ECONOMIA
Bahia quer protagonismo na produção de hidrogênio verde
transição energética esteve no centro do debate, ontem, do workshop Bahia Estado Sede do Refino Verde
Por Fábio Bittencourt
O desenvolvimento da cadeia produtiva do refino de baixo carbono e o conjunto de ações necessárias à regulamentação para uma chamada transição energética estiveram no centro do debate, ontem, durante o workshop Bahia Estado Sede do Refino Verde no Mundo. O evento, realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), foi promovido também pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep).
O encontro reuniu lideranças das principais organizações dos setores ligados à área de energia, além de pesquisadores, representantes dos governos estadual e federal, e especialistas no tema. Segundo os organizadores, o objetivo é unir forças visando a construção de um hub integrado da cadeia de hidrogênio verde e derivados na Bahia.
De acordo com o presidente da Fieb, Carlos Henrique Passos, a proposta passa por atrair instituições e empresas que possam aderir à ideia de fomento à criação e implementação de um empreendimento, no Polo de Camaçari, onde será produzido o “combustível do futuro”. Ele falou sobre a necessidade de regulação para a atividade, destacando que o projeto de lei de autoria do senador Otto Alencar (PSD-BA), de 2023, que estabelece a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono com incentivos fiscais e financeiros, ainda não foi votado.
“Temos a necessidade de aprovação do marco legal, porque há muitos investimentos aguardando esta definição legal. O tempo passa e os outros países estão agindo, precisamos tomar decisões. Temos, de fato, uma janela de oportunidades, mas a convergência de astros não é eterna”, disse.
Ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli ressaltou o potencial da Bahia para a produção de hidrogênio verde, em função da sua capacidade de gerar energia limpa (eólica e solar), mas apontou problemas na legislação.
“Há ausência sobre diferenciação entre hidrogênio verde e de baixo carbono, sobre estímulos à oferta e à demanda, além de termos uma certificação muito influenciada na europeia, entre outras questões”.
Para o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Angelo Almeida, o evento tem como objetivo trazer o protagonismo do tema para o estado. “Essa reunião de negócio vai ter de ter um encaminhamento, e a gente quer, desde já, pedir a quem possa abraçar esse sonho do povo baiano, de termos um acesso emancipativo. Dois terços do território do semiárido é de muita pobreza, com muita necessidade de distribuição de riqueza e renda, e esse projeto vai mudar o padrão social e econômico do nosso estado”, falou Almeida.
Mediador do painel intitulado ‘A importante função da Petrobras no desenvolvimento da cadeia produtiva do H2V no Brasil’, o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, salientou que a estatal vai precisar aumentar a produção de hidrogênio.
“Inclusive também por eletrólise, apesar dos custos do eletrolisador ainda estarem altos, mas a China já apresenta com custo mais baixos. Entendemos que na Bahia temos uma potencialidade, em termos de energia eólica e solar, temos linhas de transmissão, um gigantesco polo petroquímico, e há um entendimento de nossa parte que essa refinaria verde pode e deve ser instalada aqui, inclusive utilizando água de reuso, que vem da Cetrel, ajudando com que essa água não vá para o emissário submarino”, contou.
A diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciana Costa, falou em recursos da ordem de US$ 30 bilhões para fomento da indústria de H2V no Brasil. “O País cresceu muito em infraestrutura de energia entre desembolso e aprovação no ano passado, entre 25% e 30%”, avaliou.
“A transição energética é um caminho sem volta, embora muito conflituoso. Tem uma conta a ser paga, o mundo vai ter de investir, até 2030, US$ 4 trilhões por ano, na média. Um custo pago por países e populações, e obviamente é um mundo inflacionário”, contou.
Ainda segundo Luciana, fazer essa transição “justa, significa que os mais pobres não podem pagar essa conta”. “Mas como a gente discute isso em um mundo em guerra, onde cientistas de países diferentes não estão dialogando, diferentemente como aconteceu com a Covid, quando houve uma convergência mundial”.
Mercado global
“O globo está aquecendo, e não há uma ação coordenada no mundo. Não existe um mercado global de carbono. O Brasil, de todas as economias do G20, tem vantagens comparativas combinadas que nenhuma outra tem. Por isso nós temos uma janela econômica histórica, e uma grande responsabilidade. E se o Brasil tem uma janela histórica, o Nordeste tem mais ainda”, disse.
Para o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi, o Nordeste será centro do próximo ciclo de crescimento brasileiro, e vai atrair muitos investimentos.
“O Brasil tem que ter uma agenda geopolítica pragmática e vamos ter que resolver alguns problemas. Um deles é quanto custa essa rolagem da dívida pública brasileira em que a gente paga taxas de juros supra normais? O spread bancário no Brasil é de 27%, enquanto a taxa média no mundo é de 7%. Isso anula quase todas as vantagens competitivas que o Brasil tem para construir o seu futuro. Vamos continuar regredindo enquanto o rentismo produtivo continuar dominando todas as instituições brasileiras”.
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