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Negócios agregam o valor da consciência socioambiental na Bahia

Baianas reaproveitam materiais e reformam produtos para recolocá-los no mercado

Publicado domingo, 26 de maio de 2024 às 08:00 h | Atualizado em 27/05/2024, 17:27 | Autor: Joana Oliveira
Marialba  reaproveita  tecidos para a fabricação de roupas e acessórios
Marialba reaproveita tecidos para a fabricação de roupas e acessórios -

Tirar o melhor proveito da utilização de recursos e minimizar o desperdício e o impacto ambiental do negócio. Esse é o preceito da economia circular, que, além do bônus de sustentabilidade, pode aumentar a geração de renda para micro e pequenos empreendedores. É o caso de Marialba Gomes, artesã baiana desde os sete anos, quando aprendeu a fazer crochê e tricô com a avó. Hoje, aos 71 anos, ela trabalha com reaproveitamento de materiais têxteis na fabricação de roupas e acessórios. “Não jogo um pedaço sequer de linha fora, reaproveito tudo, mesmo os menores pedaços e, a partir deles, crio um novo tecido”, conta orgulhosa.

Apoiada pelo Sebrae, Marialba aderiu ao modo de produção mais sustentável há cinco anos e, desde então, reduziu em 90% a necessidade de compra de tecidos. “Uso só para fazer os forros das bolsas. Com isso, consigo até lucrar mais”, diz.

Não há números oficiais sobre o mercado da economia circular no estado, mas seu potencial foi destacado quando Salvador recebeu, em novembro do ano passado, o Fórum Nordeste de Economia Circular (FNEC), primeiro fórum de Economia Circular do Brasil. Durante três dias, o evento promoveu encontros, painéis e conexões entre os empreendedores desse setor.

“Em rodadas de negócio como essa, é possível movimentar até R$ 2 milhões em dois dias”, afirma Tatiana Martins, coordenadora de artesanato do Sebrae Bahia e especialista em economia circular. Ela e Marialba destacam o valor agregado das peças. “Os consumidores compram um produto único, porque eu nunca faço a mesma peça duas vezes. E, além de tudo, é um produto com consciência socioambiental”, diz a artesã.

Além de reaproveitar os resíduos de seus próprios materiais, Marialba participa do Trocaí, um grupo de artesãos baianos que reaproveitam sobras dos colegas que trabalham com diferentes insumos. “Trocamos, doamos ou vendemos por um preço mais acessível dentro dessa comunidade. Temos um colega tecelão, por exemplo, que distribui entre nós as suas sobras de linhas. Não descartamos nada, tudo se reaproveita”.

Além do artesanato

Com uma forte indústria criativa, é comum que se associe a economia circular na Bahia às artes, moda ou artesanato. Trata-se, no entanto, de um mercado muito mais amplo. É o que mostra o exemplo de Sabrina Oliveira, de 29 anos. Ela, que nunca teve pretensão de ser empreendedora, decidiu abrir seu próprio negócio há três anos e já o transformou na maior oficina de fitness do Nordeste, que hoje conta com 10 funcionários.

“Durante a pandemia de Covid-19, enquanto muitos setores ficaram estagnados, o setor de fitness cresceu muito. As pessoas ficavam em casa, ociosas, e queriam trabalhar a saúde física para aumentar a imunidade”, lembra Sabrina que, todos os dias, vendia e locava diversos aparelhos na loja em que trabalhava. Quando foi demitida, virou concorrente do ex-chefe. Antigos clientes a procuraram e a incentivaram a abrir a Start Life, um negócio de venda e locação de diversos aparelhos de atividade física, desde esteiras de corrida a cadeiras ergométricas.

Um dos carros chefes do negócio é a venda de equipamentos usados online, por meio de um perfil na OLX. “Cada aparelho passa por uma avaliação. Quando chega em nossa oficina, a gente reforma, troca as peças desgastadas, coloca pra funcionar, caso não esteja funcionando, e depois anunciamos para vender ou locamos para condomínios”, conta a empreendedora. “Procuramos dar vida ao produto a fim de evitar o descarte e manter a utilidade do equipamento. Assim, vendemos o item usado a um preço mais acessível para clientes que desejam comprar o equipamento, mas que não podem investir no valor do novo”, acrescenta. Enquanto uma esteira de corrida profissional custa, em média, R$ 25 mil, uma usada pode ser vendida por R$ 10 mil. “É uma alternativa para os locais que não podem ou não querem investir em aparelhos novos”.

A baiana reforça o valor do seu negócio para o meio ambiente e os benefícios da economia circular. “Tratamos o equipamento, recolocamos no mercado e evitamos o descarte, diminuindo a geração de lixo. Ajudamos, assim, a girar a economia, atender às necessidades dos nossos clientes e minimizar o impacto na natureza”.

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