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NEGÓCIOS

Gosta? Bebidas sem álcool caem no gosto do freguês

Vendas de cervejas não alcoólicas cresceram 24% e os drinks desalcoolizados ganharam espaço nos cardápios de bares e restaurantes

Por Joana Lopes

10/11/2024 - 7:00 h
Ana abriu a adega Frantz, especializada em vinhos sem álcool
Ana abriu a adega Frantz, especializada em vinhos sem álcool -

Os donos de bares e restaurantes têm precisado se adaptar ao comportamento dos consumidores, que aumentaram o consumo de bebidas sem álcool no Brasil. As vendas de cervejas não alcoólicas, por exemplo, superaram os 480 milhões de litros no ano passado, o que representa um crescimento de 24% em comparação com 2022, segundo dados do Euromonitor Internacional. “Essa demanda é crescente, mas ainda está só começando. Os estabelecimentos estão oferecendo alternativas como sucos naturais, águas saborizadas e, principalmente, mocktails, os coquetéis sem álcool”, comenta José Eduardo Camargo, líder de Comunicação e Inteligência da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).

Em grandes cidades, essa demanda já motiva o surgimento de cardápios focados em drinks não alcoólicos, um fenômeno impulsionado pelas gerações mais jovens, especialmente os nascidos após 2000, que adotam hábitos mais saudáveis e buscam um estilo de vida mais equilibrado. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos pela consultoria IWSR, responsável pelas principais análises sobre o mercado de bebidas alcoólicas no mundo, realizada em abril de 2023, mostra que 37% dos adultos entrevistados não haviam consumido álcool nos seis meses anteriores ao estudo, sendo 54% deles jovens. A hashtag #mocktails tem mais de um bilhão de visualizações no TikTok.

Para Camargo, essa tendência abre novas oportunidades de crescimento para o setor, que vê nas bebidas sem álcool uma maneira de fidelizar e atrair um público mais consciente e focado no seu bem-estar. “Para conquistar e fidelizar essa clientela, os estabelecimentos precisam repensar seus menus, adicionando essas de forma criativa. Além disso, a capacitação dos funcionários pode ser um caminho para que os drinks sejam mais bem preparados e servido”, diz o especialista.

Isso é algo que Jonatan Albuquerque, empresário e bartender, faz há décadas. “Desde 2015, quando fui estudar na Europa, comecei a perceber essa mudança gradativa nos cardápios. As gerações mais jovens querem beber menos e com mais qualidade”, conta o sócio do Purgatório Bar, na Pituba, em Salvador. Segundo ele, o segredo para agradar essa clientela é elaborar coquetéis bem equilibrados, nos quais seja possível perceber todas as camadas de sabor. O mesmo segredo para os drinks com álcool. “Existem mais de 30 famílias de coquetéis e, no Nordeste, o público prefere os da família sour, que combinam um destilado ou um licor com um elemento ácido e um adoçante. Uma boa opção é substituir o álcool por refrigerantes artesanais de frutas típicas da região”, exemplifica.

Jonatan diz que os bares e restaurantes também podem apostar em bebidas com graduação alcoólica mais baixa. Assim, os clientes podem degustar vários drinks sem se embebedar. “O público mais velho também está mais preocupado com a saúde. Muita gente vem ao bar na sexta-feira à noite, mas bebe menos, porque vai correr ou treinar no sábado de manhã.”

Mercado de vinhos

A observação dessa mudança de comportamento incentivou a empresária Ana Frantz a abrir a Adega Frantz, no Rio Vermelho, especializada em vinhos sem álcool. Gaúcha de uma família acostumada a fazer seus próprios vinhos, ela descobriu esse universo em 2020, quando, devido a um problema de saúde, seu marido deixou de consumir álcool. “Quando conheci os vinhos desalcoolizados, percebi que havia uma oportunidade de negócio nesse nicho, ainda inexistente em Salvador”, conta. Ela começou a vender os rótulos pela internet, explicando cada produto no WhatsApp e em outras redes sociais. O trabalho era grande e, em 2021, decidiu abrir a loja física. “O público se interessou ainda mais, com a possibilidade de tocar nas garrafas, olhar os produtos e receber as explicações ao vivo. À medida em que fui pesquisando e estudando, passei a trabalhar também com cervejas, gins, espumantes e frisantes desalcoolizados.”

Os principais clientes da Adega Frantz são gestantes e lactantes, esportistas e pessoas em tratamento oncológico ou com problemas renais crônicos “Há também muitas pessoas religiosas”, acrescenta Ana. Ela lembra que, no início, precisava fazer um trabalho de convencimento do público, com muitos anúncios nas redes sociais. Hoje, o público já tem uma curiosidade pelos produtos. “Muita gente busca uma vida mais saudável e os vinhos desalcoolizados têm até 65% mais resveratrol, polifenóis e flavonoides, que são antioxidantes, e 80% a menos de calorias que os vinhos tradicionais”, explica a empresária.

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