ECONOMIA DO MAR
Recifes de coral valem cerca de R$ 160 milhões na economia baiana
Start-up baiana trabalha na recuperação de mais de 10 mil recifes na Baía de Todos-os-Santos
Por Joana Lopo
Os recifes de coral brasileiros têm um valor econômico estimado em R$ 160 milhões – montante calculado a partir da movimentação monetária que eles causam, especialmente no turismo. Foi o que explicou o presidente da startup Carbono 14, José Roberto Caldas Pinto, mais conhecido por Zé Pescador. Ele foi um dos palestrantes no II Fórum Nacional da Economia do Mar, que ocorreu na quinta-feira (20), no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) e é um entusiasta da economia sustentável.
“A existência de um recife de coral, por si, tem valor inestimável, mas a preservação também movimenta a economia, atrai turismo, então precisamos preservar”, observa. “E a partir da nossa parceria com Braskem e Petrobras, vamos recuperar mais de 10 mil recifes de corais na Baía de Todos-os-Santos. A BTS pode se tornar uma referência internacional em recuperação de ecossistemas e, ao mesmo tempo, gerar renda para as comunidades.”
A startup Carbono 14 é uma empresa baiana dedicada à gestão, controle e monitoramento de ecossistemas costeiros. Em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBa), ela desenvolve a capacitação de jovens e marisqueiras para promover a restauração de recifes de corais.
De acordo com Zé Pescador, o objetivo da empresa é de recuperar estoques pesqueiros que sustentam as populações locais e aumentar a resiliência do ecossistema. Para isso, foi criado, durante uma ação de controle do coral-sol, um método inovador, a partir de uma espécie invasora que prejudica a biodiversidade nativa. Os mergulhadores extraem o coral indesejável de plataformas de petróleo e navios, usando-o na construção de sementeiras onde são fixadas mudas de corais nativos implantados nos recifes.
“Até o momento, o projeto já criou mais de mil berçários em uma área de 1,5 km² de coral que estava degradado, na região da ilha de Maré”, conta o empresário. “Este é um dos maiores projetos de restauração do mundo e tem atraído a atenção até do Ministério do Meio Ambiente, sendo destaque na COP 26 realizada na Colômbia.”
Segundo Zé Pescador, o trabalho é 90% braçal e integra o conhecimento tradicional das comunidades locais com a expertise científica da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “A construção de 1,7 mil sementeiras de corais é apenas o começo”, destaca. “Além disso, o projeto capacita jovens e forma agentes ambientais, promovendo a educação e a conscientização ambiental.”
Tecnologia e Inovação
Um dos aspectos mais inovadores do projeto é a reutilização de embalagens plásticas para criar blocos de recuperação de corais. “Os corais são, para o recife, o que as árvores são para a floresta, então estamos fazendo um trabalho de paisagismo subaquático”, explica Zé Pescador.
O branqueamento dos corais, causado pelo aquecimento das águas devido às mudanças climáticas, é um desafio significativo. No entanto, a equipe do Projeto Corais de Maré está determinada a combater esse fenômeno e transformar a Baía de Todos os Santos (BTS) em um modelo internacional de recuperação de ecossistemas.
Um dos clientes na Carbono 14 é a Belov Engenheria, que iniciou as atividades em 1981, na Bahia. Criada pelo ucraniano que aportou na Bahia ainda pequeno, Aleixo Belov, conhecido como “lobo solitário”, por suas voltas ao mundo sozinho em um veleiro, a empresa tem seu escritório central em Salvador, com um canteiro marítimo e estaleiro em Mapele, na Baía de Todos-os-Santos (BTS), e também uma base no Rio de Janeiro, com operações significativas, conforme contou o sócio-diretor, Juracy Vilas-Bôas, durante o fórum.
Segundo ele, a empresa atua praticamente 100% no mar. “Quase nada é feito em terra, e o pouco que é feito está ligada ao mar”, afirma. “Além disso, trabalhamos muito com a parte de tecnologia e inovação.”
A Belov gera empregos diretos e indiretos, contribuindo para a renda local. Além disso, seus projetos de infraestrutura, como portos e obras subaquáticas, impulsionam o desenvolvimento regional e a economia. De acordo com Vilas-Bôas, a empresa também colabora com fornecedores locais, fortalecendo a cadeia produtiva, sendo, portanto, motor de crescimento e inovação na Bahia.
“Nossa missão é transformar desafios em soluções”, afirma Vilas-Bôas. “Acreditamos na capacidade da engenharia de melhorar vidas e impulsionar o desenvolvimento. Com uma equipe dedicada e tecnologia de ponta, continuamos a construir um legado sólido.”
Legado
Hoje, a Belov é uma empresa sólida, mas seu criador não pensava que chegaria a construir esse legado na engenharia náutica. “Quando eu resolvi montar a minha empresa, nunca pensei que teria 1.600 funcionários, não sei quantos engenheiros, não sei quantas toneladas em equipamentos”, conta Aleixo Belov, de 81 anos. “Nunca pensei isso, mas é isso, todo o meu trabalho foi extensão da minha diversão, então eu me diverti até hoje, nunca trabalhei.”
Celebrado navegador, que já deu seis voltas ao mundo, Belov faz questão de compartilhar seu conhecimento sobre o mar. “Quando construí o Veleiro Escola, já tinha dado três voltas ao mundo sozinho no barco pequeno, mas o Veleiro Escola tinha lugar para 12 pessoas, então eu saí daqui com 12 alunos para dar uma volta ao mundo”, lembra. “Achei que não adiantava nada aprender e guardar esse conhecimento para mim, eu tinha que distribuir isso, tinha que divulgar. Eu escrevi dez livros sobre todas as viagens que fiz. Por isso eu digo que nunca trabalhei, porque quando se faz o que ama, não é trabalho.”
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