MERCADO
Como empreender com pouco dinheiro?
Uma das possibilidades é começar o negócio dentro da própria casa para testar aceitação
Por Joana Oliveira
“Dinheiro é como na guerra: você conquista, protege e avança”. Foi com essa finalidade que Luciene Santana se lançou ao empreendedorismo, depois que a montadora de carros onde trabalhou por anos fechou as portas. Lá, ela sempre fazia “bicos”, vendendo cosméticos e lingeries para as colegas. Em um ano, juntou R$ 12 mil e usou o dinheiro para abrir a Luloc, uma empresa de locação de equipamentos, como andaimes e betoneiras, entre outros, em Simões Filho. “Meus pais eram feirantes, sempre vivi nesse meio do empreendedorismo. Sendo a mais velha de oito filhos, eu fazia pastel em casa para meus irmãos mais novos venderem na rua. Hoje, finalmente, tenho minha própria empresa”, conta ela, que é um exemplo de que é possível abrir um negócio com pouco dinheiro.
Luciene ri ao lembrar que a primeira locação da Luloc foi para uma Igreja. “Recebi R$ 300 em notas de R$ 2, R$ 5 e R$ 10. A partir daí, o faturamento foi aumentando e a empresa crescendo”. Ela começou o negócio na garagem de casa e hoje tem uma loja de 60m² e um galpão de 80m².
Começar uma empresa focada em algo que você já conhece e dentro da própria casa é uma das principais orientações para quem quer abrir um negócio, mas tem poucos recursos para investir. “A estratégia de começar pequeno e simples é uma abordagem sábia. Lançar a versão mais simples de um produto, por exemplo, permite que o empreendedor entre rapidamente no mercado, teste a aceitação e, em seguida, ajuste-o conforme necessário com base na resposta dos clientes”, afirma Raquel Teixeira, líder de Private da EY para América Latina.
A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada com apoio do Sebrae, mostra que a necessidade de enfrentar o desemprego, como no caso de Luciene, é a principal motivação para começar um negócio, segundo 82% dos entrevistados. Wagner Gomes, técnico do Sebrae Bahia ressalta, no entanto, a importância de empreender com base na oportunidade. “Se lá na frente, o mercado não atender a necessidade do empreendedor, o risco é maior”, diz. Gomes também aconselha quem está trabalhando e quer começar uma empresa a manter o emprego, pelo menos inicialmente. “Assim, se o negócio não der certo, o baque financeiro não será tão impactante”.
Planejamento é essencial
Em todo caso, o planejamento é fundamental para o sucesso da empreitada. A dica de Raquel Teixeira é criar um e um plano de negócios enxuto, com aspectos vitais do empreendimento, como a proposta de valor, o mercado-alvo e as estratégias de geração de receita.
“Isso permite que o empreendedor mantenha uma visão clara e pragmática do negócio, concentrando-se nos elementos que impulsionarão o crescimento e a sustentabilidade a longo prazo”. Ela orienta a ser realista quanto aos custos e ao capital disponível, identificar todos os recursos necessários para iniciar o negócio e planejar, se possível, uma reserva de emergência. “Além disso, utilize ferramentas de gestão financeiras para acompanhar as entradas e saídas desde o início, ainda que essa ferramenta seja uma planilha de Excel”, acrescenta.
Outra dica dos especialistas é recorrer aos recursos disponíveis, como cursos gratuitos e online de empreendedorismo e as redes sociais e plataformas digitais para marketing, que têm um custo relativamente baixo. Orientações que Luciene Santana segue à risca: “Minha loja é loja de bairro, mas vendo em vários canais, divulgo na OLX e faço anúncios em redes sociais”, conta.
Paixão e habilidade
Para quem busca iniciar um negócio com recursos financeiros limitados, identificar os setores certos pode ser crucial. Raquel Teixeira encontrar a interseção entre paixão e habilidade, escolhendo um setor que não apenas desperte o interesse do empreendedor, mas também onde ele tenha competências sólidas. “Setores como serviços de consultoria, educação online, marketing digital ou artesanato são exemplos onde as habilidades pessoais e a paixão podem ser facilmente aproveitadas para iniciar um negócio com pouco dinheiro. Comércio eletrônico também pode ser uma opção, é uma área em crescimento, onde o empreendedor pode começar vendendo produtos através de marketplaces antes de investir em um site próprio”, exemplifica.
O mercado de franquias também é uma opção, com negócios que começam com R$ 75 mil de investimento, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), além das franquias de baixo custo – ou microfranquias – que têm investimento inicial de R$ 10 mil. Segundo dados da ABF sobre as 20 Maiores Microfranquias por Operações 2024, predominam os segmentos de Serviços e Outros Negócios (55%), seguido de Saúde, Beleza e Bem-Estar e Casa e Construção (ambas com 10%).
A principal vantagem é um modelo de negócio testado e comprovado e uma marca já estabelecida, o que reduz significativamente os riscos. “O franqueado compartilha custos, sistemas e outros recursos o que possibilita acesso a grandes ganhos de escala. Há ainda toda a orientação, cursos e capacitação oferecidos pelo franqueador”, explica Fernando Ribeiro, diretor da ABF no Nordeste.
Nathália Souza, franqueada da TrataBem, empresa de tratamento de piscinas da iGui, é uma entusiasta desse mercado. “Eu já tinha uma empresa de franquias, que comecei há dois anos e na qual fiz um investimento alto, mas gostei do setor. Então, com R$ 75 mil, abri uma unidade da TrataBem em Arraial D’Ajuda, onde há muita demanda por esse serviço”. Ela conta que, com a grande aceitação da marca reconhecida no mercado e os processos estabelecidos, os lucros têm superado as expectativas. “É muito importante conhecer a marca com a qual você vai empreender, que estrutura vão te oferecer, para não se frustrar”, orienta.
No entanto, há também riscos a ser considerados. A principal desvantagem, diz Raquel Teixeira, é a falta de autonomia, já que os franqueados precisam seguir estritamente os procedimentos e padrões estabelecidos pelo franqueador. “Além disso, os custos iniciais e as taxas contínuas associadas à aquisição e operação de uma franquia podem ser significativos, o que pode representar um desafio para empreendedores com recursos financeiros limitados. E o sucesso do empreendimento ainda está sujeito a fatores externos, como condições econômicas e concorrência local, o que pode impactar o retorno do investimento”, explica a especialista. Em suma, embora as franquias ofereçam uma entrada potencialmente mais suave no mundo dos negócios, é essencial pesar cuidadosamente as vantagens e desvantagens antes de tomar uma decisão.
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