ECONOMIA
84% dos negócios com propósito têm melhor performance no mercado
Modelos nos âmbitos social, cultural e de sustentabilidade têm mais sucesso
Por Joana Oliveira
"Empreender com o coração” pode parecer um grande clichê, mas tem um fundo de verdade. 84% dos negócios motivados com algum propósito têm melhor performance no mercado, de acordo com a Harvard Business Review. Não há uma receita única e são cada vez mais as empresas que desenvolvem modelos de negócio inovadores, rentáveis e que resolvem, ou pelo menos mitigam, problemas complexos nos âmbitos social, cultural ou de sustentabilidade, entre outros. São os chamados empreendimentos de impacto, e não falta mercado para eles. No dia 28 de maio, Salvador sediou o lançamento da segunda edição do programa Zunne, que vai destinar R$ 10 milhões em negócios de impacto positivo no Norte e Nordeste.
Esse é um potencial que Andressa Tarine e sua amiga, Ana Luisa Almeida, conhecem bem. Elas foram recentemente aprovadas no programa Startup Nordeste para impulsionar a edtech Sarsa, sociedade de ambas, que trabalha com educação como fator de mudança social. Tudo começou em 2011, quando as duas se conheceram na faculdade de Engenharia Química, na UFBA, aonde chegaram apesar de questionar o sistema de ensino tradicional, que sentiam estar muito “focado numa competitividade tóxica” e, apesar disso, não preparar de fato as pessoas para o mercado de trabalho. “Aprendíamos soft skills, por exemplo, fora da faculdade”, conta Andressa.
Em 2017, as amigas passaram a oferecer palestras sobre habilidades comportamentais e outras competências subjetivas necessárias à vida profissional, além de mentorias de engenharia na prática. Em 2020, a Sarsa tomou forma, oficialmente, e nasceu o Explorer, uma trilha de conhecimentos práticos e comportamentais, incluindo acompanhamento psicológico, com três planos de assinatura, para colocação no mercado de trabalho. “Sempre pensamos muito em como ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social, então, o próximo passo foi criar o Adote um Explorer, que permite que jovens de baixa renda sejam apadrinhados por empresas ou outros apoiadores e participem das trilhas de aprendizado”, relata Andressa.
Presente em 10 estados, 80% da atuação da Sarsa se dá na Bahia, onde mais de R$ 330 mil foram injetados na economia, graças aos salários de 220 pessoas que conseguiram emprego após passar pelo programa. No total, são mais de 300 capacitados, 70 deles beneficiados pelo apadrinhamento social. “É uma iniciativa que nos enche de orgulho. Muitos deles trabalham de domingo a domingo como entregadores, por exemplo, e só estão à espera de uma oportunidade para um emprego melhor”, diz Andressa. Agora, ela e a sócia passaram a desenvolver também um banco de talentos para o mercado, depois de que vários amigos começaram a pedir indicação de currículos. “Temos mais de um caso de pessoas que foram apadrinhadas, entraram no programa trainee de uma grande empresa e já foram promovidos”, celebra.
‘Barco à deriva’
Um empreendimento sem um propósito claro é um barco à deriva. A metáfora é apresentada pelo Harvard Business Review, que destaca que, na ausência de uma causa para abraçar, os sócios e a equipe da empresa ficam sem motivação para alcançar metas e fazer a empresa prosperar. A ausência de uma paixão por trás do negócio também pode acarretar decisões sem fundamento, muitas vezes impulsionadas apenas pela busca do lucro rápido, mas que geram um futuro incerto. Principalmente porque, hoje em dia, todos querem estar do lado de quem faz a diferença com missões alinhadas ao bem estar social e ambiental.
Quem entende bem disso são Flávio Cardozo e Carolina Heleno, companheiros de vida e sócios na ÓiaFia! Saboaria Artesanal. Ele, doutor em biotecnologia, ela, mestre em comunicação, sempre se interessaram pela busca de alternativas sustentáveis para novos produtos. Uniram essa paixão a mais uma – pelo acarajé – e decidiram fabricar e vender sabões ecológicos feitos de dendê reciclado. “Sempre saímos para comer e, nas conversas com as baianas, percebemos que quase todas elas tinham dúvidas sobre como descartar corretamente os resíduos dos seus tabuleiros. Depois de falar com mais de 50 delas, pensamos em transformar esses resíduos em sabão”, conta Flávio.
No ano passado, a ideia foi contemplada em dois editais e saiu do papel. Só em 2023, a ÓiaFia! Reciclou uma tonelada de dendê. Com a quantidade reciclada até maio, tudo indica que este ano serão duas toneladas. Além disso, numa parceria com pesquisadores da UFBA, Flávio e Carolina criaram o programa Bahianas Digitais, que oferece um curso de empreendedorismo digital e sustentabilidade para que as profissionais por trás dos tabuleiros possam fazer melhor propaganda de seu trabalho e de seus quitutes nas redes. “Hoje cooperamos com 26 baianas de acarajé e muitas mais nos procuram, mas, infelizmente, ainda não temos condição de expandir a rede”, lamenta Flavio. Ele, conta, no entanto, que o empreendimento foi aprovado no programa Startup Nordeste. Espera-se, então, que em breve haja mais recursos para impulsionar o negócio de bem-estar coletivo.
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