ECONOMIA
Práticas sustentáveis abrem as portas do mercado para empresas baianas
Fieb realiza a 15ª edição de premiação que incentiva e reconhece ações de ESG na indústria do estado
Por Joana Lopes

Em uma comunidade quilombola de Esplanada, o destino dos jovens era certo: depois de terminado o ensino médio, sem oportunidades de emprego na região, eles pegavam a estrada rumo a cidades maiores. Cansadas de testemunhar esse êxodo, as lideranças locais decidiram apostar na apicultura como alternativa de renda
“Em 2020, compramos uma caixa de abelhas, uma colmeia, mas tínhamos poucos recursos e nenhum suporte técnico. Apesar disso, a população se interessou”, conta Janete Neves, apicultora e presidente da Associação dos Jovens Remanescentes Quilombolas da Bahia (Ajarquiba).
No mesmo ano, a comunidade passou a integrar o projeto Polinizadores, da Bracell, que oferece oficinas, assistências técnicas e cessão de áreas nativas para pasto apícola em comunidades rurais, tradicionais e quilombolas da região. “Aí, tudo mudou. Hoje, temos 300 caixas de abelhas e 12 apiários. Em 2024, produzimos duas toneladas de mel”, celebra Janete.
O projeto venceu o prêmio de Práticas de Gestão Sustentável e Responsabilidade Socioambiental da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) em 2023. Este ano, a entidade realiza a 15ª edição do prêmio, que já está com inscrições abertas, e serve como instrumento de sensibilização e incentivo para que as indústrias adotem práticas sustentáveis de forma integrada.
“Há 30 anos nesse mercado, vejo que a indústria evoluiu muito na atenção às ações de ESG. O Prêmio Indústria Baiana Sustentável não só destaca as melhores práticas, como também divulga todos os projetos inscritos para que eles possam servir de inspiração para outras empresas”, diz Arlinda Negreiros, gerente de Meio Ambiente e Responsabilidade Social da Fieb.
No caso do Polinizadores, a iniciativa deu tão certo que, no ano passado, a Bracell iniciou formações e assistências em meliponicultura, com foco em mulheres, nas comunidades participantes. “Somente em 2024, as atividades do projeto alcançaram 1277 pessoas de 13 municípios baianos, com uma média de 551,5 quilos de mel por apicultor”, conta Cintia Liberato de Mattos, gerente de Comunicação, Relações Institucionais e Responsabilidade Social da empresa.
“É um trabalho lento, mas que tem dado resultado. Hoje vendemos, além do mel, outros 25 produtos derivados dele, como o hidromel”, acrescenta Janete. A qualidade é tamanha que, enquanto em outras comunidades o quilo do mel é vendido a R$ 20, o da Ajarquiba vale R$ 60.
Micro e pequenas
Arlinda Negreiros comenta que, nas médias e grandes empresas, a sustentabilidade já faz parte da estratégia. O desafio é convencer os micros e pequenos negócios de que as práticas sustentáveis são adaptáveis à sua realidade e podem abrir portas no mercado. “Uma grande empresa pode estabelecer, por exemplo, que só contratará fornecedores com boas práticas verdes. Essa decisão mobiliza um alinhamento em cadeia”, explica a gerente da Fieb. Ela aponta que micro e pequenas empresas podem investir em transição energética, com a adoção de painéis solares, e na reciclagem e reaproveitamento de materiais.
É o que faz a Realce Industrialização, que foi reconhecida na última edição do prêmio Indústria Baiana Sustentável por produzir artefatos plásticos 100% sustentável para construção civil com zero emissão de carbono. “Coletamos resíduos plásticos da população de Conceição do Jacuípe e de outros 20 municípios, por meio de cooperativas parceiras. Os materiais mais comuns são as garrafas PET, mas há também todo tipo de embalagens, como de xampu, de detergente ou sabonete”, conta Tiago da Costa, sócio-diretor da Realce.
Seu projeto é um exemplo de que a sustentabilidade tem viabilidade econômica. Há mais de 20 anos, a empresa produz uma mangueira que é totalmente feita de materiais reaproveitados e que é 100% reciclável. O sistema de energia da fábrica é proveniente de placas solares e a água é de captação da chuva, sendo reaproveitada nos processos. Costa diz que a consciência ambiental sempre fez parte da sua empresa. E a torcida é para que ela esteja cada vez mais presente em todas as outras.
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