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60% dos clientes pagaria mais caro em produtos de marcas sustentáveis

Investimentos globais das empresas em ética e sustentabilidade devem chegar a US$ 53 trilhões até 2025

Publicado domingo, 21 de maio de 2023 às 07:00 h | Autor: Inara Almeida*
Fábio conta que o picolé Capelinha usa  palito de madeira de reflorestamento
Fábio conta que o picolé Capelinha usa palito de madeira de reflorestamento -

A sustentabilidade tem sido uma das grandes apostas das empresas em todo o mundo. Nesse contexto, as práticas de ESG (Environmental, Social and Governance, em inglês –  Governança Socioeconômica e Ambiental, em português) convidam negócios a adotarem um compromisso com o meio ambiente, o campo social e a área de governança, que diz respeito à ética e à transparência. De acordo com a pesquisa ESG Radar 2023, da multinacional de tecnologia da informação Infosys, os investimentos das empresas na pauta devem chegar a US$ 53 trilhões (R$ 273 trilhões) até 2025.

Para além das preocupações com o meio ambiente, que dá indícios reais de desequilíbrio, empreendimentos têm se atentado às práticas ESG para atender ao mercado consumidor, que, cada vez mais, se preocupa com o consumo consciente. A pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2021, do Instituto Akatu, concluiu que 60% dos clientes estão dispostos a pagar mais caro por marcas comprometidas com ética e  sustentabilidade.

Embora a atenção às questões ambientais seja mais fácil de identificar no mercado, as práticas ESG também dizem respeito a quem está por trás dos produtos e serviços que consumimos, como ressalta Leana Mattei, diretora da Aganju, consultoria especializada em sustentabilidade e impacto social.

“ESG tem a ver com uma série de outras coisas que não só o meio ambiente e que nem sempre são vistas, como quem são os colaboradores dessa empresa, os direitos trabalhistas, as condições de trabalho, saúde emocional de funcionários, quem está trabalhando para aquele produto chegar, tudo isso faz parte da agenda”, explica.

Apesar do investimento cada vez maior dos empresários em sustentabilidade, é imprescindível que haja atuação da sociedade e poder público para impulsionar de vez esses processos. “É preciso trazer políticas que deem subsídio e incentivem empresas a adotarem boas práticas, da mesma forma que nós, consumidores, precisamos assumir o nosso papel de escolha. As grandes empresas precisam trazer os pequenos, favorecer”, pontua Leana.

Agenda na Bahia

A indústria baiana não fica atrás no que diz respeito ao envolvimento com práticas ESG. A famosa marca de picolés Capelinha, com 50 anos de tradição no estado, não pensou duas vezes em promover mudanças para adequar o negócio a um modelo de produção que faz mais sentido hoje em dia.

Dentre os principais investimentos, a empresa, explica o proprietário Fábio Costa por meio da sua assessoria,  garantiu o selo Eureciclo, que pode ser identificado nos pacotes dos picolés e, a cada produto vendido, compensa o equivalente do peso da embalagem. Além disso, os palitinhos da marca passaram a ser feitos a partir de madeira de reflorestamento.

Priorizar pequenos agricultores e a agricultura familiar como fornecedores também faz parte do pacote de medidas sustentáveis adotadas pela empresa, bem como a utilização de energia solar na fábrica.

Enquanto muitos negócios têm promovido mudanças e se adaptado a práticas mais sustentáveis de produção, outros já nascem a partir deste conceito. É o caso da marca Basic 4 U, de cuidados com a saúde íntima, que será lançada em 25 de maio, no Rio de Janeiro, durante o Congresso Brasileiro de Ginecologia Regenerativa.

A médica ginecologista Cristina Sá, sócia da marca, explica que, desde o início do processo de criação dos itens, teve uma preocupação em desenvolver produtos com transparência de rótulo. Serão lançados clareadores, perfumes, esfoliantes, calmantes, glosses, hidratantes/lubrificantes e sabonetes.

“Tudo que a gente vê no mercado ginecológico tem muita química, e a região íntima é muito sensível. Então, precisávamos desenvolver produtos de qualidade e sem corantes, parabenos, conservadores como liberadores de formol, petrolato, coisas que já sabemos que podem causar câncer”, esclarece.

Cristina ressalta que a Basic 4 U tem preocupação  com transparência dos rótulos
Cristina ressalta que a Basic 4 U tem preocupação com transparência dos rótulos |  Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE
 

Além da composição limpa, com fórmulas mais de 90% naturais, a Basic 4 U aliou-se a uma empresa sustentável para desenvolver os produtos, que tem preocupações como tratamento de resíduos e aproveitamento de água. A marca não realiza teste em animais e buscou, também, produzir itens com gênero neutro, para serem aproveitados por todos.

As estratégias de negócio da mineradora Bamin também chegam junto no conceito de sustentabilidade e ESG. Além das iniciativas permanentes de responsabilidade socioambiental, a companhia aderiu, em 2022, ao Pacto Global da ONU. Incentivo à coleta seletiva, à preservação ambiental, educação e segurança comunitária com comunidades indígenas e enfrentamento às formas de violências são alguns dos projetos Bamin.

Rosane Santos, diretora de ESG, Meio Ambiente, Relacionamento com Comunidades e Comunicação Corporativa da companhia, atesta a importância do comprometimento sustentável. “A adoção de uma agenda ESG estruturada muda toda a lógica de atuação da empresa, que está comprometida com uma gestão sustentável. A organização inteira assume a missão de olhar para o longo prazo, e engajar todas as áreas e lideranças no papel social de construir legado”, sinaliza.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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