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EDUCAÇÃO

Família e escola devem se alinhar em casos de violência estudantil

Especialistas apontam que aluno agressor deve ser cuidado e cada caso deve ser tratado de forma individual

Por Matheus Calmon

16/11/2022 - 6:00 h | Atualizada em 16/11/2022 - 18:23
Por todo o Brasil foi registrada escalada da violência nas unidades de ensino
Por todo o Brasil foi registrada escalada da violência nas unidades de ensino -

Um estudante de colégio particular de Salvador foi hospitalizado depois de ser espancado por um colega. Em outra instituição, um aluno deu vários tapas no rosto do colega na frente de vários outros estudantes. Na mesma cidade, alunos filmaram uma briga generalizada, iniciada por um 'corredor' entre dois grupos.

Por todo o Brasil, foi registrada uma escalada da violência nas unidades de ensino e este aumento foi reparado por 80% dos 5,3 mil professores ouvidos por pesquisa realizada pela organização de impacto social Nova Escola, em julho deste ano.

Diante do cenário, surge a questão: o que explica estes comportamentos agressivos entre os discentes? Para a psicóloga do Colégio Bernoulli, Maria Fernanda, o comportamento agressivo na escola é multideterminado e pode representar idiossincrasias - características comportamentais inerentes a um grupo oou indivíduo, ou seja, oriundas do meio social onde ela vive.

A psicóloga Maria Fernanda afirma que o comportamento agressivo na escola pode representar idiossincrasias oriundas do meio social onde a criança vive
A psicóloga Maria Fernanda afirma que o comportamento agressivo na escola pode representar idiossincrasias oriundas do meio social onde a criança vive | Foto: Arquivo pessoal

"Muitas vezes pode ser um comportamento aprendido de forma deliberada ou inconsciente pela criança através dos modelos referenciais. A neurociência hoje mostra que a violência pode vir como resposta ao trauma, principalmente do cérebro em formação".

Psicólogo do Colégio Módulo, João Sarno pontua que a violência sempre é algo multideterminado, assim como todo fenômeno humano. "Dificilmente um único fator vai explicar, então pode ter a ver com questões de temperamento, histórico familiar, convivência, algum aprendizado, alguma tendência, sempre vai ter múltiplos determinantes".

Ele pontua que, no contexto escolar, esse comportamento demonstraria maneira inadequada de lidar com algumas situações. "A violência, muitas vezes, é uma resposta primitiva ao não saber lidar com a frustração. A necessidade de se impor com a necessidade de demarcar sua posição e não deixar o outro tomar. A violência é um componente humano, e também dos animais".

Ele considera que a violência remete a dois caminhos. "A violência enquanto cópia e a violência enquanto reação. Tem pessoas que vivem em ambientes muito agressivos e a criança pode ser como uma esponja: vê, absorve e copia".

Comportamentos agressivos, além de outras reações comportamentais, demonstram, segundo João, que algo desencadeou tal ação, o que pode ter sido uma reação a alguma brincadeira ou comentário não bem recebidos.

O psicólogo João Sarno pontua que a violência sempre é algo multideterminado
O psicólogo João Sarno pontua que a violência sempre é algo multideterminado | Foto: Arquivo pessoal

"E aí a Terapia Dialética Comportamental, que é uma linha da psicologia contemporânea baseada em evidências, fala sobre a importância de, nessas situações, validar as emoções, mas não o comportamento. O comportamento violento não pode ser validado, mas as emoções, sim, para que ela encontre alguma maneira saudável de expressar diferente da agressividade", afirma o psicólogo.

A pandemia e o aumento da agressividade escolar

O retorno ao ensino presencial, após o isolamento social causado pela pandemia, foi marcado também por um aumento de casos de agressividade nas escolas, segundo os professores ouvidos pela Nova Escola.

Entre os docentes participantes, quase 98% consideraram que o aumento da agressividade atrapalha o aprendizado. Maria Fernanda pontua que experiências são imprescindíveis para o ser humano e, durante o isolamento, alunos foram privados de muitas delas, o que causou frustração entre eles.

"Eles voltam para a vida social completamente demandante, cheios de ansiedade, dúvidas e conflitos inerentes à adolescência. Eu acompanhei muitos que diziam 'poxa eu não vou ter a minha formatura', 'poxa era pra eu estar saindo pra festa', 'poxa os meus dezoito anos não pude fazer'. Então as expectativas foram frustradas por essas experiências não-vivenciadas e experiências são fundantes para o aprendizado humano", afirmou.

O psicólogo João pontuou que o período afetou na capacidade de relação interpessoal das crianças. Ele ainda ressalta que, como orientador de alunos, entende que o retorno às aulas presenciais causou uma ansiedade e misto de sentimentos entre os estudantes.

"Eles conviveram com colegas virtualmente. Encontraram de vez em quando em formato híbrido, quando tinha menos pessoas em sala de aula. Eles continuaram aprendendo. Mas eles estão com o socioemocional com algumas lacunas e algumas questões que não são culpa deles, têm a ver com esse período".

Imagem ilustrativa da imagem Família e escola devem se alinhar em casos de violência estudantil
| Foto: Maxim Hopman | Unsplash

Integração Família - Escola

Além de considerar as ações necessárias pela escola como agente educador, é necessário pensar a família na mesma posição. A integração entre ambas instituições é imprescindível, tendo em vista o papel predominante da família, como analisa a psicóloga Maria Fernanda.

"É na família que eles vão adquirir os primeiros valores, as referências, e a partir daí que eles vão calcar o desenvolvimento deles e as configurações emocionais. Então, a família tem papel primordial nessa reorientação em casos de violência", destacou Fernanda.

Corroborando com o pensamento, João afirma que escola e família precisam estar alinhadas. "Eu uso muito esse termo falando com as famílias porque, por exemplo, acho que uma das coisas que mais faz mal à cabeça de uma criança ou adolescente é a ambigüidade".

Professores preparados?

Personagem com grandes chances de presenciar casos de violência na escola, o professor pode se deparar com algumas situações. Entretanto, pode não estar pronto para enfrentar. Segundo uma professora que já passou pelas redes estadual, municipal e particular, em nenhum momento o professor é orientado sobre o que fazer, o que inclui a formação universitária.

"A gente tem que trabalhar de maneira intuitiva. É como se tivéssemos que saber o que fazer. Minha postura é pedir que parem e se afastem, mas em nenhum momento eu entro no meio da briga para afastar os alunos. Alguns colegas se interferiram e acabaram se machucando", conta a professora, que está na área há cerca de 20 anos.

Segundo ela, quando os envolvidos acalmam os ânimos, são encaminhados à direção ou coordenação, caso haja. Como professora, ela considera que a escola deve atuar na prevenção.

Entretanto, segundo ela, as instituições abordam o assunto apenas após um caso. "A melhor maneira, de fato, é a prevenção. Em primeiro lugar, orientar antes que ocorra, dizer que agressões físicas não levam à soluções, pelo contrário. Mas dificilmente isso é falado nas escolas, geralmente é quando acontece que passam em outras salas falando sobre o assunto".

Ela sugere que o tema seja abordado no acolhimento inicial do ano letivo, no mesmo momento em que são passadas informações quanto a horários e regras, por exemplo. "Tanto as orientações de que não é aceito na instituição e as conseqüências que isso pode vir a ter". A profissional ressalta, no entanto, que todo aluno agressivo, caso bem cuidado, pode se tornar em um humano melhor para si e para a sociedade.

Os psicólogos Maria Fernanda e João Sarno, dos colégios Bernoulli e Módulo, respectivamente, pontuam que as instituições em questão trabalham o tema com os alunos, não somente quando casos são registrados, mas também de forma preventiva, com atividades e estratégias educacionais.

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