NO APERTO
Páscoa: produtos da ceia ficam mais caros; chocolate aumenta 12%
Economista indica alta de 86% em itens como o bacalhau e traz dicas de como economizar na Semana Santa
Por Felipe Sena
Os consumidores que quiserem manter a Ceia da Semana Santa e economizar terão que driblar a alta de preço dos produtos da Páscoa, principalmente do chocolate e dos pescados. A inflação dos principais produtos e ingredientes relacionados à Páscoa subiu 12,21% em um ano. Isso representa quase o dobro da inflação geral da região metropolitana de Salvador, de 6,51%, segundo estudo da Fecomércio-BA, que tem como base dados do IBGE.
Neste cenário, o economista e professor de Economia da UniFTC, Isaias Matos, aponta para o desafio gerado pelo patamar da inflação. Nos últimos 12 meses, o chocolate teve aumento de 12%, conforme inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O percentual está acima da inflação dos alimentos e do índice geral de 4,5%.
Segundo o economista, o momento de alta é causado, em primeiro lugar, pela elevação no preço dos principais insumos para produção do chocolate, como o leite e o açúcar. Além disso, Matos indica fatores como a Guerra na Ucrânia, que elevou o preço dos fertilizantes para a cultivação de matéria-prima necessária para a produção do chocolate.
"A alta de preços decorre em função dos valores cobrados pelos fornecedores, que estão mais elevados, em função das condições conjunturais, como os impactos gerados pela Guerra da Ucrânia, gerando um aumento da inflação em vários países", explica o economista.
Impactos
Ana Flávia Correia, 26, é confeiteira desde 2014 e diz que percebeu diferença no preço dos produtos ligados ao chocolate. “O aumento de todos os insumos, não só dos chocolates, foi notório. Como a confeiteira tem a maior parte dos itens derivados do leite, quando uma coisa aumenta [por causa do aumento do produto de base], é quase certeza que todos os demais aumentarão”, diz. Além disso, ela afirma que houve a elevação de R$10 para R$15 no preço do quilo do chocolate em barra, na comparação entre este ano com o de 2022. O insumo é usado para a produção da casca do ovo de páscoa.
O bacalhau, um dos carros-chefe da ceia na festividade, também sofreu uma alta de preço acentuada. De acordo com o economista Isaias Matos, em dólar, desde 2016, o pescado aumentou 86%, o que é decorrente dos valores cobrados pelos fornecedores estrangeiros. Ele diz que a procura por um dos principais pescados para produção de pratos na ceia, junto ao chocolate, caiu 32,7%, comparado com a Páscoa de 2022, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior.
O chefe de cozinha Cadu Moura, 30, diz perceber que o aumento de preço dos pescados está atrelado à sua alta procura na Páscoa. “Por conta da Semana Santa, os produtos da época tendem a serem ainda mais valorizados, então, os pequenos produtores e vendedores, elevam o valor, já que tem uma procura muito grande. Quanto mais o produto é procurado, mais tem escassez e valorização na Semana Santa, em que os pescados estão em evidência”, afirma.
Em média, o preço do Bacalhau desfiado passou de R$66,26 em 2022 para R$94,00 em 2023 (variação: 41,9%); o Camarão 7 barbas, de R$54,17 para 60,58 (11,18%); a Merluza filé, de R$43,53 para R$58,21 (33,7%); a Panga, de R$27,37 para R$34,77 (33,7%); a Tilápia filé, de R$39,86 para R$46,92 (17,7%); a Sardinha fresca, de R$13,97 para R$16,21 (16,0%); a Sardinha salgada, de R$33,52 para R$38,24 (14,1%).
Alternativas
Esse ano a Páscoa vai ser marcada novamente pela alta de preços de produtos presentes em pratos como a moqueca de pescados, salada de bacalhau e chocolate. O jeito é tentar economizar de acordo com a possibilidade de cada família. O professor Isaias Matos dá umas dicas para quem não abre mão da ceia, mas está no aperto. “Quem não quer comprometer o orçamento pode definir um valor para gastos na Páscoa. Primeiro, definir um valor dentro da sua realidade financeira e depois dividir pela quantidade de pessoas que vai presentear e ter disciplina na hora certa”.
“Aproveite a Internet para se informar do preço médio dos produtos que deseja, busque opções em conta e considere ainda outras alternativas de doces e lembrancinhas”, sugere. Quanto ao ovo de páscoa, Matos lembra das opções caseiras. “Marcas famosas podem ter um preço bem mais salgado que tem algumas opções artesanais. Uma alternativa é comprar uma produção caseira”.
Já o pescado, que não pode faltar no prato principal da ceia, pode ser reelaborado. “Por ser uma parte nobre, o lombo do bacalhau tem um valor muito mais elevado que as outras partes. É possível adaptar de acordo com a realidade de cada um. Se não cabe no orçamento comprar um lombo de bacalhau, mas quer ter o bacalhau na mesa, pode pensar em preparações que o utilizam como elemento secundário. Uma bacalhoada de forno, uma salada de bacalhau, uma massa de forno com bacalhau ou um reggaeton gratinado de bacalhau”, diz o chef de cozinha Cadu Moura.
Além do Bacalhau, o chef dá dicas para produção de pratos com pescados típicos da Bahia. “Pode-se observar o que é possível conseguir de mais fresco, como siri, aratu, camarão e frutos do mar e adaptar uma receita. Supondo que a pessoa queira fazer uma salada de bacalhau, mas o bacalhau esteja caro, pode ser usado o siri e o aratu catado para fazer uma ‘bacalhoada’ de forno, colocar umas batatas, se estiver com um preço bom ou outros elementos, para crescer a receita principal, sem deixar de utilizar o pescado”.
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