AGRICULTURA
Mulheres ganham independência e papéis de liderança no cultivo de cacau na Bahia
Elas apostam no potencial do fruto para gerar empregos e renda e fortalecer a qualidade dos produtos
Por Daniel Araújo*

No sul da Bahia, mulheres da agricultura familiar estão assumindo papéis de protagonismo na produção e beneficiamento do cacau, sejam em modelos tradicionais ou impulsionadas por mudanças no modelo de cultivo que valoriza a agrofloresta e a proteção da Mata Atlântica. Essas mulheres acreditam no potencial do cacau baiano para gerar empregos e renda, além de fortalecer a identidade local e a qualidade dos produtos.
A ilheense Nara Mendes, que cultiva cacau em Una no sul da Bahia, conta que o machismo ainda representa uma grande dificuldade para as mulheres líderes no campo. “Existe a dificuldade de comandar a propriedade quando você vai contratar um homem e alguns homens tem dificuldade de lidar com a liderança feminina”, relata a produtora que beneficia o cacau em sua própria terra.
Além das dificuldades relacionadas ao machismo, existem também as dificuldades da própria cultura do cacau. “Bom, precisamos ainda superar alguns desafios, estamos passando pela situação dos problemas climáticos que tem prejudicado a produção de cacau e isso tem diminuído a quantidade. Mas estamos trabalhando, buscando mecanismos e meios para que nós possamos dar continuidade ao trabalho e continuar fazendo o cacau de qualidade que tem nos beneficiado de uma forma muito significativa”, explica Delineia Batista, produtora de cacau orgânico no assentamento Dois Riachões em Ibirapitanga, sul do estado.
O modelo de agrofloresta, conhecido como cabruca, é muito tradicional na região cacaueira no sul da Bahia, este modelo de colheita além de ecologicamente amigável, permite uma variação na forma de renda dos produtores “A forma de produção em agrofloresta tem nos ajudado e nos possibilitado de ter outras rendas. Além do cacau, a gente pode ter renda com outros produtos que são plantados juntos, como banana e jaca. São coisas que tem agregado na produção. Quando está em falta do cacau, a gente consegue tirar a renda desses outros produtos que são plantados junto”, revela Delineia.
Frutas no chocolate
“Então, por não depender só da renda de cacau, mas também ter jaca, banana, e outras frutas, a gente vai se beneficiar incluindo isso no chocolate. E isso permite que essas frutas passem a valer o valor dela por peso de chocolate, então a gente aumenta o valor dessas frutas quando a gente inclui isso com o chocolate”, conta Nara, sobre algumas das soluções criativas que as mulheres do cacau estão promovendo.
O cacau é um símbolo da região sul da Bahia, e através da atividade dessas mulheres tem sua cultura e tradição preservados e prolongados para o futuro, além de gerar emprego e renda para várias famílias. “A nossa produção de cacau tem uma história de luta. Desde quando tudo começou, a participação das mulheres é bastante intensa e a gente tem procurado fazer esse trabalho de forma cada vez mais organizada para que assim a gente consiga ter visibilidade e ganhar mercado” finaliza Delineia.
*Sob a supervisão da editora Cassandra Barteló
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