FINANÇAS
Baianas têm perfil conservador na hora de investir; saiba motivo
52% das carteiras das investidoras do estado são de renda fixa, aplicação menos arriscada
Durante muito tempo, o mundo dos investimentos era tido como um universo tipicamente masculino. Agora, as mulheres também já dominam este mundo, mas permanecem fiéis a investimentos conservadores. Nem mesmo as quedas recentes da Selic fizeram com que elas apostassem mais na renda variada. Um levantamento do Santander apontou que 52% da carteira das investidoras baianas são de renda fixa, que garante menos risco. A explicação para isso está, apontam especialistas, na busca por segurança, característica típica das mulheres.
O conservadorismo, inclusive, cresceu nos últimos anos. A renda fixa saiu da proporção de 50% da carteira das baianas em 2022 e avançou dois pontos percentuais no ano seguinte. Os Certificados de Depósitos Bancários (CDB), as Letras de Crédito do Imobiliário (LCI), as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), além dos títulos do Tesouro Direto e até a poupança, são os investimentos conservadores apontados. Mas além deles, destacam-se outras modalidades de investimento para as mulheres do estado, como a previdência, com 29%, e os fundos, com 13%. A renda variável, que são as opções consideradas mais arrojadas, somaram 2% da carteira do banco no estado.
Líder regional do Santander AAA, que é a plataforma de investimentos do banco, Andréa Fedulo acredita que esses números têm uma causa nas influências socioculturais que formam o perfil das mulheres brasileiras. Para ela, as baianas ainda têm uma preocupação com o futuro, principalmente dos filhos e do marido, mas buscam segurança.
“Ainda vivemos em um mundo machista, onde ainda recai muito nas mulheres as obrigações. A mulher, para se jogar em alguma coisa, tem que se sentir 100% preparada. Então tem esse lado cultural, social também. Mas timidamente a gente começa a ver um movimento diferente. Talvez quando as novas gerações entrarem [no universo dos investimentos], as mulheres se empoderem ainda mais na renda variável”, prevê Andréa.
Ainda assim, a expectativa da líder regional do Santander é que, ao longo do ano, com as esperadas novas quedas da Selic, os investimentos conservadores fiquem menos atraentes e a renda variável vá despertando mais interesse nas mulheres. Isso porque, explica ela, de modo geral, um recuo na taxa básica da economia brasileira prejudica os investimentos de renda fixa, que oferecem uma remuneração baseada em juros.
Lívia Novaes entrou no mundo dos investimentos aos 18 anos, assim que conseguiu seu primeiro vínculo profissional na área comercial. Foi assim que, depois de pouco mais de quatro anos e uma carteira com renda fixa, na época CDB do Banco Real, que ela conseguiu, aos 23 anos, realizar o sonho da casa própria. Outros patrimônios também foram conquistados desde então. Agora, com 51 anos e uma carreira em consultoria de educação financeira, ela segue com uma carteira de investimentos focada na renda fixa: 85% do total.
Lívia concorda com a especialista do Santander. Para ela, as mulheres têm a tendência de buscar investimentos que tragam uma estabilidade nos rendimentos mensais, para que assim possam projetar, em médio e longo prazo, os objetivos financeiros, como a compra de um imóvel no caso dela aos 23 anos e até a dependência financeira.
“Mas não significa dizer que não ousamos e não assumimos riscos moderados quando o assunto é investimento. Quando dou consultorias em educação financeira, percebo que elas limitam o capital de risco no patamar de 5% a 10%. E eu estou super de acordo principalmente para aquelas que constroem seu capital de investimento futuro, no mês a mês, e que nesses últimos anos enfrentam cenários de incertezas”, afirma.
Hoje Lívia tem, segundo suas plataformas de investimento e instituições financeiras, um perfil considerado moderado e agressivo. “Aposto em 85% do meu capital em renda fixa, sejam elas em taxas pré e pós-fixadas e alguns investimentos no sistema híbrido atrelado à Selic e IPCA”, revela.
Para ela, esse perfil pode ir mudando junto com a vida do investidor e com o próprio mercado financeiro. Afinal, vários fatores influenciam uma escolha de carteira, desde o momento profissional, as metas e prioridades até o seu tempo de investimento futuro e de liquidez. CDB’s, LCA, debêntures e Tesouro Direto são as opções escolhidas por ela. A previdência, apontada pelo levantamento do Santander como um dos favoritos das mulheres, ainda não conquistou Lívia. “Quem sabe num futuro breve. [Até agora] nenhuma providência atrativa a ponto de mudar meus investimentos”, explica ela.
A previdência, segundo o levantamento, teve um desempenho constante nos últimos anos, com uma tímida elevação de 27,7% do total da carteira em 2022 para 28,4% em 2023. E os homens também mostram interesse nesta opção: ela equivale a 24% dos investimentos masculinos. Já os fundos de investimentos, tiveram uma queda na participação da carteira dos homens: saíram de 17% para 14%. Entre as mulheres, a queda foi um pouco menor: de 14% para 12% do total dos investimentos entre 2022 e 2023. Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) foram os únicos que registraram crescimento na carteira feminina, avançando de 2,64% para 4,35%. Renda Variável e Crédito Privado ficaram com pouco mais de 1% do total do portfólio desde 2022.
Trajetória de vida
Para o economista Bruno Mota, o perfil conservador das mulheres tem relação com as dificuldades na trajetória de vida. “É o medo de perder, mas também receio de perder a oportunidade de preservar o dinheiro e ter ganhos maiores”, afirma. Ainda assim, ele acredita que as investidoras vêm quebrando paradigmas neste universo das finanças de forma corajosa.
A previsibilidade buscada pelas mulheres na renda fixa é, segundo o economista, justamente o que a torna uma opção ideal para os iniciantes, “pois o risco é quase zero”. Quem está iniciando deve ser mais conservador até se sentir seguro, orienta ele. E, em um momento como este, quando a Selic está em 11,25%, a categoria é ainda mais indicada.
“O que indicará qual a melhor opção, entre fixa e variável, será a taxa de juros e o andamento da economia, bem como sua segurança. Se a taxa de juros básica da economia está alta, como 11,25%, é melhor investir em renda fixa, mais previsível. Quando a mesma cair, deve investir em renda variável, imprevisível, ou pode colocar seus investimentos em ambos, como maior parte na renda fixa, neste momento. Mas, se ainda não se sente seguro, continue na renda fixa e busque as fontes oficiais para aprender”, aconselha.
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