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ECONOMIA

Mulheres se fortalecem em coletivos e projetos compartilhados para empreender

No mês do Dia Internacional da Mulher, trazemos exemplos de negócios geridos e impulsionados por elas

Por Joana Lopes

09/03/2025 - 6:00 h
Cynthia Paixão
Cynthia Paixão -

Em 2011, quando se tornou mãe solo de filhos gêmeos, aos 21 anos, Cynthia Paixão decidiu empreender. Trocou o emprego estável, de carteira assinada, pela possibilidade de viver a maternidade com mais equilíbrio. Lançou, então, sua marca e loja própria de moda praia plus size. Em 2021, após a pandemia de Covid-19, percebeu a dificuldade de muitas empreendedoras, principalmente de mulheres negras, como ela, em manter uma loja sozinhas, pagando aluguel e funcionários. Foi quando decidiu convidar 10 dessas mulheres para participar do seu ponto físico. Nascia, assim, a loja colaborativa Afrocentrados.

“Comecei em uma unidade de 19 metros quadrados, na rua, e hoje estamos numa loja de 200 metros quadrados, em um grande shopping, trabalhando com 100 marcas”, celebra Cynthia. Como o nome diz, a Afrocentrados vende produtos cosméticos, de moda, artesanato, papelaria, arte e decoração de empreendedores negros, sendo 95% mulheres. Em 2024, o negócio movimentou R$ 500 mil.

Iniciativas como a de Cynthia Paixão ajudam mulheres a driblar obstáculos como a falta de financiamento ou de estrutura para conquistar o próprio negócio. De acordo com especialistas, mulheres que empreendem juntas se sentem mais seguras e têm mais chances de êxito. “A Afrocentrados se tornou uma rede de apoio que as ajuda a conquistar sua liberdade financeira”, diz Cynthia, que oferece mentoria para colegas do ramo sobre identificação de público, precificação e marketing em redes sociais.

Rosângela Gonçalves, coordenadora do programa Sebrae Delas, de fomento ao empreendedorismo feminino, diz que a proximidade com mulheres que já superaram barreiras é um aprendizado inspiracional. Segundo ela, empreendimentos coletivos, como o de Cynthia Paixão, são uma tendência de negócio. “Além de reduzir custos, como com o aluguel, eles permitem melhores condições de negociar com fornecedores, colaboração para campanhas de marketing e estratégias promocionais mais abrangentes”.

Pertencimento

A empresária Ana Carolina Alonso, coordenadora da Câmara da Mulher Empresária (CME) da Fecomércio Bahia, lembra que as mulheres se preparam mais que os homens para empreender, investindo em cursos e capacitações antes de abrir o negócio e na educação continuada, com novas ferramentas, para se manter no mercado. O acúmulo de conhecimento não elimina, no entanto, a necessidade da sensação de pertencimento ao mundo do empreendedorismo. “As trocas de experiência propiciam ainda mais capacitação. E conviver com outras mulheres de sucesso, entendendo que dores e alegrias são comuns a todas, com certeza as incentiva a seguir em frente”, afirma.

Ana Carolina diz que, sempre que mulheres se reúnem e se incentivam, a possibilidade de durabilidade e expressão do negócio se amplia. Por isso, é fundamental que mulheres empreendedoras façam parte de associações que as representam, conversem sobre negócios, sobre dinheiro e sobre formas de ampliarem a sua participação no mercado. “Empresas femininas são importantes para a geração de emprego e renda para a sociedade e quanto mais duráveis e rentáveis elas forem, mais todos os agentes participantes se beneficiam”, pontua

Isso é especialmente verdade para aquelas que atuam no empreendedorismo social. No Centro de Arte e Meio Ambiente (Cama), em Salvador, há 30 anos, mulheres negras são incentivadas a empreender em diversos setores, gerando trabalho e renda na própria comunidade. “A gente já nasce empreendendo. Costureiras que já faziam roupas em casa, mulheres que vendiam geladinho e quitutes hoje têm espaços no bairro para comercializar seus produtos”, conta Ana Carine Nascimento, coordenadora da ONG.

Entre os empreendimentos fomentados no Cama ao longo dos anos estão a Associação de Doceiras e Confeiteiras de Itapagipe , o grupo Colher e Sabor, e o Costura Solidária, que reúne costureiras que transformam resíduos têxteis em acessórios.

Ana Carine conta que muitas dessas mulheres chegam acanhadas, com muitas demandas familiares e em situação de vulnerabilidade e, graças às redes formadas, constroem sua autoestima como indivíduos e como empreendedoras. “Elas recebem diferentes capacitações, passam por todo um processo formativo e entendem que são senhoras de sua vida”. É um dos poderes do empreendedorismo feminino.

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