MOBILIDADE
Uso do ar-condicionado pode encarecer tarifa de corrida por aplicativo
Cooperativa dos motoristas por app diz que baixo preço das corridas torna inviável uso de refrigeração
Com os recordes de temperatura que se tornaram uma constante no país neste verão, a discussão sobre a obrigatoriedade do uso do ar-condicionado em viagens por aplicativo ganhou força. O caso da passageira que mordeu um motorista por ter se recusado a ligar o aparelho refrigerador, no bairro de Armação, no dia 15 deste mês, e o caso da advogada no Rio de Janeiro que foi cobrada pelo uso do ar em uma viagem da Uber, no fim do ano passado, intensificaram ainda mais a discussão que tem movido plataformas, cooperativa, motoristas e passageiros.
Segundo a política da Uber, o ar-condicionado é um requisito necessário para que o carro possa ser cadastrado na plataforma. Não há no código da empresa nenhuma limitação com relação ao uso do aparelho em diferentes modalidades de viagem. O presidente da Cooperativa mista de motoristas e mototaxistas por aplicativos do Estado da Bahia (Coopmmap), Vinicius Passos - mais conhecido como Vick Passos -, explica que os motoristas não cobram pelo uso do aparelho, mas que não considera justo a obrigatoriedade de ter que usar o ar nas modalidades mais baratas dos aplicativos.
Categoria X
“Nós não cobramos pelo ar-condicionado, mas não sentimos que temos a obrigatoriedade de ligar na categoria X (da Uber) devido a depreciação da tarifa. A tarifa que é aplicada hoje é mais barata do que em 2016. Só as categorias Comfort e Black que dá para colocarmos o ar-condicionado”. A cooperativa ressalta que o dispositivo acaba onerando a categoria em cerca de 20% a 30%. “É por isso que essa tarifa muito baixa não dá condição nenhuma de trabalho para o motorista daqui da Bahia”, afirma Vick.
Quem sente isso na pele é o uber Flávio Luis de Almeida. Ele conta que antes revezava o uso do ar-condicionado em suas viagens, mas a garantia do uso do aparelho era para as modalidades mais caras da plataforma - como Uber Comfort e Uber Black. “Agora estou sendo obrigado a ligar o ar em todas as viagens para não ser reportado para empresa e mais tarde bloqueado. Hoje eu vivo disso, é uma ferramenta que dependo pra trabalhar. Estou tendo que ganhar pouco para não ser bloqueado”.
Diante de tantas discussões sobre o assunto, os passageiros passaram a requisitar ainda mais o ar-condicionado durante as viagens e as modalidades mais caras da plataforma, que ajudavam a fechar essa conta, passaram a ser menos buscadas, conforme Flávio. Sua explicação é de que os passageiros sabem que podem requisitar o ar-condicionado nas modalidades mais baratas. “Se a Uber ela botasse uma tarifa melhor, acho que todo mundo usaria o ar. O que a gente quer é que todo mundo use mesmo, mas tem que ter um valor mais justo, né velho? Às vezes eu mesmo dirijo sozinho no calor, porque se não a conta não fecha, não compensa”.
A servidora pública Hortência de Carvalho, de Minas Gerais, que veio turistar em Salvador, comenta que não foi cobrada pelo uso do ar-condicionado nenhuma vez na capital baiana, mas também diz que aparelhos só costumam estar ligados metade das vezes. O posicionamento da servidora é de que não gostaria de pagar uma taxa extra pela refrigeração. “Taxa extra não. O ar tem que estar no pacote, mas não compro briga por isso. Quando a viagem é curta prefiro tolerar para não ter esse tipo de desgaste com o motorista, de criar uma conversa que pode não ser agradável sem necessidade”, afirma.
A solução do presidente da Coopmap para toda essa questão é que as plataformas façam um ajuste tarifário de forma urgente. “A primeira coisa é que as plataformas não tenham essa taxa exorbitante como é hoje, de que elas podem cobrar de 10% a 60% do valor da corrida. Ela tem que ter uma taxa fixa. Mas o que elas têm que fazer de verdade é um ajuste tarifário, porque nossas tarifas não são reajustadas desde 2016”.
De acordo com Vick não houve incidente de cobrança de motorista pelo uso do ar-condicionado. A cobrança de qualquer valor adicional dos passageiros é proibida pelas diretrizes da Uber. Qualquer valor extra cobrado por fora da plataforma é uma violação às regras de segurança da empresa e pode levar à desativação da conta do motorista envolvida.
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