EDUCAÇÃO
Brasil precisa acabar com preconceito contra educação profissional, aponta economista
Por Rodrigo Aguiar

O Brasil precisa acabar com o "preconceito escravocrata" contra a educação profissional, um dos pilares do novo Ensino Médio, para estabelecer um modelo de maior equidade, aponta o economista Rafael Lucchesi, diretor geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e diretor superintendente do Serviço Social da Indústria (Sesi).
Convidado do ciclo de debates do Núcleo de Educação e Cultura da Associação Comercial da Bahia (ACB), Lucchesi destaca a oportunidade de ingresso mais rápido dos jovens no mercado de trabalho por meio da educação profissional. "Temos que acabar com o preconceito escravocrata contra a educação técnica. Muita gente que se diz progressista reproduz isso", afirma.
"A gente não pode dizer que essa é uma educação de adestramento. Nem na segunda revolução industrial isso era real. Não vamos ter uma visão preconceituosa em relação a isso. Aprender com a experiência, a resolução de problemas, é sair de uma escola que é memorizar e reproduzir, que foi a educação que eu tive", diz o economista, também diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Também participaram da transmissão o presidente da ACB, Mário Dantas, o vice-presidente da entidade, Paulo Cavalcanti, e o coordenador do Núcleo de Educação, Ney Campello.
Conforme Lucchesi, uma pesquisa recente aponta que 61% dos estudantes do novo Ensino Médio avalia o modelo de forma positiva e 84% dos estudantes têm interesse na educação profissional.
Ainda segundo o economista, há no país um "divórcio" entre educação e desenvolvimento econômico, com especialistas de uma área com pouco conhecimento na outra.
Ao comentar a quarta revolução industrial, Lucchesi aponta a complementaridade entre as novas tecnologias e destaca a grande transformação no mundo do emprego. "A mídia erra ao dizer que é o fim do emprego, é uma tolice sem igual. Haverá grande transformação, com necessidade de qualificação e requalificação. A parte criativa, interpretativa vai gerar muito emprego. Mas nos países que estão investindo. Nós estamos ficando para trás", diz. Há estimativa de que 75 milhões de empregos sejam eliminados, mas em contrapartida até 133 milhões podem ser gerados.
Em meio a uma corrida industrial no mundo, acrescenta o diretor da CNI, há no país um "discurso anti-industrial anacrônico". "O Brasil tem um agronegócio fantástico, mas que não paga imposto nem gera empregos. Não tem nenhum país, ainda mais com 200 milhões de habitantes, com possibilidade de existir no futuro sem indústria", diz.
Além disso, o Brasil é o único país, defende o economista, que fez uma revolução industrial sem uma revolução educacional. "Quando ouço alguém falar que a educação era boa nos anos 60 ou 70, não posso concordar. O sistema não era abrangente. Não universalizamos a educação", avalia. "O nosso sistema educacional é muito recente. As políticas universais nascem com a Constituição. E temos um sistema ainda muito academicista", complementa.
Para Cavalcanti, é preciso haver maior envolvimento dos empresários na discussão. "Se não conscientizarmos a classe empresarial do país para que se doem mais, invistam e façam um projeto de lei que permita que a gente contribua com a capacidade de gerir a educação pública, nós vamos ficar escravos [...] Hoje a gente sente falta de pessoas para sistema. Tudo é sistema. Mas cadê as pessoas sendo preparadas?", questiona. Ele destaca ainda o abandono da escola pública, ao lembrar que não estudam lá os filhos das autoridades educacionais.
"A gente ainda tem um abismo entre as oportunidades de trabalho e a capacitação profissional. Você procura uma pessoa na área de TI e é um caos. A formação de nível médio é algo que a gente precisa trabalhar mais forte, para termos mão de obra mais preparada. Temos uma série de profissionais de nível superior sem conseguir exercer a profissão para a qual se prepararam, enquanto há um horizonte de cargos e oportunidades que não conseguimos preencher", afirma Dantas.
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