ECONOMIA
Mais 17 mil entram no mercado informal

Por Donaldson Gomes, do A TARDE
O mercado de trabalho informal continua a crescer na Região Metropolitana de Salvador. No último ano, mais 17 mil pessoas apostaram a sobrevivência no trabalho sem carteira assinada, formando 532 mil ocupados na informalidade.
Apesar do aumento da oferta de vagas no trabalho com carteira assinada, propagado pelo governo federal, a informalidade ainda cresce. A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) na Região Metropolitana mostra que o mercado formal não absorve o contingente de pessoas que estão busca de trabalho.
Há oito meses, Maria de Fátima da Silva, 55 anos, decidiu ir para a rua vender cachorros-quentes e garantir a sobrevivência da família. Depois de 32 anos trabalhando com carteira assinada, tem dificuldades para encontrar emprego por causa da idade. “Eu coloco currículos, mas não encontro nada por causa da idade”, lamenta. Nos bons dias, consegue lucrar no máximo R$ 50. “Não dá pra sustentar a família com o que ganho aqui”, reclama Maria de Fátima. O sonho dela é o de muitos outros brasileiros: “Quero um emprego com carteira assinada”.
O problema é que muitas vezes o caminho para a carteira assinada é extremamente difícil. “Raramente quem está na informalidade consegue um emprego. Pela qualificação média de quem está nas ruas, essas pessoas teriam que se submeter a remunerações mais baixas em funções menores”, analisa o diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Wilson Meneses.
Aos 37 anos, o ambulante Reginaldo Alves nunca trabalhou com carteira assinada. Nem pretende. “Ganho melhor na rua. Mesmo em tempo ruim, consigo vender no mínimo R$ 1 mil por mês”, garante ele que estudou somente até a 7ª série e sabe que dificilmente teria boas propostas de trabalho: “Iriam me oferecer um salário mínimo”. Desde os 14 anos Reginaldo comercializa roupas. Hoje, além de vender no varejo, fornece o material que traz de Fortaleza para outros camelôs. Somente depois de duas décadas na informalidade, o vendedor começa a se preocupar com o futuro. “Vou começar a recolher o INSS como autônomo este ano”, conta.
Há cinco anos, Marlon Leite, 50 anos, começou a vender “espetinho” na Rua da Palestina, no Uruguai para complementar a renda, depois que foi afastado do trabalho. Diariamente, vende até 100 “espetinhos”, por R$ 2, cada. “Só trabalho com carne de primeira”, destaca. Apesar do sucesso entre a freguesia, Marlon aponta a insegurança como problema. “Às vezes as vendas caem. Sem uma reserva, a situação fica complicada”, preocupa-se.
A redução da informalidade em curto prazo é descartada por Wilson Meneses. “Acabar com a atividade informal a curto prazo é trabalho para mágico. O crescimento econômico do Brasil, de 5%, é inferior à média mundial”. Ele explica que “só o crescimento econômico sustentável, aliado a um grande investimento educacional pode reverter o quadro”. Meneses observa uma diminuição na importância da informalidade entre os ocupados, mas ressalta que a situação ainda é de crescimento. “O percentual de trabalhadores com carteira assinada aumentou 99%, enquanto o número de trabalhadores informais cresceu apenas 35%”.
De acordo com Meneses, o índice representa um “afastamento” entre a quantidade de pessoas que trabalha com carteira assinada dos autônomos. “É como se tivéssemos dois carros, um andando a 100 km/h e outro a 35. É óbvio que a distância entre o mais rápido e o mais lento vai se tornar cada vez maior, entretanto o veículo que vai mais devagar ainda está se movendo”, compara. “A informalidade aumenta menos, mas a realidade é que ela cresce”, explica.
Outro complicador é que empregos formais gerados têm, na maior parte das vezes, baixa remuneração. “A indústria é a principal responsável pelos resultados positivos, pois é uma atividade industrial é naturalmente formal, mas por outro lado, como se trata quase sempre de trabalhos de base, a remuneração é mais baixa”, explica Meneses.
A PED demonstra que em 1998, em torno de 40% dos ocupados estavam em situação vulnerável (ocupados do setor privado sem carteira assinada; autônomos que trabalham para o público; além de trabalhadores domésticos, segundo o Dieese). Em 2007, caiu para 37,3%. “No setor privado, em 1998, 30,9% dos ocupados tinham carteira de trabalho assinada. No ano de 2007, a proporção se elevou para 40%”, comenta a coordenadora da PEC no Dieese, Ana Margareth Simões. “O que se vê nos últimos anos, até 2007, é o crescimento da ocupação de forma geral, e, em especial, do emprego com carteira de trabalho assinada. Para 2008, com a crise financeira internacional e a aceleração do preço das commodities é bastante insegurança”, comenta.
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