ECONOMIA
Mais de 30% das baianas têm seus próprios negócios
Cerca de 2,3 mil empreendedoras do estado se inscreveram no Mulher.com
Por Priscila Dórea
Persistir e encontrar seu lugar no mundo através do próprio negócio. Foi com esse pensamento que a confeiteira e consultora Simone Pereira lidou com o falecimento precoce de sua filha de dois anos e tem buscado conquistar seu espaço no mercado de doces em Salvador. De acordo com o Sebrae-Ba, a porcentagem de mulheres donas de seus próprios negócios na Bahia é de 31%, e cerca de 2,3 mil delas se inscreveram, assim como Simone, no Mulher.com, evento de inscrição gratuito - e já esgotada - organizado pelo Sebrae Delas e a Fecomércio-BA, através da Câmara Estadual da Mulher Empresária (CEME), que se encerra hoje, mas que já está gerando expectativas para a edição do ano que bem.
“Esse evento é uma grande oportunidade para adquirir conhecimento, algo que ninguém pode tomar da gente. Um encontro como esse ajuda a nos aprimorarmos, conhecer outras pessoas e até mesmo incentivar as outras pessoas com as nossas histórias, seja ela feliz ou triste. Há cinco anos perdi minha filha e quando uma notícia desse impacto nos atinge, a parte mais difícil é seguir em frente e continuar de onde você parou. É preciso persistir. Estou onde estou pelo meu amor por ela, mas também por mim, para encontrar meu lugar no mundo”, conta Simone Pereira, proprietária da Magali Festeira Confeitaria.
Já a empreendedora Jéssica Freitas, que também esteve no primeiro dia do Mulher.com, embarcou no empreendedorismo no início de 2022: formada em gestão de recursos humanos, a jovem estava trabalhando como assistente administrativa e de recursos humanos até janeiro, quando foi demitida. Ela então resolveu investir o dinheiro de sua rescisão no seu sonho de ter o próprio estúdio de beleza, aproveitando a base que já tinha, ela ainda investiu em cursos, e começou a trabalhar com designer de sobrancelha e box braids, entrançamento feito nos fios naturais com a adição de cabelos sintéticos.
“O meu objetivo é que, futuramente, eu possa abrir um estúdio maior com atendimento dedicado a cabelo cacheado, designer de sobrancelha e unhas em gel, por exemplo, tentando atender a diversas modalidades e assim alcançar diversas mulheres. E mais para frente formar um instituto, onde vou poder ajudar as mulheres com cursos voltados para a área da beleza. Então participar de um evento como esse é uma grande oportunidade de agregar conhecimento e colocar tudo isso em prática nesse caminho que quero trilhar”, conta Jéssica.
Com 2,3 mil inscritas e dois dias de evento (16 e 17 maio), a programação conta com palestras, debates, plenárias, rodas de diálogo, o HUB Mulher, um espaço que traz a questão da inovação e da tecnologia, junto a startups, para o mundo do empreendedorismo feminino e, claro, oficinas. Uma delas, de turbante, foi ministrada por Valdemira Telma de Jesus Sacramento, a Negra Jhô, criadora do Instituto Kimundo - organização que trabalha na preservação e valorização da identidade e autoestima de crianças e adolescentes negras de Salvador -, e um dos grandes nomes quando o assunto são tranças, torços e turbantes.
“Se nós, mulheres, nos unirmos, valorizarmos e respeitarmos, vamos alcançar muito mais. Pudemos ver isso na pandemia, onde nos unimos, nos orientamos e conquistamos com a história umas das outras. A mulher é uma fortaleza e juntas somos muito mais fortes, pois sem luta não há vitória”, afirma Negra Jhô.
Obter conhecimento
“O empreendedorismo feminino é muito solitário”, afirma a coordenadora estadual da Ceme na Bahia, Rosemma Maluf, que explica que a mulher ainda não trata a cooperação como uma estratégia de competitividade, prática comum entre os homens empresários, algo que precisa mudar de forma acelerada. O mundo está cada vez mais competitivo e não há muito espaço para o amadorismo, então as mulheres precisam estar capacitadas, precisam investir muito em conhecimento para serem competitivas e, consequentemente, tornarem suas empresas competitivas.
E esse evento, que busca capacitar a mulher em termos de gestão e de oportunidade de trabalho, ela pontua, excedeu e muito as expectativas, já mostrando o quanto as mulheres estão investindo em si mesmas e em seus projetos. “Tivemos que encerrar as inscrições antes, pois as 2,3 mil participantes excederam e muito a nossa expectativa de 1,5 mil. Hoje as mulheres são força de trabalho e força de consumo, nós não estamos falando de mimimi de mulher, pelo contrário, nós estamos falando de negócios”, afirma Rosemma.
Ela ainda salienta a importância de empoderar as mulheres economicamente, para que elas tenham o controle do seu destino. “Não estamos falando de ela escolher o mundo dos negócios ou optar por se dedicar exclusivamente à família. É uma questão de escolha, desde que seja uma escolha dela seguir o caminho que for, ela será empoderada. O empoderamento econômico, inclusive, é a principal estratégia de combate ao feminicídio e a violência contra mulher. Não se pode falar de acabar a violência se essa mulher continua presa a seu algoz por questões financeiras.
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