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Número de alunos indígenas cresce no ensino superior da Bahia

Ministério da Educação, houve aumento no número de estudantes indígenas de 374% entre 2011 e 2021

Publicado quarta-feira, 19 de abril de 2023 às 00:15 h | Atualizado em 19/04/2023, 11:55 | Autor: Maurício Viana*
Mayume de Souza revela constrangimento quando se declarou indígena para o IBGE
Mayume de Souza revela constrangimento quando se declarou indígena para o IBGE -

Em um levantamento realizado pelo Instituto Semesp, centro de inteligência analítica criado pela entidade que representa as instituições de ensino superior no Brasil (Semesp), houve um aumento no número de estudantes indígenas de 374% entre os anos de 2011 e 2021. A informação foi divulgada nesta quarta-feira, 19, Dia dos Povos Indígenas. A Bahia também seguiu os passos do país na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e na Universidade do Estado da Bahia (Uneb).

Segundo dados da Uneb, houve um aumento de 30% no número de indígenas, enquanto a Ufba nota um aumento perceptivo dos alunos por causa dos programas de assistência estudantil. A Ufba implementou uma cota de vagas supranumerárias, além das direcionadas normalmente para os cursos, para os indígenas aldeados em 2004, no processo de início da política de cotas para negros, em que optou por acrescentar o grupo. 

“Por entender ser um perfil populacional à margem dos processos seletivos, a Ufba auxilia em um movimento maior de inserção. Por causa de um desenho histórico de familiares e parentes presentes na universidade, mais estudantes estão ingressando ultimamente”, comenta a coordenadora de Ações Afirmativas, Educação e Diversidade da Pró-reitoria de Assistência Estudantil (Proae), Juliana Marta.

Especificidade

A Proae tem grupos de pesquisas, dá acesso aos editais específicos e possui um atendimento direcionado para o público-alvo. Uma das bolsistas que faz o relacionamento com os estudantes indígenas, como um contato mais próximo da comunidade com a estrutura da universidade, é Vanessa Braz, da aldeia Pataxó e estudante do curso de farmácia.

Ao todo, 47 novos estudantes deste grupo foram classificados e ingressam no semestre 2023.1, além dos veteranos. Dos veteranos, 151 são acompanhados pela Proae, destes 120 recebem a bolsa permanência do MEC. “É uma conquista ver esse número aumentando. Tudo isso foi possível por causa das lideranças indígenas que pressionaram para abrir mais portas e a expectativa é de melhora”, finaliza.

Já na Uneb, 478 estudantes indígenas faziam parte do quadro da universidade nos 24 campi em 2022, um aumento de 30% comparado com os 369 de 2011. O historiador e professor da Uneb Francisco Guimarães, especialista em história indígena, percebe que o número maior está nos campi em cidades com maior população proporcional dos povos originários, como Teixeira de Freitas e Paulo Afonso.

Nas duas cidades, a Uneb tem dois cursos de licenciatura, intercultural em educação escolar indígena e pedagogia indígena, com vestibular regular próprio de 190 vagas e critério específico, criados em 2010. Os números não entram nos dados acima de ingressos via sistema de cotas. Os locais ainda têm dois centros de pesquisa sobre temas para 15 povos indígenas na Bahia, atendendo mais de 500 professores e 3 mil alunos.

Ele critica ainda a falta de políticas de permanência para os estudantes na Uneb como um Programa de Educação Tutorial Indígena, uma residência própria e bolsas de auxílio. Além disso, os indígenas ainda lutam contra os estereótipos. É o caso da estudante da Uneb de licenciatura em história do Campus de Salvador, Mayume de Souza, que conta ter sido coagida na entrevista para o IBGE quando se declarou indígena. 

“Percebi uma procura mais acentuada por vagas nas universidades. Acabamos de criar um núcleo indígena para poder formar um grupo de pesquisa. Isso é muito importante porque estamos mostrando que estamos aqui, independente de estarmos aldeados ou no contexto urbano”, finaliza.

O estudo do Instituto do Semesp também revelou que as áreas de educação, saúde e bem-estar concentram o maior número de estudantes descendentes de povos originários. Em 2021, havia pouco mais de 46 mil alunos que se consideravam indígenas, o que representava apenas 0,5% do total de alunos no ensino superior. 

Os cursos com mais estudantes indígenas matriculados são medicina, enfermagem, direito, ciências biológicas, farmácia, nutrição e psicologia. 

*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira

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