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ECONOMIA

Artesanato baiano já cresceu 20% somente este ano

Com forte ligação com arte, cultura e turismo, o artesanato é um negócio que gera renda para 17 mil pessoas

Por Mariana Bamberg

10/09/2023 - 6:00 h
João Paulo e Bárbara Sarno, que produzem artesanato em madeira
João Paulo e Bárbara Sarno, que produzem artesanato em madeira -

Com forte ligação com a arte, cultura e turismo, o artesanato é também negócio e fonte de renda para aproximadamente 17 mil pessoas na Bahia. O segmento vem ganhando cada vez mais destaque no estado. Só neste ano, já cresceu 20% quando comparado a 2022, segundo a Coordenação de Fomento ao Artesanato da Bahia (CFA). O desempenho positivo está atrelado ao surgimento de novas iniciativas de apoio. Ainda assim, os artesãos enfrentam dificuldades na valorização e exposição de seus trabalhos.

Carrancas, tricô, macramê, trançados, cerâmicas, cestarias, decoração em madeira, moda artesanal e tantos outros itens são produzidos no estado e ganham destaque dentro e fora dele. Coordenador da CFA, Weslen Moreira não se surpreende com esse crescimento. Para ele, a Bahia é um cenário fértil para o desenvolvimento do artesanato e isso vem sendo impulsionado com iniciativas e eventos específicos para esses profissionais.

“Temos uma diversidade muito grande que é próprio de um lugar ancestral que é a Bahia. Essa trajetória indigena e afro europeia nos garante uma criatividade e uma capacidade de produzir coisas que é algo ímpar no mudo. Nós temos produção das melhores do mundo, falo isso com muita segurança”, afirma Welen.

Um dos desafios do setor é justamente o perfil de seus empreendedores. Segundo Weslen, em sua maioria, os artesãos – não só os baianos – têm uma renda mensal de até um salário mínimo e não são formalizados. Por isso, a CFA tem orientado e feito um trabalho para que esses profissionais façam a carteirinha na própria coordenação. A iniciativa tem feito efeito. O volume de artesãos cadastrados no estado saiu 14 mil no ano passado para 17 mil neste ano e fez a Bahia ocupar a segunda posição no ranking nacional de cadastros de profissionais do artesanato.

Iraildes Santos, Norma Alves e Ana Eugênia, tecelãs da Casa do 
Alaká do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá
Iraildes Santos, Norma Alves e Ana Eugênia, tecelãs da Casa do Alaká do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá | Foto: Denisse Salazar | Ag. A TARDE

Iraildes Santos é uma das artesãs com carteirinha. Tecelã, ela confecciona o chamado pano da costa, uma indumentária afro-brasileira que chega a ter 90 metros de comprimento e é utilizada por baianas e povo de santo. Junto com outras duas artesãs, ela produz e comercializa os itens na Casa do Alaka (@casadoalaka), loja que acaba de completar 21 anos e fica dentro do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais conhecidos de Salvador.

Para Iraildes, o artesanato é a única fonte de renda, mas também o marco de uma nova trajetória à sua vida. “Como tenho uma deficiência, não tinha uma profissão, não tinha espaço no mercado de trabalho. Ter a carteirinha de artesã me possibilita ter acesso a muita coisa e a dizer que tenho uma profissão”, conta.

Prêmio internacional

Juntas, as três tecelãs produzem, em média, 23 panos da costa por mês. Elas já tentaram levar os produtos para expor em outras lojas e até para exposições no Rio de Janeiro, mas as demandas não foram tão vantajosas quanto na Casa do Alaka.

“Como fica dentro do terreiro e aqui recebemos muitos visitantes, temos um público já certo. E só por ser produzido e sair daqui, nossos itens já têm um valor simbólico que é a energia do lugar. Nossa marca também já foi premiada internacionalmente. Somos privilegiadas nesse sentido de ter essa estrutura do terreiro, que não é barata, porque viver de artesanato é uma luta todo dia”, diz a artesã.

Já os irmãos Bárbara e João Paulo Sarno (@armazemcriativo.ssa), para vender seus produtos, dependem de feiras, de suas redes sociais e de lojas como o Artesanato da Bahia, uma iniciativa desenvolvida pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, através da CFA, em parceria com a Fábrica Cultural. Lá, são disponibilizados mais de mil produtos, de cerca de 380 artesãs e artesãos do estado.

A rede que busca o desenvolvimento deste segmento é longa. Se a Fábrica Cultural é quem faz a gestão das lojas Artesanato da Bahia, há ainda instituições que contribuem dando apoio e suporte a essas entidades que trabalham na ponta junto com os artesãos. É o caso, por exemplo, do Instituto Mandarina, que desenvolve iniciativas como mentorias sobre a gestão dessas organizações e a consolidação de uma rede de parceiros que ajudem a potencializar o empreendedorismo.

Segundo a fundadora Neila Larangeira, a intenção do instituto é atender, através de diversas parcerias no estado, 10 mil pessoas anualmente, gerando um incremento de 35 a 40% na renda desses empreendedores, pelo período mínimo de 12 meses. Um dos projetos do instituto foi, por exemplo, a presença do artesanato baiano na mostra de arquitetura e decoração Casas Conceito. “Esta rede pode ser muito maior, incluindo além de empresas nas suas iniciativas ESG , a rede hoteleira e turística, assim como arquitetos, designers, fotógrafos, curadores, enfim a cadeia se complementa e enriquece em todos os sentidos”, analisa Neila.

A fundadora do Instituto Mandarina acredita que, além das dificuldades relacionadas à produção do artesanato, a maioria dos empreendedores desse segmento enfrenta desafios típicos da gestão de um negócio. No geral, eles têm poucas oportunidades e capital para se adquirir e aplicar estes conhecimentos básicos para crescer ou mesmo se sustentar. São dificuldades no planejamento financeiro, visão do mercado, comunicação, comercialização, precificação, recursos humanos especialmente para atendimento, articulação com fornecedores, administração de pedidos e contratos, prazos, apropriação correta de custos, são tantos desafios”, conta

Bárbara e João Paulo desenvolveram alguns artifícios para lidar com esses desafios. Para eles, o principal problema enfrentado é a falta de estabilidade nas vendas quando a marca ainda é dependente de feiras. Eles contam que alguns desses eventos na cidade chegam a cobrar R$ 1.500 para a participação de artesãos em três finais de semana. A saída encontrada pela dupla foi anotar em uma planilha todos os detalhes de cada evento que participa, do ticket médio das vendas até a chuva que caiu no dia. Assim, eles conseguem avaliar o que influencia no desempenho e escolher com mais precisão os eventos que participarão.

Os irmãos produzem itens em madeira. A ideia surgiu durante a pandemia, quando eles precisaram fechar o negócio que tinham no ramo de alimentação. Hoje, a renda mensal vem 100% do artesanato.

“Estamos satisfeitos com o retorno que vem nos dando, tanto financeiro quanto com relação ao prazer. Mas ainda é uma caminhada longa até se firmar como uma marca reconhecida. O artesanato enfrenta uma desvalorização. As pessoas querem encontrar a preço de banana, não entendem que ali é uma peça única, não foi feita a toque de caixa”, avalia Bárbara.

A tecelã Meire Cabral (@atelie_meirecabral) também enfrenta desafios com a sazonalidade das demandas. Ela, que confecciona acessórios femininos e itens de decoração, já sabe que nos meses do verão as vendas costumam subir. Já chegou, por exemplo, a receber encomendas de 500 peças. Na alta temporada, a renda de Meire pode ir de R$ 5 mil a R$ 10 mil, quase o triplo dos meses mais fracos.

Para tentar mitigar os efeitos da baixa temporada, ela investe em novas coleções, mistura novos materiais e novas temáticas. “Tem que sair da mesmice. Você tem que ir se aperfeiçoando, se reinventando, abrindo novos nichos, coleções e desenvolvendo um DNA próprio. É isso que vai manter seu negócio”, afirma Meire.

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