, sempre tentando passes verticais (confira no infográfico as situações 1 e 2), ora se arriscava entre essas linhas (no lance 3, liberou-se da marcação ao se deslocar à ponta esquerda e, na jogada 4, fez até um trabalho de pivô).
Nenhuma de suas iniciativas resultou em real ameaça ao Bayern, mas isso poderia ter acontecido caso contasse com colegas mais qualificados e/ou inspirados. Veremos se esse detalhe fará diferença na próxima sexta, contra a Rússia – se ele entrar em campo, né?
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