ECONOMIA
Após anúncio do pacote fiscal, dólar ultrapassa R$ 6 pela primeira vez
Pacote fiscal do governo federal prevê economia de R$ 70 bi até 2026
Por Lucía Lacurcia | AFP
A cotação do dólar superou nesta quinta-feira (28), pela primeira vez na história, o patamar de 6 reais no Brasil, em meio à inquietação dos investidores sobre o compromisso fiscal e orçamentário do governo federal.
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Por volta das 13h15, o dólar era cotado a 6,0004 reais, segundo o jornal Valor Econômico. E de acordo com o site do Banco Central, às 15h00 o dólar fechou o dia a 5,99 reais.
Desde que o real entrou em circulação em 1994, a moeda americana nunca havia atingido esse valor, de acordo com a série estatística do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O recorde ocorreu um dia após o governo de Luiz Inácio Lula da Silva anunciar um aguardado pacote de medidas para tranquilizar os mercados sobre o desempenho fiscal do país. O pacote prevê uma economia de 70 bilhões de reais até 2026.
Essas medidas reforçam “um absoluto compromisso do governo do presidente Lula com o equilíbrio fiscal” para “entregar para o país um sistema tributário moderno, justo, progressivo”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em pronunciamento em rede nacional na quarta-feira.
Nesta quinta, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, acusou o mercado de "insistentemente lançar notícias falsas" para gerar volatilidade e aproveitar "eventuais ganhos extraordinários desses [...] picos de subida do dólar”.
Entre as ações anunciadas, o governo planeja ajustar o aumento real do salário mínimo e revisar tetos salariais e benefícios de servidores públicos, além de aposentadorias dos militares.
Paralelamente ao pacote de cortes, o governo anunciou uma redução de impostos para cidadãos de renda média, buscando amenizar o impacto social do ajuste fiscal.
- Anúncio “anticlímax” -
O mercado “esperava um pacote com corte de gastos e veio um pacote que misturou corte de gastos com redução de impostos, o que nessa hora não faz o menor sentido”, disse à AFP Mauro Rochlin, coordenador acadêmico da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Ele classificou o anúncio como um "anticlímax" para os investidores e criticou a medida como "populista" e "irresponsável", afirmando que a desoneração terá um “impacto fiscal muito expressivo”.
O pacote acabou aprofundando a desconfiança do mercado, em vez de assegurar o cumprimento da regra fiscal que limita o crescimento dos gastos até 2026, quando termina o mandato de Lula. Segundo Rochlin, parte do impacto negativo refletiu-se na alta do dólar.
- Mais inflação? -
Rochlin apontou que a redução de impostos pode levar a um aumento do consumo por parte da população favorecida. “E mais consumo é tudo o que a gente não precisa agora, nesse momento em que a meta da inflação não está sendo cumprida”, disse.
A inflação acumulada em 12 meses chegou a 4,76% em outubro, ultrapassando a meta oficial de tolerância de 4,50%.
A alta de preços foi o principal motivo que levou o Banco Central a iniciar, em setembro, um ciclo de ajustes que elevou a taxa básica de juros, a Selic, duas vezes seguidas, até 11,25%.
As preocupações dos investidores com a capacidade do Brasil de cumprir seus compromissos fiscais pesaram sobre a economia ao longo do ano, apesar de bons resultados em indicadores como emprego, consumo e produção industrial.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB brasileiro deve crescer 3% em 2024, acima da média de 2,1% projetada para a América Latina e o Caribe.
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