COMÉRCIO
Fruticultores temem demissão em massa com tarifa de Trump
Produtores do Vale do São Francisco estão apreensivos com impactos da medida
Por Miriam Hermes

Preparados para exportar cerca de 2.500 containers de manga para os Estados Unidos a partir do próximo mês, os mais de três mil fruticultores/exportadores do Vale do São Francisco temem pelos impactos econômicos e sociais, com possibilidade de demissões em massa e perda da produção na lavoura. Isso, caso se cumpra a ameaça norte-americana de cobrar taxa de 50% acima das demais tarifas na exportação brasileira para aquele país a partir de 1º de agosto.
Importante atividade para a economia estadual e em diferentes regiões do estado, a fruticultura baiana exportou 187 mil toneladas em 2024, com receita de US$ 268,5 milhões, dos quais, US$ 71,8 milhões das exportações para os EUA.
Os dados foram sistematizados pela Coordenação de Acompanhamento Conjuntural da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI BA) e apontam que a manga, com US$ 156,4 milhões faturados no período, foi a fruta que mais somou para a receita de exportação. Seguida da uva, com US$ 45,2 milhões e do limão, com US$ 31,9 milhões.
Em Juazeiro, um dos grandes polos de fruticultura do estado, notadamente na produção de manga e uva, a expectativa é que hoje aconteça uma reunião com representantes dos produtores e outros segmentos envolvidos na cadeia produtiva, com participação do governador Jerônimo Rodrigues e comitiva para debater as ações que visam derrubar a ameaça norte-americana.
Presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho, pontuou que a colheita da manga está preparada para começar na primeira semana de agosto, lembrando que os empresários investiram para garantir uma produção de excelência voltada para o mercado interno e externo, principalmente os Estados Unidos e a Europa.
Ele salientou que diante da ameaça do tarifaço, no momento os fruticultores estão inseguros e temorosos, pois também já compraram as embalagens, reservaram os contêiners e acertaram com os distribuidores. “E não é possível redirecionar essa produção para a Europa ou para o mercado interno sob o risco de colapsar os dois mercados”, alertou.
Somente da região do Vale do São Francisco, que abrange municípios da Bahia e Pernambuco, a estimativa é que a fruticultura gere aproximadamente 250 mil empregos diretos e outros 750 mil indiretos. De acordo com o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Juazeiro, Josival Barbosa, é difícil estimar o número de demissões, mas é certo que serão muitas com reflexo na economia regional.
Frutas são perecíveis
Ele chamou a atenção para a o fato das frutas serem perecíveis, e por isso devem ser colhidas e comercializadas no momento certo. Vale lembrar que a janela de entrada da manga brasileira nos EUA, vai de agosto a meados de outubro.
Barbosa justificou a apreensão da classe, explicando que caso não se reverta a situação em tempo, nem vale a pena colher a produção. Esse trabalho implicaria em mais gastos, para ter um retorno abaixo do investimento, considerando a grande quantidade da fruta acima do planejado que chegaria para o mercado interno.
O setor está se mobilizando com os demais produtores brasileiros, na expectativa de anular a ameaça de Donald Trump, com uma série de encontros de abrangência nacional e estadual, com a participação também dos empresários importadores estadunidenses.
Caso não seja possível anular a taxa, os fruticultores pedem que não recaia sobre alimentos. “Não é justo e razoável taxar alimentos”, enfatizou o fruticultor, Guilherme Coelho, ressaltando que a tarifa trará prejuízos enormes para os dois países.
Para os fruticultores brasileiros o futuro está incerto. “Nossos produtores não terão mercado consumidor que absorva a sua produção e terão que demitir funcionários. Estamos falando de milhares de famílias que poderão ficar sem renda, sem comida na mesa”, destacou, ressaltando que o diálogo diplomático e o bom senso devem prevalecer.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes