ECONOMIA
Número de investidores no Tesouro Direto cresce 72% em um ano
Mercado de títulos públicos torna-se uma das principais apostas do brasileiro no momento de investir
Por Fábio Bittencourt
Operando de forma consolidada 20 anos depois de criado, o mercado de títulos públicos tornou-se uma das principais apostas na hora de investir dos brasileiros. Com destaque para a segurança da transação, transparência, e a democratização do acesso, ao permitir aporte inicial a partir de R$ 30.
Em abril, o número de investidores ativos no Tesouro Direto, com saldo em aplicações no programa, atingiu a marca de 1,9 milhão, aumento de 34,3 mil no mês. Já o total de cadastrados na plataforma registou alta de 72,8% em relação a abril de 2021, chegando a 18,3 milhões de compradores.
Aplicações de até R$ 1 mil representaram 61,2% das operações realizadas no mês. O valor médio por transação foi de R$ 6,3 mil, e o título mais procurado entre os investidores foi o indexado à taxa Selic (Tesouro Selic), que somou R$ 1,8 bilhão em vendas, e correspondeu a 58,6% do total.
Representante da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), a economista Juliana Barbosa explica que o Tesouro Direto é um programa da Secretaria do Tesouro Nacional criado em parceria com a Bolsa de Valores Brasileira, para a venda de títulos públicos federais a pessoas físicas.
São três modalidades de investimento. O Tesouro Selic, mais conhecido e atrelado à taxa básica de juros da economia. O Tesouro Pré-fixado, ou seja, com a taxa de juros já estabelecida. E o Tesouro IPCA, com rentabilidade igual à inflação mais taxa de juros pré-fixada.
Sócia na empresa Cifrão Educação Financeira, Juliana fala que o Tesouro Selic é ideal para quem quer começar a investir no Tesouro, e/ou aplicar o dinheiro da reserva financeira. “É um investimento atrelado à Selic. Se a taxa aumenta, a rentabilidade do tesouro aumenta, se diminui, a rentabilidade cai também”, diz.
Ainda segundo ela, o Tesouro Direto é um tipo de investimento em renda fixa, “mas não quer dizer que os preços e taxas não sofram variações ao longo do tempo. Por isso a importância de conhecer o produto e entender as regras de cada tipo de tesouro. Saber o perfil de investidor no momento de contratar o título também é muito importante”, afirma.
Com relação à cobrança de taxas, Juliana diz que existem duas. A primeira é a de custodia cobrada pela Bolsa, de 0,2% ao ano, mas que investimentos de até R$ 10 mil são isentos. E a outra tarifa é a cobrada pela instituição financeira, mas que ela pode ser acordada entre as partes. Há corretoras que não a cobram. Juliana conxtetualiza ainda o crescimento “considerável” da plataforma no último ano até abril.
Culpa da Selic
“Muito em virtude do aumento rápido da taxa básica de juros da economia. O ano passado começou com a Selic em queda, ainda como reflexo da pandemia e como forma de baratear o crédito e aquecer a economia. Em agosto de 2021, tivemos a menor taxa Selic da história, que foi 2% ao ano. De lá para cá, a taxa só tem aumentado como forma de conter a inflação em alta. E esses aumentos consecutivos aqueceram a modalidade de investimentos em renda fixa, que acompanham a Selic”.
Planejador financeiro pessoal, o professor de economia Edval Landulfo destaca, contudo, que o país voltou a ser o maior pagador de juros do mundo, algo em torno de 9% do PIB (Produto Interno Bruto). Ele explica que, ao lado da arrecadação por meio de impostos, a venda de títulos é a outra forma do governo fazer caixa.
Landulfo aponta, porém, que a hegemonia de um viés financeiro sobre a industrial e produtiva, por exemplo, tem um custo elevado.
“É uma espécie de consignado do governo, uma espiral na qual ele toma emprestado para pagar juros lá na frente, o que pode ser um tiro no pé. Empaca a economia, deixa de promover investimento em parcerias público-privada, no setor industrial, e fica arrolando dívida. Para quem investe é bom e muito seguro”, fala.
Doutorando pela Universidade de Brasília (UnB), o economista mestre em desenvolvimento regional e urbano, Lucas Spínola, lembra que taxas de juros vêm subindo ao redor do mundo, como aconteceu nos Estados Unidos há uma semana, como tentativa de conter o crescimento inflacionário.
“Vários fatores contribuem com isto, a exemplo da guerra que se arrasta há algum tempo na Ucrânia. Há quem defenda que o nível de inflação é quem dita os juros. Mas a inflação pode ser decorrente de diferentes causas, e para cada uma delas há um remédio diferente”, afirma Spínola.
“A alta na Selic de fato torna mais atrativo o rentismo (investimento em plicações financeiras), e faz com que o investidor exija uma expectativa de remuneração maior para colocar o seu dinheiro em risco na cadeia produtiva. Uma das máximas em finanças é: quanto maior o risco, maior o retorno esperado”, diz.
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