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FINANÇAS

‘Gatilhos’ geram prejuízos financeiros

Quando apenas emoções determinam a tomada de decisões de compra, o resultado pode ser o descontrole

Por Dianderson Pereira*

23/09/2024 - 6:00 h
Adriana alerta que o medo da escassez é um fator desencadeante de decisões financeiras impulsivas
Adriana alerta que o medo da escassez é um fator desencadeante de decisões financeiras impulsivas -

Quando as emoções estão envolvidas na tomada de decisões financeiras, o resultado pode ser devastador: compras impulsivas, investimentos arriscados e, em muitos casos, o acúmulo de dívidas. Esse comportamento é comum entre brasileiros que, ao buscarem satisfação imediata, acabam tomando decisões financeiras precipitadas, comprometendo o orçamento e gerando consequências negativas a longo prazo, de acordo com especialistas.

Segundo Alan Dourado, planejador financeiro, essa busca por satisfação rápida é um dos principais fatores de descontrole. “Muitos brasileiros veem nas pequenas recompensas diárias, como comida delivery, uma forma de compensar o cansaço. Mas a falta de controle pode criar uma bola de neve no orçamento”, explica. Ele também alerta para a pressão social e as tendências de consumo, como criptomoedas ou ações de tecnologia, que podem levar a decisões financeiras precipitadas.

“Cada pessoa tem uma realidade financeira diferente. Duas pessoas podem investir na mesma ação, mas se uma está mais preparada, ela pode aguentar uma queda sem problemas. A outra, sem o mesmo preparo, pode retirar o dinheiro por medo de perder mais, consolidando o prejuízo”, comenta Dourado.

Antônio Carlos Souza, funcionário público de 34 anos, passou por esse processo. Sem planejamento financeiro, ele se deixou levar por aplicativos de delivery e promoções de eletrônicos, buscando alívio para o estresse do trabalho. “Sempre que me sentia cansado, eu gastava em algo que achava que merecia. Era um ciclo: eu comprava, me sentia bem por alguns minutos e depois vinha a culpa”.

Educação financeira

Tainã Queiroz e Alan Dourado
Tainã Queiroz e Alan Dourado | Foto: Patrick Mendes/Divulgação | Arquivo pessoal

Para Elane Seixas, consultora financeira, a falta de conhecimento sobre como administrar dinheiro desde cedo contribui para esse comportamento. “Na infância e na escola, não somos ensinados a tratar o dinheiro, e isso impacta a vida adulta. A falta de objetivos bem definidos e o imediatismo levam as pessoas a se afastarem cada vez mais de seus sonhos e da estabilidade financeira”.

Além disso, o medo da escassez também afeta o comportamento dos consumidores. Adriana Lucena, psicóloga com abordagem em psicologia positiva, alerta que esse medo é um fator desencadeante de decisões financeiras impulsivas. “O medo de perder pode ser tão severo que leva as pessoas a venderem suas conquistas para pagar outros compromissos, o que acaba agravando a situação”.

A gratificação instantânea, outro aspecto emocional, tem um papel crucial nas finanças. De acordo com a psicóloga Tainã Queiroz, em uma era de consumo rápido, onde um clique é suficiente para obter o que se quer, a tentação de gastar é constante. “O prazer imediato é uma armadilha. As pessoas compram algo para se sentir bem agora, mas acabam se arrependendo depois, principalmente quando o gasto não cabe no orçamento”.

Para evitar esses problemas, Elane Seixas destaca a importância de ter uma base financeira sólida. “Sempre oriento que se deve ter uma reserva de emergência equivalente a seis meses de despesas fixas. Sem essa base, pensar em investimentos mais arriscados é um erro, pois a pessoa não tem a estrutura necessária para lidar com crises”.

Tainã Queiroz e Adriana Lucena também ressaltam a relevância de buscar autoconhecimento e apoio profissional, tanto na área financeira quanto psicológica. “O estresse financeiro pode levar a transtornos graves. A psicoterapia ajuda a entender e lidar melhor com as emoções que afetam as finanças”, fala Queiroz.

Setembro Amarelo

Em tempos de crise, a saúde mental pode ser fortemente impactada pelas dificuldades financeiras. Tainã Queiroz lembra a importância de procurar ajuda nesses momentos: “O estresse financeiro pode levar a transtornos mentais graves. Se você se sente sobrecarregado, saiba que há soluções. A psicoterapia pode ajudar a desvendar as raízes emocionais das suas decisões e a construir uma vida financeira mais equilibrada”.

Adriana Lucena complementa, destacando que o suporte emocional também pode ser obtido em redes de apoio. “É importante entender que momentos de crise são parte da vida. Compartilhar essas preocupações com amigos e familiares, além de buscar momentos de lazer e descontração, pode ser essencial para preservar a saúde mental. Pequenos alívios cotidianos ajudam a diminuir a carga emocional e a evitar decisões precipitadas”.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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