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ECONOMIA

Endividamento impacta saúde mental dos brasileiros, diz Serasa

Estudo mostra reflexos do endividamento e da inadimplência no comportamento da população

Por Rafaela Souza

17/11/2022 - 18:52 h | Atualizada em 17/11/2022 - 19:21
Levantamento revelou que 83% dos endividados sofrem de insônia por conta dos débitos
Levantamento revelou que 83% dos endividados sofrem de insônia por conta dos débitos -

O aumento do endividamento tem gerado reflexos negativos na saúde mental dos brasileiros. As dívidas em atraso interferem no sono e no emocional da população, segundo o estudo "Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro", divulgado nesta quinta-feira, 17, pela Serasa.

O levantamento revelou que 83% dos endividados sofrem de insônia por conta dos débitos, 78% são acometidos por surtos de pensamentos negativos e 61% viveram ou vivem a sensação de 'crise e ansiedade' ao pensar na dívida. Ao todo, foram ouvidas 5.225 pessoas em todas as regiões do país. O cenário psicológico foi apontado como 'preocupante', já que, conforme a pesquisa, a inadimplência pode estimular problemas emocionais e até prejudicar relações pessoais e familiares.

Ainda conforme os dados, 74% dos endividados afirmam ter dificuldade de concentração para realizar tarefas diárias. Além da concentração comprometida, 62% declararam que a situação financeira impactou no relacionamento conjugal.

Para a psicóloga do dinheiro e especialista na abordagem comportamental gerada pelo endividamento, Valéria Meirelles, a inadimplência e o endividamento não devem ser compreendidos apenas como problemas econômicos, mas como uma condição que interfere diretamente no comportamento da população.

“O sistema biológico é o primeiro a sentir o efeito da preocupação com as dívidas. A ansiedade vai invadindo a rotina de quem busca incansavelmente uma solução, o endividado passa a viver com pensamentos voltados ao futuro, não consegue mais relaxar e, consequentemente, não se concentra nas suas tarefas habituais e nem consegue mais dormir com normalidade”, explica.

Valéria Meirelles é psicóloga e especialista na abordagem comportamental gerada pelo endividamento
Valéria Meirelles é psicóloga e especialista na abordagem comportamental gerada pelo endividamento | Foto: Reprodução

A autoestima abalada e medo do futuro também foram questões levantadas pelos participantes da pesquisa. Mais da metade das pessoas revelaram que sentem 'muita tristeza', além de terem 'vergonha da condição de endividado'.

De acordo com o diretor da Serasa, Matheus Moura, os impactos vão para além dos fatores práticos nas finanças dos brasileiros, como estar endividado e perder o acesso ao crédito.

“A dívida tem um fator emocional muito importante, principalmente em um país onde você escuta desde criança que o seu nome é tudo que você tem. Então, a dívida tem um impacto emocional muito forte”, ressalta.

Recorde

Conforme a Serasa, o número de inadimplentes no país alcançou um novo recorde, que em setembro aumentou pelo nono mês consecutivo e soma mais de 68 milhões de brasileiros com o nome negativado.

Para Moura, o aumento está relacionado a uma situação multifatorial que se soma às dificuldades enfrentadas na pandemia de Covid-19.

"Se a gente olhar esse número, ele é maior do que foi registrado no ápice da pandemia, onde a economia estava fechada com inúmeras incertezas e dificuldades. Neste ano, estamos com números ainda maiores por conta da soma de fatores: desemprego, inflação, diminuição do poder de compra aliado a uma nova educação financeira. O brasileiro quer pagar as dívidas, mas ele precisa de instrução. Então, temos um caminho longo a percorrer no que diz respeito ao endividamento", explica.

Matheus Moura é diretor da Serasa
Matheus Moura é diretor da Serasa | Foto: Reprodução

Educação financeira

Apesar do contexto preocupante, o estudo trouxe dados positivos em relação ao planejamento financeiro. Dos entrevistados, 88% dizem que passaram a fazer algum tipo de controle de gastos. Em meio aos impactos comportamentais gerados pela inadimplência, também chama a atenção que 70% dos endividados revelam confiança em conseguir quitar o débito e recuperar o crédito, e 57% passaram a conversar com os familiares sobre a importância de reduzir os gastos da casa e buscar soluções conjuntas.

A partir disso, a especialista destaca a importância da educação financeira e o diálogo aberto sobre o dinheiro nas famílias. “É visível que há uma tentativa saudável de monitorar e controlar os gastos, uma conscientização que certamente pode ser atribuída à quantidade e variedade de informações sobre o tema da educação financeira que, felizmente, chega hoje em dia por várias mídias", pontua.

Assim como a psicóloga, o diretor da Serasa ressalta a importância do acesso à informação através da educação financeira. "A educação financeira é algo que tem uma longa estrada no Brasil. E são em momentos como esse que a gente consegue trocar informações, experiências e dados, para que a gente possa avançar num tema que é tão importante para milhões de brasileiros, em um dos países mais endividados do mundo. E a gente sabe que o começo para a mudança dessa realidade é o acesso à informação e educação", afirma.

Desemprego

Mesmo apresentando uma baixa queda no Brasil, o desemprego ainda é apontado como o principal motivo do endividamento da população. A falta de trabalho foi relatada por 29% dos participantes. Em seguida, foi citada a redução de renda (12%) e o empréstimo para conhecidos ou familiares (11%).

“Há uma grande correlação entre o desemprego e o endividamento. Em todas as edições da pesquisa, o principal motivo do endividamento é o desemprego. A gente sabe que é uma luta todo mês, que são poucas pessoas que conseguem ter uma reserva, para que possa sobreviver alguns meses sem se endividar quando perde a sua renda”, aponta o diretor.

Negociação das dívidas

A Serasa realiza o Feirão Limpa Nome até o dia 5 de dezembro, por meio dos canais digitais, do site e aplicativo. Também é possível realizar a consulta e a negociação das dívidas presencialmente nas mais de 11 mil agências dos Correios distribuídas pelo país, que oferecem as mesmas condições mediante o pagamento de uma taxa de R$ 3,60.

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Tags:

brasil economia Educação financeira endividamento inadimplecia

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