DETALHE TÁTICO
Só com qualidade
Por Jornalista [email protected]
“Eu teria paciência para esperar a fase de adaptação e ter o prazer de ver o meu time sob o comando de Fernando Diniz. Você teria caso ele fosse contratado para o seu?”. Com esse questionamento terminei uma coluna publicada dois anos atrás.
Naquela época, Diniz treinava o pequenino Audax, de São Paulo, e impressionava com uma imposição de jogo diferente – para os padrões atuais brasileiros. Chamava atenção a intensa troca de passes com a bola no chão, até mesmo quando a defesa se via acuada dentro de sua área. A ideia – audaciosa para alguns, arriscada para outros – recebia elogios de todos, mas nenhum time de relevância tinha coragem de comprá-la. Até o Atlético-PR dar chance ao técnico nesta temporada.
Como já tem sido hábito no Furacão há anos, o clube colocou a equipe reserva para atuar nos primeiros compromissos de 2018 e estendeu a pré-temporada para Diniz implementar sua metodologia no grupo principal. O resultado já se vê em campo, com rápidos quatro meses de trabalho. O Atlético é um time equilibrado, que busca o controle da posse de bola, agrupa-se em uma pequena parte do campo e alia a ofensividade a uma eficiente recomposição defensiva – engana-se quem classifica a equipe como suicida, pois ela quase sempre consegue diminuir os espaços para o adversário e, quando bem postada, defende com uma linha de cinco e outra de quatro atletas.
O Furacão é também o próximo adversário do Bahia pelo Brasileiro, domingo, na Fonte Nova. A tarefa será muito complicada para o Esquadrão, mas o técnico Guto Ferreira certamente assistiu à partida de domingo contra o Grêmio, e dela irá traçar caminhos para um possível sucesso na empreitada.
O jogo terminou sem gols, mas o Tricolor gaúcho só não marcou mesmo por falta de sorte e competência de seus atacantes. Com um entendimento raro entre seus jogadores para trabalhar de pé em pé com objetividade, o Grêmio não poucas vezes superou a marcação por pressão do Atlético-PR e incomodou demais.
Fiz um levantamento dos pontos cruciais do confronto até a expulsão do meia rubro-negro Camacho, aos 28 minutos do segundo tempo – porque, a partir dali, o jogo se transformou num natural ataque contra defesa, com o Grêmio sufocando. Até então, o time comandado por Renato Gaúcho havia criado dez boas situações de gol, contra apenas três do rival. Melhor do que isso, executava com perfeição sua estratégia de combater a saída de bola do Atlético com marcação alta. Tanto é que conseguiu um total de 11 desarmes no campo de ataque ao impor essa pressão. Dessas bolas roubadas saíram três das ocasiões de gol.
Inteligência
Outras quatro tiveram origem ainda no campo de defesa, de onde o Grêmio escapou da agressiva marcação rubro-negra com inteligência. Mesmo quando o Atlético não pressionava, o Tricolor fazia questão de recuar a bola para atrair as linhas mais ofensivas do adversário para a frente. Com essa movimentação, abria-se um espaço entre os jogadores de meio-campo e a retaguarda – quase sempre com a última linha reduzida a quatro atletas, quando Diniz espera que sejam cinco (os dois laterais e os três zagueiros).
No infográfico, destaquei lances em que o Grêmio conseguiu alcançar esse clarão na intermediária ofensiva de variadas formas. Na jogada 1, usou o pivô André para, de costas, acionar Luan, este já com campo livre para avançar. No lance número 2, valeu a ousadia no passe do zagueiro Bressan, que esticou bem a bola (no chão) para Everton, também em situação propícia para a arrancada. Na trama seguinte, o Tricolor buscou a lateral do campo para atrair a marcação e novamente achar um armador, Luan, pelo centro. Na jogada 4, Alisson, que entrou no segundo tempo para dar ainda mais rapidez ao ataque, recebeu de Arthur ainda no seu campo e usou a velocidade para driblar e percorrer o espaço concedido com a redonda nos pés.

A lição é que só com qualidade o jogo pode fluir melhor para os adversários do Atlético-PR. Falo não apenas de qualidade técnica dos atletas, mas também de qualidade no trabalho tático, com o acerto das movimentações que devem ocorrer para ultrapassar as agressivas linhas do Furacão. Será que dá para o Bahia?
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