VÉSPERA DE PÁSCOA
Alta de preços do cacau impacta no custo do chocolate
Especialistas de 25 nacionalidades e representantes de toda a cadeia produtiva debatem o assunto em SP
Por Fábio Bittencourt*

A alta de preços do cacau no mercado internacional, ao passo que favorece o bolso do produtor, impacta no custo para o consumidor final, que se reflete em queda na venda de chocolate. Analistas sugerem que parte dessa elevação de preço seja fruto de especulação, já que grande parte da produção é negociada a partir de contratos futuros.
Seja como for, sob o tema Nosso Futuro: Resiliência por meio da Sustentabilidade, começou ontem e segue até hoje, na capital paulista, o WCF Partnership Meeting 2025, ou Reunião de Parceria da Fundação Mundial do Cacau (World Cocoa Foundation).
O encontro reúne especialistas de 25 nacionalidades e representantes de toda cadeia produtiva do cacau, incluindo indústria de processamento, chocolate, pesquisadores, produtores, cooperativas, governos e sociedade civil. São ao todo mais de 500 participantes.
O objetivo do evento é discutir os principais desafios do setor, entre eles os preços altos do produto, os cortes significativos de financiamento anunciados no último mês pelos Estados Unidos e a Europa -, atendendo a interesses domésticos; mudanças climáticas, assim como obstáculos relativos à agenda da sustentabilidade.
De acordo com o presidente da WCF, Chris Vincent, devido à volatilidade da economia mundial, "essa discussão se faz fundamental". "O aumento de preços se faz da redução da produção, derrubada de árvores e desistência de agricultores", falou.
"O consumidor enfrenta alta de preços em todas áreas", completou.
Ainda segundo Vincent, é preciso aumentar a produtividade, subsídios e "renda extra" aos que "não estão ganhando tanto", disse, referindo-se aos pequenos produtores.
O fato é que o preço do cacau passa por um momento de alta no mercado internacional, na média em US$ 8,4 mil por tonelada, podendo a chegar a US$ 10 mil. Há dez anos, custava US$ 2,5 mil.
Para se ter uma ideia, o custo se assemelha ou supera ao preço da tonelada do cobre, disse Mark Taylor, diretor de Estratégia de Fornecimento de Commodities na indústria de chocolates Hershey.
Segundo o engenheiro agrônomo Eduardo Bastos, dirigente do Instituto de Estudo do Agronegócio (IEAg), essa é uma "encruzilhada" do setor. "A R$ 60 mil (na cotação em real), o preço cresceu dez vezes em dez anos", contou.
Ainda segundo ele, preocupam o setor a questão do abastecimento, custo e preço, risco com mudanças climáticas, com mudança de comportamento do consumidor, devido a questões de renda e hábito alimentar -, e o aumento da regulação, como a recém-anunciada norma da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento, que exige que produtos agrícolas e/ou seus derivados importados não estejam associados ao desmatamento.
"É um convite para a ação e sugestões de ações", falou Bastos.
Para o gerente de Desenvolvimento Territorial do Instituto Arapyaú, Ricardo Gomes, a lei antidesmatamento europeia, contudo, pode ser uma oportunidade de ganho para o País.
"Com o crescimento da pressão internacional por práticas de baixo carbono, o Brasil tem duas opções, perder mercado externo ou aproveitar o cerco para avançar em direção a um modelo de desenvolvimento mais sustentável, que gere benefícios sociais, ambientais e econômicos no longo prazo. O cenário atual traz riscos, mas também oportunidades", pontuou.
Plano Inova Cacau
O secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Pedro Corrêa Neto, apontou a relevância da cadeia do cacau para o mundo, e afirmou que o País "vive uma retomada do protagonismo" no setor.
Neto destacou o Plano Inova Cacau, fruto da colaboração entre a Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) e a CocoaAction Brasil, uma iniciativa público-privada ampla do setor cacau, que visa fomentar a sustentabilidade com foco no produtor de cacau.
O Plano Inova Cacau quer fazer com que o Brasil volte a produzir 400 mil toneladas de cacau até 2030, e consolidar o País como referência de cacau de origem sustentável para o mundo. O programa atua em quatro eixos: econômico-produtivo, social, ambiental, e governança (transparência).
Ainda de acordo com o representante do Mapa, também há a perspectiva de, "até o meio do ano", o setor ser contemplado no Plano Safra do governo federal, com linhas de crédito para custeio da produção.
País cacaueiro de origem, no Brasil a produção de chocolates dobrou nos últimos dois anos. Está presente em 95% dos lares, segundo a vice-presidente e gerente geral para a América Latina da Hershey, Larissa Diniz.
A marca possui mais de 130 anos, e opera no País desde 1998. Só no Brasil são mais de três mil colaboradores, e sua cultura organizacional é "centrada em pessoas", uma tradição de longa data na companhia, disse Larrisa.
Ela lembrou que o fundador, Milton Hershey, trouxe a primeira barra de chocolate para as Américas, e que criou "uma comunidade com senso de pertencimento".
"Ele doou em vida uma fortuna para a construção de escolas voltadas para crianças em situação de vulnerabilidade. Até hoje, a companhia adota programa de doação em dinheiro para famílias de pequenos agricultores. Até 2030 serão meio milhão de dólares distribuídos".
"A Hershey acredita que só é possível prosperar se as outras pessoas também prosperarem. Cacau para o bem, e sempre. Chocolate é um negócio de pessoas", ressaltou Larissa.
*O jornalista viajou a São Paulo a convite do Instituto Arapyaú
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes