FINANÇAS
Inadimplência escolar na Bahia supera a média nacional
Estudo revela que falta ou atraso de pagamento a estabelecimento privado de ensino no estado
Por Fábio Bittencourt
Mãe de uma criança de 16 anos matriculada no primeiro ano do 2º grau em escola particular de Salvador, a empresária Fernanda Souza não quer nem saber de atrasar o pagamento mensal de cerca de R$ 2,7 mil. Essa semana quitou o mês de março e antecipou abril, fazendo um esforço extra para não haver meio de acumular a despesa. Qualquer vacilo e ela sabe que terá de dispor de uma “bucha” para conseguir pagar o débito.
O receio é também entrar para a estatística apontada em pesquisa da plataforma de gestão escolar Sponte, que mostra que a inadimplência em estabelecimentos de ensino privado na Bahia em 2022 (25,7%) foi maior que a média nacional, de 19,6%. Na região Nordeste, o índice ficou em 23,8%. No país, a Bahia perde apenas para Piauí (29,3%) e Ceará (34%), respectivamente.
O levantamento revela ainda que o segmento mais afetado pelos atrasos ou falta de pagamentos é o ensino superior, com 30,2%, maior taxa desde 2019, seguido pelos cursos livres, técnicos e profissionalizantes, 26,1%. Na educação infantil, o índice ficou em 20,6%, e na educação básica (ensinos infantil, fundamental e médio), 23,9%.
Os números são confirmados por dirigentes de entidades ligadas ao setor, como o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Sinepe), e o Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior na Bahia (Semesb/Abames), que falam de um cenário desafiador.
O superintendente executivo do Semesb/Abames, Gilberto Martins, conta que em final de semestre o índice de inadimplência em escolas de terceiro grau chega a 35%. Segundo ele, fruto de um cenário de endividamento geral que compromete o “fluxo financeiro”.
“A retração existe em função dos indicadores econômicos”, diz Martins, destacando que o estado possui o mesmo número de escolas superiores privadas de 2016, 125 unidades, e que de lá para cá não houve fechamento, mas “mudanças de mãos”.
Diretor de negócios da Sponte e um dos responsáveis pela pesquisa da inadimplência, Cristopher Morais lembra que a pandemia quebrou muita escola, principalmente as livres e de idiomas. Mas também os pais de alunos. Conta que “no ano passado houve uma melhora no número de matrículas em relação a 2019, mas ainda há obstáculos a serem vencidos”. Segundo ele, a Sponte oferece soluções administrativas e financeiras para mais de cinco mil estabelecimentos de ensino privados no Brasil.
Apertem os cintos
A economista e educadora financeira Juliana Barbosa diz que os números são “preocupantes”, e que “o brasileiro nunca esteve tão endividado como agora”. Ela destaca a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Confederação nacional do comércio, bens, serviços e turismo (CNC), que mostrou que em 2022 quase 78% das famílias fecharam o ano com dívidas, alta de 14,3% se comparado com 2019.
“O número de famílias com dívidas atrasadas também foi o maior em 12 anos, 28,9%. Somado ao cenário de recorde no endividamento, estamos atravessando um período de juros altos, na tentativa de controlar a inflação que vem ultrapassando o teto da meta. E esses desafios estão sendo sentidos por todos, desde a classe com menor renda, até a com salários mais altos”, fala.
Para manter as contas em dia e conseguir incluir a escola no orçamento é necessário adotar um padrão de vida controlado e investir na organização financeira, pontua Juliana. Segundo ela, as dicas passam por começar com um levantamento de todas as despesas e receitas, em seguida a análise de quais gastos podem ser eliminados ou diminuídos.
“Reveja o estilo de vida, como o carro, por exemplo. Existe a possibilidade de trocar por um mais econômico, com seguro mais barato? Ou talvez vender o carro e andar de transporte por aplicativo? Alimentação fora de casa, saídas para lazer, presentes, podem ser diminuídos? Cancelar planos de assinatura, estabelecer metas para os gastos. Tudo isso vai colaborar para organizar as finanças e conseguir economizar ao final do mês”.
Presidente do Sinepe na Bahia, Jorge Tadeu Coelho ressalta que a inadimplência escolar possui dois componentes, o não recebimento mensal e a perda anual, e lembra que o não pagamento se traduz em “dificuldade ao longo do ano”. “Quando é conjuntural, contudo, isso provoca uma grande migração para o setor público, o que agrava ainda mais o cenário, como aconteceu na pandemia”, afirma.
De acordo com Tadeu, para além de 20 grandes escolas, sobram organizações geridas por “pedagogos fundadores, com 500, 600 estudantes matriculados”. Ele conta ainda que algumas delas estão terceirizando a parte de cobrança, da gestão financeira, através de plataformas especializadas.
Pedro Guimarães Neto é consultor de negócios na Isaac, que oferece uma série de soluções para as escolas e famílias, especialmente em meios de pagamento, eliminando burocracia, trabalho manual, emissão de boleto, ligação à secretaria financeira. Agora é tudo no app.
“Escola privada hoje é um centro de excelência, o qual todos querem acessar, é extremamente desejado, um serviço que a família quer investir, como forma de oferecer um futuro melhor para os filhos, mas tem o desafio do pagamento”.
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