ARTESANATO
Artesãos usam 100% da palha de licuri e mudam vidas em Santa Brígida
Da plantação até o uso da fibra da palha de licuri, os artesãos da Associação de Artesãos de Santa Brígida (AASB) produzem artes com o material
Por Carla Melo
Um sorriso tímido e o jeito gaiato de atender os clientes que são atraídos por pequenos passarinhos de madeira de umburana e curvas de palha de licuri, que dão vida ao artesanato: é assim, tal como a arte da conquista onipresente da natureza, que o artesão Zé de Rita irradia as obras de artes produzidas por pequenos produtores do povoado de Morada Velha, em Santa Brígida.
“Pode entrar. Não cobramos para entrar, só para sair”, brinca Zé de Rita a todo o momento em que um curioso se aproxima pelas obras de artes espalhadas pela estante. Zé, que aos 22 anos de profissão, exibe com orgulho parte da força artística que molda o povoado da cidade pacata localizada na região norte da Bahia, responsável por gerar uma receita de R$ 73 milhões em 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Localizada no sertão baiano, a cidade de Santa Brígida é reconhecida pelas manifestações culturais, como os Guerreiros de São Jorge, Joana D’Arc, Mineiro Pau, os reis do Zé Preto, o Samba de Coco e a dança de São Gonçalo que possui três versões: a baiana, a pernambucana e a alagoana. Assim como o congado, a dança de São Gonçalo é uma manifestação cultural do catolicismo popular, em que se dança dentro da Igreja.
Da plantação até o uso da fibra da palha de licuri, o artesanato da Associação de Artesãos de Santa Brígida (AASB) faz 100% do aproveitamento do material. Antes de virar arte, o material passa por quatro etapas: A colheita e separação da fibra, produção de vassoura com o talo da palha de licuri e a secagem da fibra.
Os produtores rurais fazem a coleta do licuri com a ajuda de foice, facão ou faca. Bem de manhãzinha, a palha é coletada pelos artesãos e é recolhida para ser preparada à noite, quando está macia, para que não fique ressecada. Após a separação e secagem da fibra, inicia-se o processo de tingimento com corantes naturais.
Para dar cor e vida ao material produzido, os artesãos usam recursos 100% naturais: pele da castanha de caju para chegar ao vermelho, a polpa do jenipapo para o azul, o algodão e entre outros materiais. Outros elementos também compõem a obra de arte, como a madeira de umburana e a casca de licuri. Tudo utilizado após o processo natural.
“A gente pega a madeira de umburana já caída, que já morreu e foi aproveitada pelo cupim. Com a madeira, a gente produz esses passarinhos com os coquinhos de Licuri, a gente espera a arara-azul-de-lear abrir o coquinho para comer a amêndoa. Somos agraciados porque essa espécie só tem na nossa região de Jeremoabo, Euclides da Cunha e Canudos”, disse o artesão.
Para que sempre haja o abastecimento dos materiais, os artesãos estão inseridos em um projeto de replantio de licuri e de caju. São cerca de 8 mil pés de frutos plantados que são aproveitados para a produção de bolsas, mini porta-joias, cesta de frutas, bowls, sousplat e outros produtos utilitários e decorativos.
Da madeira de umburana nascem pássaros diversos, cartões postais da caatinga, como galo de campina, canário, nambú, arara, coruja, carcará e tucano, além de imagens sacras e outras figuras representativas do cotidiano sertanejo.
Cerca de 28 artesãos fazem a história da AASB. Além de artesão, Zé de Rita tem uma missão ainda maior no artesanato: a de ensinar. O artista é professor reconhecido pelo Sebrae e tem a missão de liderar homens e mulheres na associação. Com orgulho do nome que carrega, em homenagem a sua mãe, Zé reafirma a importância que a produção do licuri tem em sua vida.
“O SEBRAE foi quem nos descobriu no ano de 2022, e desde então nunca deixou de nos apoiar, foi como eu tive meu reconhecimento como professor. Recebi meu título honorário em 2019 pelo Instituto Mauá e conseguimos a nossa carteirinha de artesãos quando eu comecei a trabalhar em 2004, e hoje sou reconhecido como mestre e professor na arte do artesanato. Foi um desafio que a minha mãe me fez na época em que o SEBRAE foi dar o curso. Ela aprendeu com outras pessoas e me fez o desafio: “Zé, eu sei fazer artesanato e você não sabe” eu disse: “minha mãe eu vou aprender”. Peguei um pouco da matéria prima dela, levei para minha casa e olha eu fazendo agora”, brincou ele.
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