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Baianos vivem desafios de quem opta por trabalhar em qualquer lugar

Existem dificuldades do nomadismo digital, mas 35% dos brasileiros afirmam que conseguem atuar no remoto

Publicado domingo, 28 de abril de 2024 às 09:00 h | Autor: Joana Oliveira
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Já há alguns anos o nomadismo digital surgiu como tendência de mercado de trabalho, mas foi durante o confinamento imposto pela pandemia de Covid-19 que a possibilidade de exercer o ofício remunerado de maneira remota e de qualquer lugar do mundo ganhou força. E, apesar de cada vez mais empresas migrarem para um sistema híbrido ou voltarem de vez para o presencial, pelo menos 35% dos brasileiros acreditam que são capazes de trabalhar dessa forma. É o que mostra um levantamento feito pelo ADP Research Institute, que entrevistou 32.612 trabalhadores em 17 países.

“Apesar de muitas empresas estarem planejando ou retornando para o modelo presencial, temos observado que os horizontes dos trabalhadores estão se ampliando e há a possibilidade de aderência ao trabalho remoto em algumas funções. Por causa disso, a capacidade de exercer o nomadismo digital pode ser crucial para pessoas que enxergam a flexibilidade como um importante fator para escolher ou se manter no atual emprego, já que permite viver em um país onde o custo de vida é mais barato ou a qualidade de vida é melhor”, ressalta Claudio Maggieri, general manager para a América Latina na ADP.

A baiana Ana Amélia Nunes sempre sonhou em morar fora do País, mas só durante a pandemia, quando já trabalhava em formato home office, que isso se tornou mais palpável. O empurrão definitivo foi o empreendedorismo: ela é uma das sócias da IDW, agência que trouxe o Afropunk para o Brasil e que atende clientes como Beyoncé (a empresa foi responsável por trazer o ícone musical a Salvador, no final do ano passado). Vivendo em Viana do Castelo, no interior de Portugal, com a mulher, Ana Amélia conta como é gerir um time de colaboradores e clientes espalhados por diferentes lugares do mundo. “Para liderar da melhor forma, para além do que é intuitivo e do que fomos todos obrigados na era pandêmica, fui estudar sobre as melhores técnicas, ferramentas, estratégias de liderança e trabalho 100% remotos numa empresa. Me especializei ao máximo e não deixa de ser um aprendizado constante”, diz.

Para a sócia da IDW, a principal vantagem é a flexibilidade de trabalhar cada dia em um café diferente, num jardim ou à beira do rio e conseguir manter sua rotina mesmo quando viaja para diferentes cidades ou países. Mas as desvantagens, ela conta, também são óbvias: o fuso horário e, principalmente, a saudade. “O cafezinho do corredor, o almoço em grupo e o abraço apertado fazem falta constantemente. Principalmente quando temos uma empresa como a IDW regida pelo afeto, pela humanidade, pelas construções coletivas. Consigo organizar toda a minha rotina mantendo o horário comercial do Brasil por conta, principalmente, de clientes e parceiros externos, então, tento concentrar a vida pessoal pela manhã, começo a trabalhar entre meio dia e 13h e vou até tarde da noite.”

Disciplina e organização também são fundamentais para Ian Castro, fundador e CEO da agência de marketing digital Intermídias. “Hoje, eu tenho um fluxo muito mais orientado por tarefas. Se eu vou conseguir fazer cada obrigação em seis ou nove horas, depende de mim. Tenho o mesmo desafio de manter uma comunicação clara e ser efetivo com minha equipe, só que agora tenho liberdade para tentar fazer isso o mais rápido possível, no eu próprio fluxo, poder aproveitar o resto do tempo que eu tenho aqui”, conta ele, da Indonésia.

Depois de uma workation (férias misturadas com trabalho) com a namorada, em 2018, quando ambos viajaram por 20 dias entre Croácia, Albânia e Montenegro, eles decidiram, em 2020, viver e trabalhar pelo mundo afora. De lá para cá, já passaram por 20 nações. Em alguns deles, o fuso horário não era um obstáculo tão grande, mas agora, no país asiático, com uma diferença de 11 horas, as adaptações têm sido maiores. “Aqui, trabalho das 18h à meia noite, para coincidir com a equipe pelo menos entre nove e meio-dia, no horário do Brasil. Tento reunir todas as minhas reuniões ou compromissos nesse horário. Tem um profissional que me cobre quando estou dormindo, mas tive que inverter a lógica do meu dia para que o trabalho funcionasse”, relata Ian.

Adaptabilidade, autonomia, resiliência e comunicação assertiva são justamente os atributos dos “bons nômades digitais”, conforme explica Reiva Melo, executiva de vendas da Robert Half, consultoria de recrutamento, no Nordeste. “É preciso entender que algumas competências comportamentais que o trabalho remoto exige são diferentes do modelo híbrido ou presencial. Imprevistos surgirão e a capacidade de autogestão é crucial. Planejar entregas, lidar com indicadores, ter senso de organização e se mostrar presente mesmo estando fisicamente distante, são pontos que demandam desenvoltura do profissional”, diz ela.

Com os pés no chão

De acordo com o Índice de Confiança Robert Half, no início deste ano, tem havido uma diminuição da oferta de vagas 100% remotas. 57% das empresas brasileiras planejam adotar o modelo de trabalho híbrido para o restante de 2024, enquanto 30% indicam o modelo totalmente presencial e apenas 5% o home office integral. Os 8% restantes ainda não tinham uma definição. “Considerando o contexto, é muito importante que profissionais interessados no nomadismo digital tenham claro se todas as suas atividades podem ser executadas de forma remota, assim como investigar quais empresas e vagas permitem essa modalidade de contratação. As oportunidades existem, mas é fundamental encontrá-las de maneira estratégica”, orienta Melo.

Também é importante, segundo ela, pensar na infraestrutura e escolher destinos com internet de alta velocidade, por exemplo, além da questão do fuso horário. A especialista ressalta, no entanto, que quem pretende viver nessa modalidade pode apresentar um perfil diferencial para os contratantes. “A experiência de lidar com diversas culturas e ambientes contribui, e muito, para uma visão mais inovadora, diversa e inclusiva, agregando perspectivas únicas às equipes de trabalho”, diz.

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